Quem me conhece, sabe que minha linguagem é cheia de substantivos e
verbos, com poucos adjetivos, por isso tenho dificuldades de me relacionar no
mundo político que adora rapapés. Gosto de mostrar também
o outro lado.
Então, Maristela Veloso Campos Bernardo, autora do livro A mulher
olhando a menina - memórias, prepare o seu coração
para as coisas que vou escrever sobre o seu livro, parodiando Geraldo Vandré.
Cacilda Amaral Melo, filha de Araçatuba, depois de encerrar sua carreira
de professora universitária, também resolveu escrever suas memórias:
"Relatos à procura do tempo", publicado em 2008. Trajetória
e iniciativa parecidas com as da Maristela: ambas se mudaram para São
Paulo ainda menina, por lá fizeram a vida, mas a saudade da infância
bateu forte e resolveram fazer uma catarse.
Como canta Ivan Lins: "Preciso desse menino, que eu carrego aqui dentro
/ Sem ele eu perco todo encantamento por ter crescido".
As personagens Bentinho, em Dom Casmurro, de Machado de Assis; e Paulo Honório,
em São Bernardo, de Graciliano Ramos também se propuseram a escrever
um livro como forma de desvendar e esclarecer o passado.
Assim, as pessoas que exerceram atividade intelectual em suas vidas, ao chegarem
a certa idade, têm o mesmo ímpeto, escrever autobiografias. Algumas,
para deixar a seus descendentes, além das fotos, um relato; outras têm
preocupações mais literárias, contam suas histórias
com certo requinte. A mulher olhando a menina - memórias, editora
Scortecci, São Paulo, foi bem relatado, num bom português.
Nunca me canso de dizer que a beleza de um livro não está em
seu conteúdo. Ele se torna interessante se for bem escrito, porque houve
um trabalho com a forma, seu autor soube bordar as palavras, criando imagens
interessantes. A narrativa bem trabalhada prende o leitor.
Não me refiro a escrever difícil, como faziam os escritores parnasianos,
nem ao experimentalismo literário. Manuel Bandeira e Mário Quintana
sempre escreveram de modo simples, mas com uma riqueza poética de encantar
as pessoas.
Não foi a pretensão de Maristela, ela quis apenas externar suas
experiências e escolheu o texto como suporte, e o fez numa linguagem gostosa,
leve, mas não chegou a ser literatura no sentido estrito.
Maristela Veloso Campos Bernardo relata em seu livro a sua vida passada em
Major Prado, quando a vila era maior que Santo Antônio do Arancanguá.
A escola mista, suas vindas para Araçatuba, sua vida como interna do
Colégio N.S. Aparecida, a sua mudança definitiva para Araçatuba.
Perdeu o pai aos 11 anos de idade. Ruy Campos era fazendeiro, dono de grande
armazém em Major Prado, foi vereador, casado com Albertina, a Filhinha.
Apesar da pouca convivência permitida, ele marcou muito Maristela.
Se você, caro leitor, viveu a infância por esses grotões
e quiser reviver velhos tempos, ou conhecer um pouco mais a história
dessa região, recomendo a leitura de A mulher olhando a menina - Memórias,
170 páginas, R$ 30,00. Não está à venda nas livrarias,
foi lançado em 10/12/2010. Brevemente, a autora estará em Major
Prado, depois Araçatuba, para autografar seu livro, conversar com amigos
e escritores da região. Enfim, revisitando o seu primeiro ninho.
A mulher olhando a menina - Memórias
Autora: Maristela Veloso Campos Bernardo
170 páginas
2010
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