Na manhã seguinte, bem cedinho, o capataz tirou a chimbica do galpão...
Limpou o banco, onde a carijó teimava por botar seus ovos e fazer o choco.
Deu uma baldeada de água no capô do motor, onde os tico-ticos tinham
o hábito de... De... De dar suas cagadas...
Enquanto fazia isso, Esopo e La Fontaine, que tinham trazido as suas respectivas
tralhas para a varanda, se despediam do deputado e da esposa, que ficaram, na
varanda da casa-grande, a acenar com lenços brancos até que desaparecessem
na curva da estrada que levava ao Basílio.
Como da ida ao Herval, o gaudério vinha ao volante. Esopo trocara de
lugar com monsieur e ia junto à porta do acompanhante. Claro que madame
ia escarrapachada no seu colo, aproveitando os solavancos, como fizera com o
francês.
No Basílio, o povo fez presença, desde a entrada da cidade até
a estação ferroviária, acenando bandeiras para despedir-se
daquelas personalidades lendárias e fabulistas fabulosos.
O subintendente aproveitou para entregar-lhes as chaves da cidade e o certificado
que lhes fora concedido, pela câmara de vereadores da sede, de eméritos
cidadãos da freguesia do Herval.
A retreta da Airosa viera, a pedido do padre Libório, e tocava, alternadamente,
la Marselhese e o hino da Grécia, que havia praticado à exaustão
naqueles quinze dias.
Quando a locomotiva Diesel chegou, vinda de Bagé, lá no Desvio,
distante ainda duas léguas e pico da vila, abriu o apito, que veio sibilando
até chegar ao Basílio, precedendo a composição que
logo atrás dele entrou resfolegante na parada.
Era a hora da partida.
O chefe de trem desceu a banqueta, naquela oportunidade, especialmente forrada
de veludo vermelho, para que os viajantes pudessem alçar-se desde a plataforma.
A multidão de fãs e de curiosos ficou atrás da fita verde
e amarela que o destacamento da Gloriosa esticara, para evitar aglomeros nos
últimos momentos.
A viúva abraçou e beijou ao grego. Beijou e abraçou ao
francês.
O gaudério entregou a cada um, de surpresa, uma cuia e uma bomba para
que, em suas terras, pudessem sorver o amargo que haviam aprendido a apreciar
nos pagos. Junto com elas, fardos e mais fardos da boa erva que recebia de Venâncio
Aires.
Embarcada a bagagem, agradeceu aos dois fabulistas pela presença. Renovou
os protestos de estima e de consideração. Colocou a casa às
suas ordens, com tudo que havia dentro, exceto a viúva. Prometeu que
escreveria, mandando lembranças. Que enviaria, a cada um dos estrangeiros,
um exemplar do livro que publicaria, havendo editor, baseado nas atas e finalmente,
embarcados também os viajantes, o chefe-de-estação fez
dobrar o sino de bronze, o chefe-de-trem apitou seu apitinho de mão,
a Diesel voltou a emitir sua sonora sirene e, ao som do hino do Rio Grande,
em altos brados celebrado pela bandinha, o trem foi ganhando velocidade no rumo
do Cerrito, do Olimpo, do Passo das Pedras, do Capão do Leão e
de Pelotas, até que sumiu no horizonte, enquanto a multidão lhe
corria atrás, a maioria a pé, outros a cavalo, gritando vivas.
O gaúcho passou o braço por sobre os ombros da mulher. Emprestou
a ponta do lenço colorado, que trazia ao pescoço, para que ela
secasse uma lagriminha mais teimosa e quando da composição que
levava os insignes viajantes, nem mais sombra havia, voltaram para a velha camioneta,
e com ela, para a fazenda.
No caminho, meio que por remorso, meio que por amor, a moça chegou para
perto dele, encostou a cabecinha no seu ombro e murmurou-lhe, junto ao ouvido:
- Tout est bien qui finit bien...
(do livro Tuquinha, La Fontaine e Esopo)
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