RESUMO: Narra a história de adultério cometido por Luísa
- esposa de Jorge, um engenheiro de minas, que sempre precisa viajar a trabalho
- com um primo que a deixou , sete anos atrás, ao perder tudo e ser obrigado
a ir para o Brasil tentar a sorte e de lá mesmo rompe o namoro com a
prima, através de uma carta. Após esses sete anos, Basílio
de Brito retorna para Portugal, como negociante de madeira, onde ficará
um tempo e como não havia muito o que fazer, resolve procurar a prima
e utilizar tudo que suas viagens à Paris lhe ensinou, de forma bem cafajéstica,
para conquistá-la. Entre encontros e mais encontros, há a malícia
dos outros personagens que a tudo assistem, sendo que Juliana , sua criada revoltada,
irá furtar três cartas dos amantes ( duas de Basílio e uma
dela) para chantageá-los. Começa então uma outra fase da
narrativa, já que a primeira mostra o adultério em si, nesta mostrará
detalhes de conflitos entre Luisa e Juliana que chegam a trocar de posição
social, de papéis, culminando com a morte das duas..
PALAVRAS CHAVES: ADULTÉRIO
REALISMO
O romance, apesar de ser uma tipificação literária do
Romantismo, é um recurso utilizado por Eça de Queirós para
narrar, melhor, fotografar de forma notável uma história sobre
adultério, numa classe média lisboense, utilizando a ferramenta
realística dos detalhes minuciosos que consegue fazer com que personagens
planas possam ser nitidamente identificadas dentro deste contexto sócio-econômico.
Eça se dedica ao realismo mesmo na época do Grupo do Cenáculo,
onde apresenta a 4ª conferência com o assunto: O Realismo como
nova expressão da arte.
Apesar de dar maior valor ao enredo que é o adultério, Eça
constrói personagens adaptados para o realismo colocando em cada uma
as peculiaridades que denotam verdadeiras caricaturas do pequeno burguês
lisboense. Ele constrói personagens de fora para dentro, que também
é uma característica do realismo, ou seja, cada personagem é
conhecida por suas próprias falas e comportamento, por suas opiniões
e lugares onde vivem. O autor para descrever Basílio recorre até
dos pensamentos do personagem.
Em cada capítulo há sempre cenas e falas que caracterizam a época
com uma perfeição que comprova o perfeccionismo do autor em reescrever
os capítulos mais de cem vezes. Há descrições que
nos forçam a reler várias vezes, tamanha é a autenticidade
dos objetos e pessoas e lugares descritos. Alguns críticos até
ressaltam tais passagens.
O autor onisciente, trabalha com a terceira pessoa, em um discurso indireto
sem pronunciar julgamentos, o que afinal nem se faz necessário, já
que se consegue vislumbrar nos detalhes toda forma de crítica aos opositores
do Realismo. Temos em cada personagem a crítica viva de tudo que há
na sociedade burguesa e até na sociedade descrita dos empregados.
O mais interessante é que Eça conseguiu delatar toda a realidade
menos em fatos, mais em personagens e seus comportamentos. É precioso
demais a construção plana dos personagens sem aprofundamento psicológico,
característica do Realismo, e mesmo assim despertar um interesse grande
em conhecer todo o desenvolvimento da obra. Não há rede psicológica,
ao contrário, há diálogos fúteis e medíocres
que nos arrastam pela novidade em mostrar a realidade limpa, sem máscaras,
expondo desde a rejeição ao romantismo aos assuntos como adultério,
característica
também do Realismo.
A superficialidade dos personagens e o tema adultério foram peças
fundamentais para incitar ao público da época que já andava
enfadado pela subjetividade pegajosa do Romantismo, sem contar que a Europa
já estava bem além de Portugal em novidades e novos pensamentos,
resultado da Revolução Industrial que gerou um mundo com novas
correntes a partir do Positivismo de Auguste Comte.
A era do objetivismo e comprovações científicas está
evidente no Primo Basílio, através de Jorge, marido de Luisa,
que era a favor da ciência, um engenheiro de minas.
Centrando-nos no enredo temos um romance entre Luisa e o Primo Basílio
em Portugal, que acaba quando os país de Basílio perdem tudo e
ele é forçado a ir para o Brasil, de lá escreve uma carta
terminando tudo com Luísa.
Luisa fica triste, mas nada a impede de pouco depois se casar com Jorge. Este,
é o protótipo do esposo perfeito, ou seja, sempre ausente, deixa
a esposa em casa por vários períodos de tempo, viajando a trabalho,
que mais tarde, é revelado ser também para seus adultérios.
