Escrever é antes de mais, um acto consciente, pluralista, sem grilhetas
ou retrocessos.
Quando da inicial, começar-se qualquer coisa (que leve ao autor a real
capacidade, para desenvolver, de fora para dentro, o que dentro julga ter, como
a algum tipo de verdade), dista já daí quer o que distancia, quer
também o que predomina, num contexto residual, sobre qual - o ainda autor
confesso - vai ter que ter de saber lidar, ao olhar para essas coisas, como
coisas fora de si, adentro outras tantas casualidades temporais (...)
Quanto muito caberá ao escritor, em boa consciência, flexibilizar
a sua força monopolizadora, refreando-lhe o sentido, ora suavizando-lhe
a forma, usando para isso quer de um bom senso pessoal, quer ainda fazendo-se
usufruir, de grada experiência, que ele sempre tem, de e para com as "massas",
totalmente irresponsáveis e dificilmente organizadas.
Não existe aqui, contudo, pertença alguma, quanto muito certa
cedência (que se deseja mínima), de ambas as partes, numa correlação
de esforço sincero - pragmático, quanto baste -, pois que assim
escrever é como a um ofício, que, sendo bem desempenhado, moverá
montanhas, despertando mentes, de muitos e maus vícios, no senso de si.
Assim sou eu - e ao que vou e sinto -, enquanto escrevo: uma imensa responsabilidade,
que bem acato.
(10/12/04)