Há uma falsa pressuposição de que a qualidade de uma obra
estaria representada pelo seu número de páginas. Cabe ainda ressaltar que o Leitor não está interessado em comprar
papel, e sim, conteúdo.
A qualidade da leitura contida em um volume deve trazer a
viagem aos sentidos do consignado no sucedâneo das palavras: em trama,
narrativa ou verso - em construção tal, que seja incorporada em vontade de
vislumbre e partido, pelo leitor. A
extensão rigorosa de um trabalho escrito não denota, necessariamente, que houve
uma riqueza criativa ou detalhista, num sem-fim de capítulos e personagens.
Um relato, um romance ou um conto, tenham a largueza que
tiver, segundo o autor, são a transferência fiel e completa do fato ou da
fantasia ao âmago do leitor, como personagem em pseudo-ação, no emotivo, em
concordância ou discordância. Em agrado
ou repúdio.
Historicamente, não são muitos os clássicos volumosos em que
o autor conseguiu manter o equilíbrio em assunto seguido, sob escrito bem
construído, vivo, assegurando o interesse linear na leitura, sem altos e
baixos, sem desaquecimento ao entendimento e ao interesse, no seguido urdir das
palavras e das linhas.
Muitas obras se tornaram notáveis por ter saído do meritório
calhamaço escrito pelo autor e, pelas mãos de roteiristas, adaptadas
cirurgicamente às telas e aos palcos. Escritos, também, são cristais de água que se derretem e se destilam.
Nesse fundo e nesse raso de olhos em leitura, buscando as
janelas de recantos outros, ainda não vistos e não sentidos, na sua contramão
estão o mercado editorial e o do marketing que não reluzem
verdadeiramente a vontade, o refinamento e a criatividade de valorosos autores
aos seus parceiros leitores. O que
prevalece é a velocidade do faturamento, o qual, impulsionado pela boa
publicidade, muitas das vezes il fait merde se tourner l'or.
Já no Céu de Autor, nublado ou chuvoso, quem escreveu, em
geral, fica com dez por cento do valor de capa. Os outros noventa por cento são distribuídos sob o maior espírito
de justeza entre a editora, o distribuidor e a livraria - apesar de sem
escritores não haver livros. Os
incentivos governamentais são muitos: ficam nas alocuções dos palanques, ou
remanescem nos textos prolixos, por conta de que a cultura pode subtrair os votos
inconscientes.
Tudo faz crer que vivenciamos uma realidade de valores invertidos, em que os indivíduos
são manipulados pela mídia, rigorosamente, a ponto de quase não
haver opinião própria, mas sim grupal, de maioria, sem sentido crítico
ou comparativo. Um verdadeiro embrutecimento cultural. O marketing distorce
o raciocínio, solapa a sensibilidade, instituindo falsos modismos voltados
unicamente aos interesses financeiros.
Se assim não fosse, não haveria os borrões que se tornaram
Artes Plásticas. Os sons repetitivos e grosseiros que despontaram como
melodia de sucesso. Não ficando assim tão somente.
Talvez fosse o caso de se escrever um montão de besteiras
sobre um sem-número de páginas, como já começaram a fazer - na busca de uma
carona na idiotice consagrada - para que, então, inusitadamente, pudesse virar
um best-seller. Trazendo como
derrotados os Autores e os Leitores e, como vitoriosos, os leigos do engendrar
e da intermediação!