O advogado Nilson Faria, vice-presidente da seccional da OAB, Araçatuba,
me mostrou a capa da revista Veja 2 177, de 11 de agosto de 2010, cuja reportagem
principal era "Falar e escrever bem: rumo à vitória".
Até pensei que fosse uma inocente matéria sobre língua
portuguesa. Esperar inocência da Veja...
Comprei a revista meio a contragosto, que estava em liquidação
na banca por R$ 5,90, e percebi que se tratava de como os presidenciáveis
se saíram no debate na TV Bandeirantes.
Como eleitor, não assisto a debates, para mim é tão emocional
como um jogo de decisão entre Palmeiras e Corinthians. Não gosto
de sofrer, leio os comentários depois, principalmente de amigos de todos
os lados.
Segundo a reportagem da Veja e a transcrição de trechos, nossos
presidenciáveis estão mal no quesito idioma. Não se trata
de falar "nóis vai", mas de ter um pensamento confuso. Comportaram-se
como vereador de primeira candidatura. O nervosismo ficou evidente.
Se numa chamada oral, aluno e professor, aquele treme, imagine numa prova de
fogo, em que há milhões de examinadores de olho. O Plínio
de Arruda Sampaio (PSOL) foi bem, mas ele já sabe que será um
aluno reprovado, não tem nada a perder, ficou mais solto. Além
disso, ele é uma pessoa madura, com muita experiência, orador de
primeira. Os demais nunca fizeram discursos. Não fazem parte da velha
geração de políticos.
O presidente Lula comete erros grosseiros de português, mas raras as vezes
se expressa tão confusamente como fizeram os debatedores.
Estar bem psiquicamente ajuda a fluência. Não ter medo de errar,
considerar-se igual a todo mundo, não se achar inferior é outro
quesito importante para a boa expressão verbal.
Trecho embaraçado da Dilma:
"Eu inclusive terei todo um nível de apoio a um tratamento especial,
a investimento, inclusive no que se refere a acessibilidade, porque o Brasil
não está, não estava ainda preparado pra dar isso pras
pessoas e eu considero que, seja nos edifícios, e em todo uso de equipamentos,
isso é fundamental"
Eis um trecho confuso de José Serra:
"Eu vou valorizar, eu vou estatizar as empresas que já são
do governo no sentido que elas vão ficar servindo ao interesse publico.
E não de um partido, de um acordo político, ou de um grupo de
parlamentares, de deputados etc. Essa é uma questão muito importante
em relação ao que que a gente vai fazer com o patrimônio
do governo"
Marina escorregou gramaticalmente:
"O capitalista precisa de água potável, terra fértil
e ar puro. O trabalhador e a criança pobre, lá da favela do Coque,
aonde eu conheci o Dado, precisam também. Essa é uma luta generosa,
que se cada um de nós não fizer sua parte - Seje de esquerda,
de direita ou de centro - Nós não teremos futuro"
Até o ex-presidente Jânio Quadros, professor de Português,
escorregou, quando disse: "Fi-lo porque qui-lo". Certamente, ele quis
fazer rima, jogar com as palavras sonoramente, mas a colocação
pronominal correta, seria "Fi-lo porque o quis". FHC, com todo o seu
ph.D também deu suas escorregadas. Afinal, quem está com sua fala
exposta por 24 horas na mídia, num momento comete seus deslizes. Apesar
de minha flexibilidade e tolerância, os candidatos precisam melhorar.
(20.08.10)