Há um entreguismo praticado por um grupelho de publicitários,
executivos e endinheirados que vivem voando para Miami, bem no estilo do casamento
de Ronaldinho e Daniella Cicarelli (prenome e sobrenome com eles duplos), chique
como Fernando Collor de Mello. Tudo verniz, no primeiro conflito, dão
barraco, mostram sua essência.
Esse estrangeirismo exacerbado por subserviência cultural é que
faz aparecer projetos nacionalistas (outra praga) de proibição
de incorporação de palavras estrangeiras ao português, a
exemplo do apresentado pelo deputado federal Aldo Rebelo (PcdoB).
A resistência está no povo. Ainda bem que o povo brasileiro,
principalmente o do interiorzão, a exemplo do presidente Lula da Silva,
não gosta de inglês, se enrola todo com o idioma de George Bush.
Parece um paradoxo, mas é a simplicidade de nosso povo (ou, como querem
alguns, a ignorância) é que fará preservar a nossa cultura,
porque o império romano ao invadir uma região, atacava de imediato
dois elementos importantes da alma dos derrotados: a língua e a religião.
Convido professores de Português a trabalhar a música de Samba
do Approach, de Zeca Baleiro, como forma de conscientização contra
o estrangeirismo. Se algum colega quiser, tenho proposta de trabalho com a letra
da música. Basta solicitar.
Para não dizerem que seja ranhetice desse professor, reproduzo aqui
artigo do jornalista Eduardo Martins, consultor de língua portuguesa
do jornal O Estado de São Paulo:
Se o leitor precisar de um serviço diferenciado, basta utilizar
o e-business on demand de uma grande empresa internacional de informática.
Já a fabricante de aparelhos eletrônicos, para mostrar que busca
sempre o bem-estar do consumidor, tem como lema Ideas for life. E a companhia
brasileira de aviação oferece a todos nós o smiles one
way, uma forma rápida de computar a nossa milhagem.
Na grande feira anual da moda realizada na capital paulista, a São
Paulo Fashion Week, os fashionistas apresentam as suas criações,
que depois vão figurar nos anúncios com nomes como chintzed linen
jacket e grained calf light shoes.
As vitrines dos shoppings e os anúncios na imprensa convidam o público
a aproveitar as sales, que podem ser summer sales, winter sales e autumn sales.
Em todas as liquidações (definitivamente, o nosso não é
um idioma fashion), o preço dos artigos varia de 15% a 70% off e freqüentemente
incluem discontinued models. As promoções podem ainda chamar-se
Day Off e trazer uma inacreditável crase na indicação à
partir de. Em outros apelos, toda sale pós-Natal proclama o dia
seguinte como day after.
Seria injusto, porém, considerar o uso abusivo do inglês prática
exclusiva do universo de Gisele Bündchen. As competições
não ficam atrás. Assim, por exemplo, os bikers poderão
utilizar suas mountain bikes em qualquer edição da Bike Race Accross,
tão empolgante quanto a Paraty Land Adventure. Para recepções
grã-finas recomenda-se high black & white (ou black-tie preto e branco).
A Escrava Isaura, novela da Rede Record, foi, para todos os efeitos, um remake
(e jamais remontagem ou nova versão) da antiga produção
da Rede Globo. Também na TV, existem breaks e não intervalos comerciais,
e a avaliação da audiência se faz por meio de share e marketshare.
Por fim, quando homem se veste de mulher, mas não é gay, pratica
um crossed dressing.
Na economia, empresas fabricam tampas easy open, carros dispõem de
brake light (luz de freio não deve soar bem) e cartões de crédito
lançam programas como Membership Rewards. Agências de publicidade
buscam seu target (e nunca objetivo) e procuram valorizar o conceito de branding,
enquanto serviços de money market, financial drawback e call center se
difundem.
A dança das palavras, é justo reconhecer, atinge todas as áreas
de atividade: serial killer (por que não matador em série?), países
em default (eufemismo para calote), food service, festa rave, pit stop, teen,
warm up (que tal aquecimento?), playoff, feedback, input, know-how, interface,
ranking, catwalk, point, revival, catering, fitness lounge, happy hour, backstage,
hardcore, hitmaker.
Faltou algo? Claro. Mas, se banirmos o onipresente delivery, será que
vamos conseguir encomendar a pizza habitual? Alguma casa do gênero ainda
se lembra do anacrônico entrega em domicílio?