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Sua garganta é um sepulcro aberto,
com a língua tramam o engano,
veneno de serpente escondem nos lábios,
sua boca está cheia de maldição e amargura,
seus pés são velozes para derramar sangue,
destruição e miséria estão em seus caminhos
e seus pés não conhecem o caminho da paz,
não há temor de Deus em seus olhos."
Epístola aos romanos: I, 3
Há poucos animais no mundo tão ricos em significados simbólicos quanto a sepente.
Ofídio sagrado ou representação do mal, habitante dos pântanos, da lama,
da turfa, rastejando nas terras profundas, príncipe dos meandros, silenciosa
e sinuosa, ela surge dos confins mais obscuros do nosso inconsciente,
cujos sonhos e fantasmas alimenta incessantemente, fazendo surgir, sucessivamente,
angústias e desejos, atração ou repulsão.
Para a maioria dos povos, a serpente desempenha um papel extraordinariamente
importante e bastante multiforme como símbolo; deve-se ressaltar sobretudo
sua posição privilegiada no reino animal (locomove-se sobre a terra,
não tem pernas, vive em tocas e sai de ovos como os pássaros), sua aparência
fria, lisa e cambiante, sua picada venenosa, seu veveno - usado também
como antídoto - e sua muda periódica.
Muitas vezes encontrada como rival do homem, também mostra-se como
animal protetor, guardiã das áreas sagradas ou do Reino dos Mortos,
animal com alma, símbolo sexual (masculino, devido a sua forma fálica
e, feminino, devido a seu ventre) e símbolo da renovação permanente
(em razão da troca da pele).
Quando nos remontamos às mais longínquas lembranças da infância,a primeira
serpente que salta das recordações é aquele que fez tal desordem no
paraíso que até hoje se fala nisso. Esquecemos que ela foi apenas um
veículo, uma aparência tomada por Satã para induzir à tentação o primeiro
casal humano no Paraíso. Uma aparência sobre a qual nosso julgamente
se apóia após várias gerações... Uma hereditariedade pesada para esses
pobres animais, que certamente não pediram tanto!
1.A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse ‘não comais de nenhuma das árvores do jardim?’” 2.E a mulher respondeu à serpente: “Do fruto das árvores do jardim, podemos comer. 3.Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse ‘não comais dele nem sequer o toqueis, do contrário morrereis’”. 4.A serpente replicou à mulher: “De modo algum morrereis. 5.É que Deus sabe: no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal”.
6.A mulher notou que era tentador comer da árvore, pois era atraente aos olhos e desejável para se alcançar inteligência. Colheu o fruto, comeu e deu também ao marido, que estava junto, e ele comeu. 7.Abriram-se os olhos de ambos e viram que estavam nus. Teceram com folhas de figueira tangas para si. 8.Ouvindo o ruído do Senhor Deus, que passeava pelo jardim à brisa da tarde, o homem e a mulher se esconderam do Senhor Deus no meio do arvoredo do jardim. 9.Mas o Senhor Deus chamou o homem, dizendo: “Onde estás?” 10.E este respondeu: “Ouvi teus passos no jardim. Fiquei com medo porque estava nu, e me escondi”. 11.Disse-lhe Deus: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?” 12.E o homem disse: “A mulher que me deste por companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore, e eu comi”. 13.Disse, pois, o Senhor Deus à mulher: “Por que fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente me enganou e eu comi”.
14.E o Senhor Deus disse à serpente:
“Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e entre todos os animais selvagens. Rastejarás sobre o ventre e comerás pó todos os dias da vida.
15.Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e os descendentes dela. Eles te ferirão a cabeça e tu lhes ferirás o calcanhar”.
16.Para a mulher ele disse: “Multiplicarei os sofrimentos de tua gravidez. Entre dores darás à luz os filhos, a paixão arrastar-te-á para o marido e ele te dominará”.
17.Para o homem ele disse: “Porque ouviste a voz da mulher e comeste da árvore, cujo fruto te proibi comer, amaldiçoada será a terra por tua causa. Com fadiga tirarás dela o alimento durante toda a vida.
18.Produzirá para ti espinhos e abrolhos e tu comerás das ervas do campo.
19.Comerás o pão com o suor do rosto, até voltares à terra, donde foste tirado. Pois tu és pó e ao pó hás de voltar”.
20.O homem chamou a mulher “Eva”, porque ela se tornou a mãe de todos os viventes. 21.E o Senhor Deus fez para o homem e a mulher túnicas de pele e os vestiu.
22.E o Senhor Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós, capaz de conhecer o bem e o mal. Não vá agora estender a mão também à árvore da vida para comer dela e viver para sempre”. 23.E o Senhor Deus o mandou para fora do jardim de Éden, a fim de cultivar o solo de que fora tirado. 24.Tendo expulso o homem, colocou diante do jardim de Éden os querubins com o cintilar da espada fulgurante, para guardar o caminho da árvore da vida.(fonte: Bíblia Vozes)
Símbolo da fertilidade em Canaã
e de força política no Egito, a figura mítica da serpente é a primeira
a sacudir as estruturas da Bíblia Sagrada, trazendo a imagem da tentação,
do demônio, assumindo a maternidade do pecado. A maldição da serpente
é uma etiologia que procura explicar o porquê do comportamento atual hostil
e traiçoeiro da serpente com relação ao homem. Acredita-se que a serpente
é assim porque foi amaldiçoada por Deus por haver seduzido os primeiros
homens.