Revelação essa surpreendente e muito bem elaborada, em um capítulo
em que o amigo de Jorge, o senhor Sebastião, deixa Luisa ler uma carta
em que devassamente Jorge relata seus casos com detalhes fortes para a época,
um segredo que morre com Sebastião e Luisa.
O autor logo no início do romance com o propósito de apresentar
os personagens secundários, relata as reuniões que sempre aconteciam
na casa de Jorge aos domingos.
Após sete anos de separação, Basílio volta para
Portugal bem sucedido, com negócios no ramo de madeira, e juntamente
com amigo fica no hotel central alguns dias, dias estes que se transformam em
um grande dilema para Luisa.
Basílio sente vontade de ir ver a prima e ao visitá-la, fica feliz
pela ausência do marido, detalhe que o autor deixa claro o caráter
do primo. Neste capítulo e alguns outros, todo o comportamento de Basílio
é de um homem prepotente e sedutor, além de cafajeste. Critica
a prima o tempo todo, ao mesmo tempo, em que tenta conquistá-la com sua
astúcia. Fala o tempo todo de Paris, onde passou um bom tempo. Tudo em
Paris é melhor. Além de realçar o quanto o adultério
é " um dever aristocrático" em Paris. Chega a influenciar
a prima em seu modo de vestir. Diante de tantos encontros e seduções,
Luisa que já era contaminada pelas histórias dos folhetins românticos
que passava manhãs a lê-los se sente cada vez mais tentada a ser
como todas. Até sua cozinheira Joana tinha seu homem às escondidas.
Recebia influência também de sua amiga do tempo de solteira, Leopoldina
que apesar de casada com João Noronha, dormia em camas separadas e tinha
vários amantes sem nada encobrir , nem mesmo do marido que a tratava
como um animal. Leopoldina era uma amiga íntima que Jorge proibira de
recebê-la na casa deles, pois todo mundo falava dela, que cheirava a feno
e tabaco e tinha a alcunha de pão-e-queijo. Tinha 27 anos era uma mulher
tão linda e bem desenhada que " quase tinha atração
por ela , parecia a estátua de Vênus", dizia Luisa. Leopoldina
descrevia seus encontros em detalhes que fervilhavam na mente de Luisa, trocava
muito de amantes, mas em um capítulo, nestas confidências com Luisa,
desabafa que de todos os seus casos nunca haverá tal igual ou melhor
do que foi com Joaninha, os tais sentimentos; veja aqui, o leitor que
foi uma alusão ao homossexualismo, que na época foi de muita coragem
do autor expor tal assunto. Outro assunto em questão que foi forte para
a época o incesto, afinal eram primos.
Eça faz questão de retratar várias classes sociais com
o mesmo comportamento adúltero. Tudo fica claro pela construção
do superficial, seja nos personagens, seja nas situações ou lugares.
Mas, sigamos adiante, já que Basílio consegue atrair a prima aos
poucos, chegando a arrumar um lugar para os encontros que se tornam diários,
causando muitas fofocas pelas ruas, nestes dias de ausência de Jorge,
chegando aos ouvidos de Sebastião que tenta falar com Luisa e não
consegue. Procura por Ernestino Ledesma, primo de Jorge, um funcionário
da alfândega, insensível ao caso de Luisa, vivia absorto em seu
passatempo que era o teatro, e que em todo o enredo se prepara para apresentar
a peça " Honra e Paixão" , recurso metalingüístico
utilizado pela autor, por se tratar de adultério, onde Ledesma chega
um dia a perguntar para Jorge sobre como escrever o desfecho e este diz que
mataria a esposa sem dúvida, pois era objetivo. Ledesma nada consegue
além de receber de Luisa menosprezo, pois estava hipnotizada pelas falas
de Basílio e passou a desprezar todos os amigos. Até mesmo D.
Felicidade, amiga da família fervorosa religiosa, louca pelo Conselheiro
Acácio, também ignorado, era apelidado Del Rey, amigo de jorge
e padrinho de casamento, tinha seus títulos honoríficos pelos
escritos científicos que fazia. Até um guia da cidade escreveu.
Sabia tudo que se passava até na sociedade imperial. Respeitado e solteiro,
tinha uma amante escondida em sua casa, que se passsava por sua criada.
