A Garganta da Serpente
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O ensino da língua

(Hélio Consolaro)

A metodologia do ensino da língua-mãe, o português, possui várias correntes. Os professores gramatiqueiros, que reduzem o ensino da modalidade culta da língua às regras gramaticais, é uma raça em extinção. Atualmente existem profissinais no magistério estadual que desprezam totalmente o ensino da Gramática na escola, principalmente no curso de 1º grau. Alguns tomam esta posição conscientemente, outros, por não dominarem totalmente o assunto.

Já tive tentações de largar o ensino de Gramática de lado, só ensinar ler e escrever. Não tive coragem, porque se fizer isso, estarei sonegando do aluno o direito que ele tem de conhecer como nossa língua está sistematizada. Além disso, os vestibulares, concursos públicos exigem tais conhecimentos.

Gostaria muito de que a gramaticalidade de nossa língua fosse ministrada com base nos preceitos da Lingüística. Já há livros didáticos publicados nesta direção, mas todos fadados ao fracasso porque não há consenso nacional a respeito, pois se me atrevo a ensinar a gramaticalidade numa perspectiva lingüística, como iniciativa isolada, acabo prejudicando meus alunos em futuras avaliações (vestibulares, concursos, provas de seleção) que exigem a Gramática tradiconal. Também existe, para segurar qualquer avanço, a NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira) que ainda está em vigência.

Na escola, ministro lições sistematizadas de Gramática, porém o objetivo de seu ensino não é essencial, não será critério para reprovar o aluno. Os objetivos essenciais para mim são leitura e redação. As provas de Gramática são feitas pelo aluno com consulta de livros e caderno.

Esta discussão é velha, Said Ali, no começo do século, já dizia "Em matéria de ensino não há, que me conste, disciplina que nestes dois a três lustros tanto se tenha maltrado como a língua nacional, e o mais curioso é que justamente o intuito de metodizar o estudo da Gramática, dando lhe um cunho científico, produziu na prática um resultado negativo...".

João Ribeiro, em 1930, no seu livro Gramática Portuguesa, escreveu: "Tenho visto que muitos alunos de Português sabem talvez analisar (análise sintática, por exemplo), mas não sabem ler, nem entender o que lêem, e ainda menos escrever corretamente, sem falar aqui do que ignoram a história da língua".

Parabenizo o colega (professor de Português) que estiver angustiado com o ensino da modalidade culta de nossa língua-mãe, à procura de caminhos. Tal mestre é responsável, quer o melhor para o seu aluno, a sua dúvida é fruto do saber acumulado.

Triste é saber que há um grande grupo para quem tais angústias ainda não chegaram, porque a sua fraca formação universitária não lhe permite formular questionamentos de tal nível a respeito dos objetivos de sua disciplina.

Recomendo aqui a leitura do livro (opúsculo) "Ensino da Gramática. Opressão ou Liberdade?", de Evanildo Bechara, Editora Ática. Ele trata muito bem deste assunto.

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