Poesia Concreta
à cidade de São Paulo
Há poesia nas vozes dos
camelôs
que se espalham pela praça
e nessas naves velozes
e também nas chaminés
que espalham a fumaça.
Há poesia nas vidraças
dos grandes prédios de luxo
e também poesia e graça
na crua desgraça
da boca do lixo.
Na mocinha que passa
na praça
nas buzinas dos carros
que invadem a rua
na neblina que às vezes esconde a lua
no pouco de verde que ainda
nos resta
nas rugas de nossa testa
pelo pão de todo dia.
A tua poesia é dura e fria
de cimento, ferro e aço
que saem de tuas fábricas
formando diversas ligas
sustentando os teus prédios
que sustentam nossas vidas.
Mas enquanto existir
um sorriso nas faces
e a esperança,
que dia após dia renasce
ainda acharei uma certa
poesia
em ti.