A Garganta da Serpente
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Escritora... Eu?

(Maria José Zanini Tauil)

Certa vez, uma pessoa disse-me que sou escritora formada. Absurdo!

Ter estudado teoria literária ou a língua pátria não faz de ninguém um escritor.

Tenho brilhantes amigos, escritores e poetas, médicos, advogados, jornalistas e muitos não intelectuais, criativos e talentosos, porque escrever é dom como desenhar, pintar e fazer música.

A literatura estabelece a comunhão entre os homens, aproxima-os, mesmo à distância e o tempo não conta. Sou contemporânea de Shakespeare porque falamos a mesma língua, o amor é exaltado em qualquer época. Tenho inúmeros amantes noturnos entre autores clássicos e contemporâneos, que se enfileiram na cabeceira de minha cama e me visitam à luz do abajur. Ultimamente, tenho lido Quintana, Augusto dos Anjosler poemas na Toca da Serpente, Lettie Cowman, Lya Luft e Ray Silveira ler poemas na Toca da Serpenteler trabalhos em Contos de Coraller textos em Veneno Crônico.

Alguns sentem que a crônica é a sua praia; outros preferem ver o mundo poeticamente, outros gostam de argumentar, outros de criar narrativas curtas ou longas. Assim como um bom violonista também gosta de experimentar o teclado, um poeta escreverá crônicas, um romancista, textos de opinião; ou ainda um jornalista, letras de música.

O leitor costuma confundir-se com os textos em primeira pessoa. Com poesia então, ocorre demais. Se falo de um amor sofrido, impossível, as perguntas são: "Está tristinha? O que aconteceu? Você anda estranha!"...Já me chamaram até de "mal-amada". Nem todos entendem que, assim como nos romances existem personagens, protagonistas e antagonistas, na poesia existe o "eu" lírico,que é "personagem" da poesia. O poeta fala por ele, entra em sua pele. Lógico que também existem as poesias confessionais, onde o poeta descreve suas dores de amores.

Não faz parte da minha vivência, (infelizmente) (risos ou sniff?) nenhuma paixão arrebatadora... Casada há trinta e dois anos com o mesmo marido, o fogo da paixão já se extinguiu, o amor se solidificou, empedrou, não corre riscos...

Aí,o que faz a poeta? Deixa de escrever? Aposenta a caneta e o caderno? (ainda os uso). Não... O poeta pinta seus pensamentos de azul, deixa o céu entrar pelos olhos, chega à culminância do sonho, tem uma sensualidade tempestuosa, uma alegria imaterializada, vê a sombra de seu vulto na antecâmara do nada. Através do sujeito lírico, ama, é amado, chora, ri, sofre, tem saudade... Se dá ao luxo de ser louco! Afinal, um pouco de loucura não faz mal a ninguém!

  • Publicado em: 26/08/2005
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