"Da indi in qua mi fuor le serpi amiche,/perch'una li s'avvolse allora al collo,/ come dicesse 'Non vo' che più diche';/e un'altra a le braccia, e rilegollo,/ ribadendo sé stessa sì dinanzi,/ che non potea con esse dare un crollo."
DANTE/ Divina Commedia / Canto XXV / Inferno
A Serpente é o mistério, a raridade, uma linha viva, abstração
encarnada, natural, material.
Andrógina, em ímpetos masculinos sinuosa, pica. Lingam, liga e língua, bote final.
Fêmea quando hipnótica, enrosca, beija, sufoca, engole ... digere e dorme, anímica, animal.
Súbita, gêmea em si mesma, a serpente não se esgueira em um só sentido, nó de víboras, ninho de cobras.
É noite fria, gelada. Leviatã, caótica, engolidora de sóis e luas, cobra cega.
Una em Cy, beijo na boca & cheiro de terra molhada, vai da vida para a
morte e de novo para a vida, urobórica.
A camada mais profunda dos abismos se mexe, pressagia, Píton, Pitonisa, maléfica, imagética, goela, véu de veneno verde, ventre.
Metamórfica, é divina, deusa e deus. Em caldeu, é vida.
El-hayyah, a serpente.
El-hayah, se é vida, a que vivifica, artéria libido vertiginosa.
Sua natureza é a mesmo tempo movimento e água, intestina e bastão fecundo, arco íris, morada dos deuses.
Sócia simbólica da serpente: sombra, matriz e falo,
muda de pele, caduceu de Mercúrio,
guardiã dos tesouros, dobrões de ouro, onda marinha.
Força da matéria vital, pedra mágica,
esmeralda do diadema real.
Magnética, sedutora, irrompe do fundo dos desatinos,
sintoma de angústia e agitação anormal do inconsciente, terremoto que vem de dentro da alma, sangue negro.
Serpentes silvam sob os abalos sísmicos, abismos e eternidades.
Sete metais, imagem simbólica do dualismo moral: - une com aquilo que
te faz mal, homeopaticamente, soro anti-ofídico.
Alada é volátil, na terra é fixa. Escamas na pele, naja de olhos dourados.
Serpente no meio do sonho, colcha de retalhos e significados, adormecida na cama de coral,
cabelos da Medusa, trança, espiral.
Sei-a nos meus seios
Sibila, serpente, sibila.
Sei-a no meu sal.