A Garganta da Serpente
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Epílogo:
Os personagens voltam para casa

(Luiz Morvan Grafulha Corrêa)

Na manhã seguinte, bem cedinho, o capataz tirou a chimbica do galpão... Limpou o banco, onde a carijó teimava por botar seus ovos e fazer o choco. Deu uma baldeada de água no capô do motor, onde os tico-ticos tinham o hábito de... De... De dar suas cagadas...

Enquanto fazia isso, Esopo e La Fontaine, que tinham trazido as suas respectivas tralhas para a varanda, se despediam do deputado e da esposa, que ficaram, na varanda da casa-grande, a acenar com lenços brancos até que desaparecessem na curva da estrada que levava ao Basílio.

Como da ida ao Herval, o gaudério vinha ao volante. Esopo trocara de lugar com monsieur e ia junto à porta do acompanhante. Claro que madame ia escarrapachada no seu colo, aproveitando os solavancos, como fizera com o francês.

No Basílio, o povo fez presença, desde a entrada da cidade até a estação ferroviária, acenando bandeiras para despedir-se daquelas personalidades lendárias e fabulistas fabulosos.

O subintendente aproveitou para entregar-lhes as chaves da cidade e o certificado que lhes fora concedido, pela câmara de vereadores da sede, de eméritos cidadãos da freguesia do Herval.

A retreta da Airosa viera, a pedido do padre Libório, e tocava, alternadamente, la Marselhese e o hino da Grécia, que havia praticado à exaustão naqueles quinze dias.

Quando a locomotiva Diesel chegou, vinda de Bagé, lá no Desvio, distante ainda duas léguas e pico da vila, abriu o apito, que veio sibilando até chegar ao Basílio, precedendo a composição que logo atrás dele entrou resfolegante na parada.

Era a hora da partida.

O chefe de trem desceu a banqueta, naquela oportunidade, especialmente forrada de veludo vermelho, para que os viajantes pudessem alçar-se desde a plataforma.

A multidão de fãs e de curiosos ficou atrás da fita verde e amarela que o destacamento da Gloriosa esticara, para evitar aglomeros nos últimos momentos.

A viúva abraçou e beijou ao grego. Beijou e abraçou ao francês.

O gaudério entregou a cada um, de surpresa, uma cuia e uma bomba para que, em suas terras, pudessem sorver o amargo que haviam aprendido a apreciar nos pagos. Junto com elas, fardos e mais fardos da boa erva que recebia de Venâncio Aires.

Embarcada a bagagem, agradeceu aos dois fabulistas pela presença. Renovou os protestos de estima e de consideração. Colocou a casa às suas ordens, com tudo que havia dentro, exceto a viúva. Prometeu que escreveria, mandando lembranças. Que enviaria, a cada um dos estrangeiros, um exemplar do livro que publicaria, havendo editor, baseado nas atas e finalmente, embarcados também os viajantes, o chefe-de-estação fez dobrar o sino de bronze, o chefe-de-trem apitou seu apitinho de mão, a Diesel voltou a emitir sua sonora sirene e, ao som do hino do Rio Grande, em altos brados celebrado pela bandinha, o trem foi ganhando velocidade no rumo do Cerrito, do Olimpo, do Passo das Pedras, do Capão do Leão e de Pelotas, até que sumiu no horizonte, enquanto a multidão lhe corria atrás, a maioria a pé, outros a cavalo, gritando vivas.

O gaúcho passou o braço por sobre os ombros da mulher. Emprestou a ponta do lenço colorado, que trazia ao pescoço, para que ela secasse uma lagriminha mais teimosa e quando da composição que levava os insignes viajantes, nem mais sombra havia, voltaram para a velha camioneta, e com ela, para a fazenda.

No caminho, meio que por remorso, meio que por amor, a moça chegou para perto dele, encostou a cabecinha no seu ombro e murmurou-lhe, junto ao ouvido:

- Tout est bien qui finit bien...

(do livro Tuquinha, La Fontaine e Esopo)

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