Jovem estudante consulta-me sobre seus escritos. Dou-lhe esta resposta:
Você tem vocação para escrever? Então não
consulte ninguém por ora. Leia. Leia. Leia. Escreva em solidão,
dê curso ao fluxo interior. A correção virá depois.
A gente começa a escrever para exorcizar os próprios fantasmas.
Só depois descobre a literatura. Mas em uma etapa não há
a outra. Não se apresse. A pressa é inimiga da velocidade e a
angústia é a matéria prima do escritor. Inclusive a angústia
sobre o próprio talento. Perdê-la é secar a fonte. Mantê-la,
incomoda mas impulsiona. Prossiga. E deixe a etapa crítica para depois.
Depois de o texto escrito dormir, acordá-lo. Faça-o, porém,
lentamente. É deixá-lo espreguiçar-se e só então,
pedindo-lhe licença, começar a correção. Várias
vezes. Vários dias, se possível. Anos será melhor.
Escritor é excretor. Excreta o texto. Depois deve ser leitor implacável.
O primeiro movimento vai do excretor para o papel. Depois deve provir papel
para o leitor. Aqui, excretor e leitor são a mesma pessoa: o escritor.
Este é a síntese da briga dos dois. Nessa etapa, deve-se deixar
o leitor, implacável, vencer o escritor. E ouvir as críticas de
si mesmo como leitor para só depois voltar a ser escritor no momento
de aprimorar o texto. Por isso ler os outros, ler, ler, ler é fundamental.
Só quem sabe ler (os textos próprios e os alheios) saberá
escrever. Isso se conseguir escrever sem o fazer como os escritores a quem admira.
Em suma: escrever é difícil, sacrificado, exige anos. Se depois
de tudo isso (e das dores nas costas que a posição acarreta) alguém
ainda gostar de escrever, então sim: após muitos anos será
um escritor.
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