Quem nunca teve a visão romântica do escritor by século
XXI? Que fica em frente ao seu laptop em um cenário paradisíaco,
e isolado, escrevendo seus romances entre uma tragada e outra enquanto arrecada
milhões com os best-sellers já lançados, mesmo que
tenha sido só um.
Todos aqueles que se aventuraram na vida da escrita têm pelo menos um
pouquinho dessa imagem disseminada, um devaneio de um futuro, próximo,
quando seu trabalho vai ser reconhecido, tirado da cartola como um coelho entre
tantos outros e escolhido para reinar na lista dos mais vendidos para sempre...
Eu falo isso por experiência, quando comecei a publicar uma coisa ali
e uma aqui já queria logo comprar o bendito do laptop, o teclado
comum não mais me inspirava, o barulho da ventoinha da CPU me incomodava,
a tela era muito pequena e eu ficava com dor nas costas por não estar
no meio da relva fofa dos campos arcádios de meus sonhos. O reconhecimento
de algumas de minhas medíocres publicações já me
fazia sentir um astro que precisava de um camarim maior, mais espaçoso,
mais moderno.
Você começa a sentir-se um boêmio. O cigarro e o café
são seus companheiros, aos mais exóticos o vinho, são os
afrodisíacos das palavras. Além disso, todos se cercam de manias,
de excentricidades que irritam aqueles que convivem com o futuro prêmio
Jabuti Não mexam no meu caos criativo! Grita o futuro Humberto
Eco quando vê a esposa tirando um pedaço de pizza mofada do meio
de folhas de jornal velho.
E as noites sem dormir? - afinal os literatos escrevem a noite, mesmo que tenham
que pegar o ônibus para trabalhar cedinho no outro dia e sobreviverem
na base da cafeína, ou que estejam desempregados e durmam o dia inteiro
- elas são os brocados na vestimenta do Imortal da Academia Brasileira
de Letras, são elas que lhe trazem assunto para a roda com os outros
célebres Escrevi a noite toda! Suspira um de boca cheia de amendoim;
O silêncio da noite é a minha companhia! Quase recita o
mais poético; Virei três dias na frente do laptop escrevendo!
E a bateria? Tava ligada na tomada, anta!
Eu confesso que sinto um fascínio por tudo isso, por esse mundo quase
tão fantástico quanto às obras que aqueles que vivem nele
escrevem. E estes que vivem esta sensação acabam se viciando também.
É um vício inexplicável que talvez venha atrelado à
desculpa de poder consumir nicotina descontroladamente, ou sei lá o que.
Mas adoro colocar música clássica enquanto tomo um belo Bourbon
durante as madrugadas em que reflito sobre o que escrever, rascunhando documentos
no Word for Windows que se perdem pelas subpastas mal organizadas dos
Meus Documentos. E respondendo logo que minha esposa pergunta Amor, não
vem dormir? Cheio de marra Só vou escrever mais um pouco querida!
Enquanto navego por alguns sites pornôs em busca de uma linda inspiração
que me traga o próximo prêmio Nobel.
Eu adoro essa vida!