As bananas, verdes acima da cabeça do soldado, repartiam com ele o olhar
do general.
Aquele homem, balofo, que ria indecifravelmente, olhando fixo para ele, não
inspirava mais do que desespero no soldado. Não sentia cheiro de bananas.
Roberto, era assim que se chamava, tinha fome, enquanto o general arrotava de
um jeito em que um caldo azedo subia pela garganta. Era hora da janta no quartel.
O general jantava antes que os soldados. Na verdade, os oficiais jantavam depois,
mais à vontade, consumindo mais tempo em se entupir e contar histórias.
O general tinha compulsão por comida. Roberto tinha fome mesmo. Naquele
dia, o general o buscou na fila da janta e mandou que o acompanhasse.
Roberto foi, contrariado. O cara tinha umas cismas; então resolveu, naquela
hora... Entrou na sala do general, que apontou uma cadeira. O lugar parecia
mais amplo, e também mais limpo do que de costume.
O general tinha mandado fazer uma faxina, fuçado armários, juntado
umas tralhas, jogado muita coisa fora, e a sala ficou grande, porque ele imaginou
assim, uma cadeira na sala grande. A mesa dele, de general, ele colocou num
canto, e ele e a mesa ficaram pequenininhos, uma coisica no canto da sala.
"Sente-se", falou. Roberto estranhou o jeito de ele falar. Embora
não identificasse o que havia de diferente no texto do general, era o
modo não coloquial de dizer o imperativo, ao contrário de um "sentaí".
Havia uma rede de um pano velho, uma lona, o verde meio desbotado, uma rede
pendurada acima da cadeira. Roberto não quis olhar para cima.
- Tá com fome?
Roberto disse "sim, senhor" e abaixou os olhos. O general esfregou
as mãos, rindo, e pegou uma penca de bananas. Com muito esforço,
levou até Roberto. Ao constatar que não conseguiria erguer a penca
até a lona irritou-se, voltou para o canto da sala, deixou as bananas
na mesa e catou a cadeira.
Estava Roberto sentado e já a penca pairava sobre a cabeça.
- Você não vai comer "bandejão" hoje. Só
vai comer banana. Só quando ficar madura.
Acomodou-se na cadeira e começou a arrotar a comida compulsivamente.
Aquela comida que não cabia no estômago, que azedava e que, comida,
doía, e que ele não parava de comer.
Passaram-se algumas horas e Roberto não recebia a permissão de
sair da cadeira. O general levantou-se e disse: "Vou dormir. Fica aí".
Depois disso, nenhuma regra foi mencionada. Roberto se levantava apenas para
ir ao banheiro, voltava e olhava para as bananas.
Eram esquisitas, pareciam cera. Roberto queria parar de olhar, achava humilhante
olhar, mas tinha fome; ao mesmo tempo, não eram bananas de comer, eram
de ver.
O general contemplava.
Os dias se seguiam. Roberto sofreu alguns desmaios com o tempo. Então
o general injetava um líquido nele, e o soldado se recuperava. Com olheiras,
os braços roxos das picadas e uma dor incontrolável no estômago,
Roberto passava os dias e as noites.
...
O general sentia-se pior a cada dia. Cada dia comia mais, tinha mais dor de
estômago e queimação de comida mal digerida, mas não
conseguia parar de comer.
O nervosismo de Roberto o irritava muito. Na verdade, ver o soldado reduzido
a um esqueleto e sem comida até lhe dava prazer, mas o insistente mastigar
dos dedos era insuportável.
Roberto começou tirando cutícula. Aos poucos, foi comendo mais
as bordas dos dedos. Então partiu para as unhas. Agora, passava os dias
com os dedos sangrando. Para aliviar, chupava o sangue, atividade que entremeava
de novas mordidas e mais vazão de sangue.
Lembrava a mulher e o menino. O general estava ficando com nojo. Roberto já
não olhava para as bananas. Curiosamente, o general foi quem passou a
contar o tempo que corria em volta da penca. Ele queria que Roberto se levantasse
da cadeira, que visse o cacho de bananas, que elas estivessem madurinhas, e
que as comesse. E que fosse embora.
Mas as bananas continuavam verdes e, por impressão do general, até
mais escuras do que antes.
Roberto fitava o general com fixação, enquanto comia de sua própria
carne. O general, que não parava de arrotar e vomitar o caldo azedo,
pelo menos parou de comer na presença de Roberto. Tinha nojo. Em compensação,
comia muito mais às refeições. Sentia falta de ar, dores
insuportáveis no estômago, o peito chiava e às vezes parecia
que até a visão lhe faltava.Depois de um dos não raros
momentos em que se viu instantaneamente cego, fixou seu olhar em Roberto. O
soldado estava rindo. Era um riso ignóbil, cruel, sarcástico.
Roberto continuava roendo os dedos, mas sem a compulsão do começo.
Apenas do jeito com que uma puta faz suas caretas, aquelas com as quais julga
que vai excitar o freguês. Como que oferecendo os dedos, o sangue e a
palidez do rosto.
De tanto induzi-lo ao nojo, mostrando suas olheiras com marcas de sangue e provocando
crises contínuas de vômito no general, Roberto o matou.
Na verdade, o general não aguentou mais sua compulsão alimentar,
e entupiu-se de seu último alimento: pílulas para dormir que começou
a tomar para tirar a cara aureolada de bananas verdes de Roberto da sua cabeça
gordurosa de general.
O fato é que a digestão foi lenta; ele demorou para morrer. Mas
estrebuchou ali na frente do soldado, que assistia à cena ora rindo,
nunca mostrando os dentes (para os quais reservava os dedos), ora paralisado
de terror.
Quando, enfim, morreu, um caldo gástrico pendia da boca do general.
Calmo, Roberto pegou a penca de bananas verdes, que não amadureceriam
nunca, e enfiou uma por uma na goela do general.
Enquanto fazia isso, esbarrou em uma banana, a última. Uma fruta que
não estava mais verde. Dizer que estava madura seria uma bobagem. Já
estava completamente podre. Certamente estivera madura já há dias.
Ao abrir um pedaço da cortina e ficar cego da manhã, Roberto acreditou
que aquela banana estava madura desde o primeiro dia em que ficou exposto à
gula do general, oculta pela lona e pela performance do militar. Esmagou-a entre
os dedos, tingindo-a de sangue, sentindo seu cheiro e rindo pela vingança
bem-sucedida.
Quando começou a relaxar os dedos melados, um soldado entrou e disparou
em Roberto, cujo cadáver não jazeria sobre o corpo do general.