A crônica, como a provar a inexistência de limites para a sua classificação,
envereda com amplitude e liberdade pelo terreno da descrição, da
narração, da reflexão ou do episódio cotidiano. Essa
modalidade jornalístico-literária ou lítero-jornalística,
que fez a glória de Baudelaire a Álvaro Moreyra e Rubem Braga, é
uma forma contemporânea de filosofar através do devaneio, (essa instância
deliciosa e sonsa) do qual a crônica se aproveita para ser profunda a fingir
que é irrelevante...
Abandona os grandes assuntos e aprofunda a relação do artista escritor
com os fatos de aparência corriqueira, descobrindo-lhes a graça,
a poesia, o inusitado, o valoroso. A analogia, aqui, pode ser feita com o movimento
impressionista na pintura quando desobrigou-se dos temas grandiosos para fixar-se
em flagrantes expressivos da densidade poética assumida pela relação
entre a luz, os objetos e as pessoas, segundo o acaso. Para tal concepção
não importa propriamente a vista mas a visão do artista.
Sua narrativa torna-se, por isso mesmo, próxima a desenvolvimentos relacionados
com a prosa poética, o texto curto, a poesia em prosa, a crônica
pura e simples, o pequeno conto ou a narrativa fatual despretensiosa. Em suma,
modalidades várias, um não limite. A crônica não é
crônica: é aguda...
Literatura jornalística ou jornalismo literário, é gênero
de difícil classificação mas real e presente tanto na história
da literatura quanto na da imprensa. Não tem prestígio: tem leitores.
A dificuldade de sua elaboração está na razão inversa
da facilidade de sua leitura. Daí a sutileza de seu império: ser
serva. Servir. Vir a ser. Vir. Ver. Virver.
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