Temos aí na imprensa a notícia de um Curso de Formação
de Escritores e de Agentes Literários.
Várias pessoas afinadas com o mundo dos livros estão se manifestando.
O assunto é interessante e vários escritores, intelectuais, leitores
e também os naïf das letras (artesãos da palavra, turma esta
na qual me incluo), estão a discutir sobre a presença do escritor
diplomado na sociedade brasileira. De um pouco, tudo se diz no papo virtual
da revista Cronópios, mas há muita discussão ainda a ser
feita.
Cheguei a escrever uma página onde via como válido um curso para
formação de agentes literários mas depois de reler meu
texto, dar uma volta pela casa, ouvir música e dançar, fiquei
bem leve, foi quando me veio à mente a palavra CÂNONE.
Esta palavra foi suficiente para me dar uma sensação de aborrecimento
pois me fez lembrar do episódio onde uma doutora empanturrou-se tanto
de cânones que até seus olhos ficaram embaçados. Tal senhora
assim canonizada, ameaçou processar criminalmente uma escritora que,
defendia pontos de vista diferentes dos seus e, quanta audácia, fora
dos cânones do ofício!
Ai ai ai que canseira me dá certa gente diplomada.
Me lembrei das pessoas que me incentivam a publicar e demonstram que escrever
é também praticar o exercício da cidadania. É pensar
antes, durante e depois da ação de escrever. Escrever é
compor, há uma música que vem ao ouvido. É coisa muito
íntima, exílio, solidão que não se ensina. É
de abrangência tão mais ampla e multifacetada do que um curso possa
suprir. Ser escritor não é muda que dê de semente, nem de
galho. Será bem difícil criar em cativeiro essa categoria. E olha
que eu gosto de tecnologia!
Alguém disse que o dinheiro compra até amor verdadeiro. Quem sabe
em laboratório super equipado orientados por escritores consagrados se
formem escritores de sucesso?
Já os componentes dialéticos propulsores (que só o sujeito
e sua própria história em processo ininterrupto são capazes
de gerar), do vômito da palavra, daquilo que diferencia o ser que escreve,
do ser escritor, são desafios da fabricação in vitro.
Me lembrei que o escritor diplomado poderá vir a ser o opositor do homem
que não fez escola, não tem diploma, não é treinado,
não tem um discurso coerente, decente.
Me lembrei que o escritor sem diploma não tem decência, não
tem coerência com o já estabelecido, não tem o aval dos
cânones e, aí mora a sua roça. Exatamente na instância
do escrever descaradamente é que reside a genuinidade do sujeito escritor.
Esse "desqualificado" sem diploma fazendo arte e ou provocando sua
cidadania desgarrado de qualquer professor, é mestre de si. Quem vai
julgar sua competência pode ser o leitor, pode ser o tempo.. . E os poetas,
estariam livres? Ou será que alguém vai ensinar outrem a se emocionar
assim e assado?
Mas, pensei também, se uma universidade bem conceituada junto com a ABL
o que, em tese, é a nata da literatura no Brasil, decidem por bem inaugurar
um curso para diplomar escritores não é esta dona de casa aqui
ao litoral sul do Brasil, que vai empombar !
E olha gente, sei valorizar um diploma, agora mesmo estou voltando aos bancos
escolares para iniciar um curso, só não consigo simpatizar com
uma "facul" para diplomar escritores. Ainda não me convenci.
Quem sabe daqui a uns tempos.
Que venham os escritores diplomados, ninguém há de conter o "de
tudo um pouco" que se cria e criar-se-á neste grande mercado que
viraram nossas vidas.
Quando as "faculdades por correspondência" afixarem seus cartazes
"BREVE AQUI, DIPLOMAS PARA ESCRITORES!" por certo uns e outros irão
torcer seus nasais.
Por fim vale lembrar de Lima Barreto, e Cruz e Sousa, escritor e poeta enlouquecidos
de dor e desamparo que morreram no abandono. Homens que embora imensamente talentosos,
não faziam parte da plêiade oficial, dos "diplomados"
da época.
Enquanto a internet ainda não é privilégio dos diplomados
canônicos, vou teclando, me misturando aos saltimbancos e menestréis.
De preferência, sem reis para louvar.