OS
VERSOS
O primeiro contato que tive com Os Versos da
Morte (1194 -1197), do monge e poeta Hélinand
de Froidmont (1170-1230), foi por meio da pequena
e bela edição brasileira de 1996
feita pela Ateliê Editorial e Editora
do Imaginário.
Com tradução e apresentação
de Heitor Megale, professor de filologia e língua
portuguesa da USP, a obra foi-me apresentada pela
Luciana que é fascinada por poesia, por
livros pequenos e pelo tema em si: a representação
cultural da morte, da finitude.
Engana-se porém, quem acha que a obra é
apenas uma ode mórbida, uma adoração
à morte por si só. Em uma leitura
rápida na didática apresentação
feita pelo professor Megale, descobrimos que a
morte, representada por um esqueleto empunhando
uma foice, remonta ao centenário compreendido
pelos anos de 1150 a 1250 da era crista e que
Froidmont produziu o primeiro testemunho literário
dessa imagem mítica.
Difundidos, glossados, imitados na posteridade
e usados em sermões, Os Versos da Morte,
segundo Megale, serviram também para animar
os cavaleiros durante as Cruzadas o que lhe valeu
outro nome, Cântico das Cruzadas.
Neles o poeta contata a Morte e com respeito a
encaminha para encontrar e encerrar a Vida. Nesse
caminho serão encarados bispos, trovadores
e burgueses de toda ordem. A eles a Morte dará
o recado de Froidmont: a secular denúncia
contra a indiferença religiosa, o desprezo
pelos menos afortunados, a insensibilidade política
e a falta de respeito para com os seres humanos.
AS IMAGENS
Essa edição de Os Versos da Morte
vem acompanhada de belas e fortes ilustrações
datadas entre 1463 a 1696. Em todas elas vê-se
o clima pesado, alucinante e profético
que Froidmont trabalhou em sua obra.
Arrebatado pelas ilustrações, pensei
em fazer uma releitura do poema utilizando imagens
que demonstrassem um ponto de vista pessoal, muito
diferente e distante da época das referidas
ilustrações.
A Morte, nesse meu pequeno ensaio, deixa de lado
a figura da caveira com a foice e passa a ser
representada por imagens de árvores, galhos,
lagos sujos e postes velhos. Registros carentes
da presença humana, como se a missão
proposta séculos atrás por Froidmont
enfim tivesse sido totalmente cumprida.
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5 Morte, tu abates num só dia O rei ao abrigo de sua torre E o pobre em sua aldeia. Tu vagas sem fim noite e dia E exortas cada um para Que dirija a Deus seus atrasados. Morte, manténs a alma em servidão Até que ela se livre E pague sua dívida sem retorno. Tomar emprestado à alma é pouco prudente, Ela não tem nada para penhorar, Pois está nua no último dia. (poema de Hélinand de Froidmont) |