As divagações em torno da estruturalização do trabalho com a língua em relação ao ensino depende muito da concepção que o professor tem em relação a linguagem e a língua.
A concepção de linguagem é tão importante quanto a postura que se tem relativamente à educação. (TRAVAGLIA, 2006, p. 21).
E tendo com pano de fundo as concepções sobre linguagem, língua
e ensino de língua, Luis Fernando Veríssimo expõe um profundo
questionamento sobre o assunto em seu texto "O gigolô das palavras".
Veríssimo nos trás uma visão "anarquista" a cerca
da questão do ensino de língua nas escolas. Ele questiona a postura
ditatorial que a Gramática Normativa assume quando empregada como o único
meio de formalização da língua, anulando assim, as relações
dos interlocutores em momentos e meios diferentes. A aplicação
dessa Gramática no ensino, tendo-a como única e imutável
ganha o nome de ensino prescritivo.
O ensino prescritivo objetiva o aluno a substituir seus próprios padrões de atividade lingüística considerados errados/inaceitáveis. É, portanto, um ensino que interfere com as habilidades lingüísticas existentes. (TRAVAGLIA, 2006, p. 38).
"O gigolô das palavras" evidencia a postura contrária
que Luis Fernando Veríssimo tem em relação ao ensino prescritivo,
mostrando que não é necessário esse domínio total
da Gramática Tradicional para se expressar e ser entendido pelo meio.
"Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para
evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis.
[...] Escrever bem é escrever claro e não necessariamente certo".
Essa postura de ensino limita o aluno a uma visão unilateral, onde será
imposto para ele que só há uma face à ser vista, o limitando
a uma única forma de pensar e agir. E é se contrapondo a esse
perfil de educação que surge o ensino produtivo que não
vai mais limitar o aluno a uma "ditadura das letras", mas somar ao
aluno várias formas de eventos lingüísticos, potencializando
seu conhecimento em relação a sua língua, assim o aluno
passa a ter conhecimento e domínio das várias formas que essa
língua pode assumir em meios diferentes.
O ensino produtivo objetiva ensinar novas habilidades lingüísticas. Quer ajudar o aluno a estender o uso da língua materna de maneira mais eficiente; dessa forma, não quer "alterar padrões que o aluno já adquiriu, mas aumentar os recursos que possui e fazer isso de modo tal que tenha a seu dispor, para uso adequado, a maior escala possível de potencialidades de sua língua, em todas as diversas situações em que tem necessidade delas". (TRAVAGLIA. 2006, p. 49-40)
Veríssimo defende o uso da pluralidade lingüística, se
desprender das amarras das normas gramaticais e considerar os vários
eventos que ocorrem na língua materna, levando em conta que o que mais
vale é o entendimento entre os interlocutores, independendo da forma
que o discurso seja produzido.
Essa imposição de normas está ligada à intenção
das escolas em formar profissionais para o mercado de trabalho. Não é
intenção da escola formar seres questionadores, pois esses iriam
por em questão a formatação do sistema.
Luis Fernando Veríssimo mostra sua posição contrária
a essa postura ditatorial das escolas, que tenta incutir na cabeça de
crianças e adolescentes normas imutáveis, anulando a relação
delas com o contexto social que as permeia.