A Garganta da Serpente
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A análise lingüística na produção textual

(Flávio Alves e Télia Cavalcante )

Tendo como objetivo tornar o aluno leitor e produtor de textos coerentes, a prática de análise lingüística constitui-se num instrumental capaz de refletir a organização do texto escrito; um trabalho que perceba o texto como o resultado de opções temáticas e estruturais feitas pelo autor, tendo em vista o seu interlocutor.

Convém ressaltar que os procedimentos usuais adotados pela maioria das gramáticas demonstram a tendência em privilegiar o estudo do sistema lingüístico em si mesmo e não o seu uso, ou melhor, o seu funcionamento nos mais diferentes tipos de textos.

Normalmente selecionam-se e organizam-se itens da língua com o intuito de se demonstrar ao aluno e cobrar dele apenas de que modo as regras do sistema podem ser manifestadas através de frases isoladas co-textual e con-textualmente.

A prática da análise lingüística em sala de aula se apresenta como uma forma de se trabalhar a gramática a partir da produção do aluno. No caso, uma gramática emergencial, que prioriza suas necessidades, mas que se preocupa igualmente em acompanhar passo a passo todas as etapas do desenvolvimento de formação lingüística dos aprendizes.

A reflexão sobre a língua e seu ensino permite analisar como está difícil e defeituoso o ensino da língua portuguesa nas salas de aula. O grande defeito encontra-se na falta de mudanças na prática de ensino/aprendizagem em que os professores, ou não se especializam ou não praticam sua especialização satisfatoriamente. Mas este não é totalmente o maior problema. O desinteresse dos alunos pela língua é um problema muito preocupante, porém, é claro que desenvolveu-se esse desafeto à língua através da falha dos professores e seus simples planejamentos de aula, impostos ou influenciados rigidamente pela proposta da escola.

O que se pode notar é que os alunos não estão motivados a estudar o sistema gramatical, pois não há (re)construção de conhecimentos. Eles estão sempre

aptos a absorver e obedecer a proposta colocada pelo professor, sem ao menos retrucar. Esse comportamento antigo de escola tradicional, apesar das tentativas de mudanças a esse respeito, continua na cabeça dos alunos como forma mais rápida de passar de ano e receber o diploma, ou seja, apenas memorizando o conteúdo gramatical naquele momento. Assim, assistem à aula rotinizada na perspectiva de integrar aos padrões sociais intactos sem direito a outra interpretação.

Para transformar essa situação negativa em aspecto positivo e produtivo precisa-se incentivar o aluno a buscar conhecimentos, refletir e agir sobre as aulas mecanizadas, para delas fazer uso da língua em torno do que aspira a proposta normativa, pois isso movimenta e transfere o poder para o aluno entender a complexidade da língua no âmbito gramatical, que conseqüentemente o invade de ânimo para fazer-se um individuo crítico-social ativo. É a partir da busca por respostas as situações-problema encontradas pelos próprios alunos, que eles têm da amplitude do mundo e de seu poder cognitivo.

A prática da análise lingüística deve ser uma constante em todo o processo de produção de textos do aluno, isso significa um acompanhamento do desenvolver da prática de elaboração de textos.

Faz-se necessário inovar a prática de ensino para um questionamento reconstrutivo, desafiar o raciocínio dos alunos e do próprio professor, porque ambos sempre estarão entusiasmados a buscarem respostas, além de motivar o desempenho de estudo da gramática, flexibilizar a construção do conhecimento de forma contribuinte à realidade escolar, o que torna mais prazerosa a educação.

Esse acompanhamento exige uma ruptura com o contato avaliativo-normativo do professor com o texto, pois o texto não deve ser analisado somente pela ótica gramatical, e também não deve ser efetuado um único contato com o texto produzido. O corpus do trabalho de análise lingüística é formado pelo(s) texto(s) do(s) aluno(s), portanto, o ponto de partida é o próprio texto do aluno. Com isso a prática e a análise lingüística se constitui num processo dialógico que abrange em si o contexto conteudístico da formação teórica gramatical, do uso/prática da linguagem e das inferências axiológicas. Isso se dá num processo de volta ao texto, releitura, nova redação. Sendo com isso uma (re)produção do texto pelo sujeito (autor-leitor) como um acontecimento novo, constituinte de um novo elo na cadeia histórica da comunicação verbal, efetivando uma aprendizagem significativa para os membros envolvidos no processo de construção do conhecimento.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.:
  • ABDALA, Nacir. Produção de texto: processo de avaliação/revisão.visitar link
  • BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais. 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental. Brasília, 1998, pp. 65-70. Texto adaptado pela Professora Maria Margarete Pozzobon, CULP/ULBRA.
  • BRITO, Vianna Eliana (org). PCNs de Língua Portuguesa a prática em sala de aula. SP; Arte e Ciência, 2003.
  • GERALDI, J. Wanderlei; BEATRIZ, Citelli. [Coord.]. Aprender e ensinar com textos de alunos. In: CHIAPPINI, Ligia. [Coord.] Coleção Aprender e ensinar com textos. Vol. 1. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1998.
  • GRIBEL, Christiane. Minhas Férias, pula linha, parágrafo. Rio de Janeiro: Salamandra, 1999.
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