Considerada pelos judeus um ser antes de tudo ameaçador e incluído
no Antigo Testamento entre os animais impuros, a serpente - imagem original
do pecado - também simboliza a inteligência. Quando Deus castigou a
desobediência dos israelitas com uma praga de serpentes venenosas e
aladas, ele ordenou a pedido de Moisés que se fizesse uma serpente de
bronze: quem fosse mordido pelas serpentes venenosas e contemplasse
a serpente de bronze permaneceria vivo. Portanto, uma serpente de bronze
dessa espécie foi durante muito tempo objeto de culto e considerada
pelo cristianismo a primeira imagem simbólica de Cristo, devido a seus
aspecto benéfico.
A Antiguidade conheceu também inúmeras figuras de serpentes míticas
e simbólicas de Cristo, geralmente sob a forma de seres híbridos e monstruosos
(Quimera, Equidna, Hidra).
No pensamento simbólico dos egípcios, a serpente tem um papel essencial
e bastante multiforme; conheciam-se, por exemplo, diversas deusas-serpentes
e uma deusa-cobra que vigiava o crescimento das plantas. O destino também
foi venerado muitas vezes sob a forma de uma serpente. Ao lado disso,
encontram-se inúmeras serpentes mitológicas (aladas, com pés ou com
várias cabeças etc.). A serpente Uraeus representava uma deusa de muitos
nomes; via-se nela a personificação do olho do deus-sol; segundo as
concepções mitológicas ela se empina junto ao Sol ou junto à testa do
deus-sol e aniquila os inimigos com seu hálito de fogo; por ser símbolo
de domínio e proteção, ela aparece representada na testa dos faraós
egípcios. Contudo, o inimigo principal do deus-sol e da ordem do mundo,
Apophis, também tem a forma de uma serpente.
Além disso, no Egito, foi encontrada pela primeira vez o símbolo do Ouroboros,
a serpente que morde a própria cauda, símbolo do eterno recomeço.
A mitologia hindu conhece as najas: serpentes mediadoras entre deuses e homens, ora benfeitoras, ora malfeitoras (como outras serpentes em outras culturas) e ligadas ao arco-íris. No "Livro dos Mortos" tibetano: "Eu sou a serpente Sata, que mora nas partes mais distantes da terra. Eu morro, renasço, me renovo e torno a ficar jovem todos os dias". |
No Oriente, no Yoga tântrico e no Budismo tântrico do Tibete, ela encarna a Kundalini, canalisa o fluxo de energias essenciais que circulam da raiz da coluna vertebral até a extremidade superior do crânio, ligando os planos vitais, mentais e suprapsíquicos, constituindo o despertar e a liberação da Serpente Kundalini, uma das etapas decisivas da realização espiritual e suscitando a eclosão de poderes paranormais, tais como a telepatia, a vidência ou a levitação. Na China, está ligada à terra e à água, sendo por conseguinte um símbolo yin. |
No horóscopo lunar, mais conhecido como "Horóscopo Chinês", a serpente representa o sexto signo zodiacal. Conta a lenda que há mais ou menos cinco séculos antes de nossa era, o Senhor Buddha convidou todos os animais da criação, prometendo-lhes uma recompensa. Quase todos os animais desdenharam o chamado do divino sábio, mas doze animais se fizeram representar. Para agradecer esses animais, o Buddha ofereceu a cada um deles um ano que lhe seria dedicado daquele momento em diante, que traria seu nome e seria impregnado com seu simbolismo e suas tendências psicológicas específicas, marcando, de tempos em tempos, o caráter e o comportamento dos homens que nascessem nesse ano. |
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A analogia com a história sagrada é a que mais nos aproxima da serpente, signo do horóscopo chinês, visto que é considerada o signo mais tentador, mais sedutor, mais fascinante... E, num sentido, o mais perigoso, pois poucos signos conseguem resistir às suas injeções de sedução - sua especialidade natural. São reflexivos, organizados, perspicazes e sábios. Todavia, são muito ciumentos e teimosos. |
A serpente Midgard da antiga mitologia nórdica é gigantesca e nefasta; ela rodeia a terra (Midgard) figurada como um disco: um símbolo da ameaça permanente à ordem do mundo. Segundo a interpretação psicológica, a serpente, a cobra, são símbolos fálicos. Por isso, fala-se que, sonhar com uma serpente, especialmente enrolada no pescoço, é advertência de que se é um escravo de repressões ou paixões sexuais. |
Conforme o "Dicionário dos Sonhos",
de Lady S. Robinson & Tom Corbett:
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Dicionário dos Símbolos - Herder Lexikon
Serpente - Coleção Zodíaco Chinês - Catharine Aubier