A crônica tem uma conceituação que os intelectuais chamariam
de polissêmica, ou seja, possui vários sentidos. Daí ser
fascinante. É definida como mero registro cronológico de acontecimentos,
daí o nome crônica, que vem de Chronos, que é o Deus do
Tempo. Ela seria o registro de um tempo. Tem vários sentidos: de resenha
no jornalismo; de registro-comentado de acontecimentos gradativos na vida da
cidade; de panorama da visão do mundo, dos costumes e idéias de
um determinado tempo na crônica de escritores; do pequeno ensaio como
um gênero próximo da crítica.
A crônica é um continente muito apropriado para que nele caiba
o ensaio, uma pequena visão analítica de um determinado momento,
fato ou pessoa. De Machado de Assis a Rubem Braga e, deste, aos cronistas que
estão trabalhando hoje nessa mesma direção a crônica
também tem - e essa é uma outra acepção - um aspecto
puramente literário. É possível expressar a emoção
artística, de maneira literária através de uma crônica.
E em jornal... ou rádio. Neste campo ela é mais ampla, pois não
é só registro existencial (espécie de um monólogo
interior do artista diante dos acontecimentos, externos ou internos); é
também a emoção poética pura, só que vazada
em prosa: uma espécie de poesia em prosa. Por isso a crônica pode
abarcar a poesia e prosa, ser a prosa poética, como também ser
tão somente o registro sensível e solipsista de um determinado
acontecimento interior. Aí, ela tem características literárias,
transformando-se, neste caso, em gênero literário.
A crônica funciona como prosa poetizada de maneira muito eficaz, porque
permite uma rápida apreensão de um determinado fato e o transporta
desta emoção para o público de forma econômica, simples,
direta e imediata.
A crônica serve também de instrumental para o sociólogo,
o psicólogo, para captar uma determinada realidade e jogá-la,
de maneira clara e já digerida, para o público.
Todas essas acepções da crônica dão-lhe um caráter
múltiplo e ao mesmo tempo são os portadores da sua dificuldade,
porque ora ela é poesia, ora é prosa poética, ora é
análise, ora é psicanálise, ora é psicologia social.
Torna-se difícil porque precisa ficar fácil para o leitor sem
perda de precisão e profundidade.
Por isso ela é o gênero típico do jornalismo. Porque no
jornalismo contemporâneo, que chega a pessoas apressadas, com pouco tempo
para leitura, com pouco tempo de consulta e de pesquisa, a crônica é
a forma pela qual quem já meditou, pesquisou, estudou, conheceu, viveu,
ou "clarividenciou", pode traduzir de maneira econômica e simples
o eterno existente em cada efêmero. Assim, o eterno existente em cada
efêmero. O cronista vai montando o mosaico do seu tempo.
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