Luisa, envolvida pelos folhetins cria inúmeras sensações
através da descrição do autor, do local dos deuses que
Basílio teria reservado para os dois. Mas ao chegar no primeiro dia ao
local, um susto engasgado, tudo era exatamente o oposto de tudo que sonhava.
Mais uma vez Eça descreve o local com tanta minucia que até o
choro de uma criança chega a encomodar os ouvidos do leitor. Era um lugar
além de pobre, sujo e usado por muitas pessoas. Mas os beijos de Basílio
e suas falações sedutoras envolvem Luisa que se deixa levar mesmo
que nada pudesse ter a beleza de seus devaneios. Com o tempo esses encontros
tornam-se rotina e há vários desencontros, porém o don
juan, consegue tudo superar e trazer de volta sempre Luisa para seus braços.
Sebastião tenta mais uma vez alertar Luisa para o que as pessoas estão
a falar dela. Sem sucesso, Luisa consegue enganar Sebastião dizendo que
estava indo visitar D. Felicidade que havia sofrido uma queda e estava de repouso.
Basílio continuava a exaltar Paris e até dizia " Paris tudo
melhor que Portugal, Brasil tudo pior que Portugal", há muitos preconceitos
ao Brasil no romance de Eça de Queirós. Mais evidente em Luisa
quando utiliza as expressões: " ar nordeste" para mostrar que
não gostava de Julião Zuzarte, cirurgião amargo com silêncios
hostis. Ou ao referir aos empregados de " negrinhos". Já o
Basílio diz que " a Bahia não o vulgarizara" e ao responder
Luisa sobre não ter casado - "como poderia casar no Brasil, com
uma mulata?"
Existe no romance uma personagem muito bem elaborada pelo autor, pela escravidão,
pela classe explorada, uma personagem única que o autor a faz esférica.
Uma personagem que faz sobressair o socialismo científico, uma personagem
que impregna a mente do leitor com suas formas e seus venenos expelidos em revolta
total contra todas as madames, a classe exploradora. O autor mais uma vez descreve
através do pensamento de Juliana cada milímetro do espaço
de onde ela vive ao terminar todo o serviço, o quase teto da casa, úmido,
mal cheiroso, incapaz de se dizer que há vida humana ali, e isto porque
a empregada já havia contraído uma doença antes do casamento
de Jorge ao cuidar da tia dele, Virgínia Lemos. Juliana se dedicou a
cuidá-la até adoecer, carregava um aneurisma. Achou que iria receber
em dinheiro a dedicação, mas só conseguiu um emprego vitalício
na casa de Luisa e Jorge.
Juliana Conceiro Tavira, única personagem que falou seu nome por completo-
não o autor e que dizia " vinte anos que mudava de amos e não
mudava de sorte". Juliana é a personagem que irá tentar chantagear
os amantes com o furto das três cartas, é a personagem que irá
enriquecer a obra quando os encontros dos amantes cessam , afinal, o cafajeste
foge para o Brasil quando Luisa fala que Juliana está com as cartas e
a chantageia. Juliana vai a enculcadeira-Tia Vitória uma mulher que lhe
dirige as ações para arrancar dinheiro dos amantes. Quando manda
Juliana buscar o dinheiro com Basílio e este já havia deixado
Portugal, um ódio mortal arrebanha Juliana que chega em casa aos gritos
com Luisa. Desde esta cena, Juliana começa a explorar Luisa, que sem
saber mais o que fazer, pois tentou até se prostituir com um homem que
Leopoldina disse fazer qualquer coisa por ela, mas em vão, fez foi bater
em Castro. Luiza chegou também a escrever para Basilio pedindo dinheiro,
mas não obteve notícia alguma, só silêncio.
Aos poucos Juliana foi exigindo tudo do bom e do melhor, já que Luisa
não dispunha do dinheiro, tudo que Luisa usava ela queria prá
si, era só jogar uma indireta e lá estava no quarto dela o que
queria. Era tanto a raiva de Juliana que parava até de trabalhar, deixava
tudo sujo e saia, Joana, a outra empregada nada entendia, pois passou até
a fazer serviços que eram de Juliana.
Jorge volta para casa e acha tudo muito estranho. Luisa vivia defendendo os
maus serviços de Juliana e acobertava suas saídas. Luiza passa
a fazer serviços de Juliana, como engomar, varrer, limpar e ficou debilitada,
mas sem deixar de fazer os serviços escondido. Algumas vezes foi pega
fazendo estes serviços mas dava explicações que deixavam
Jorge cada vez mais sem entender nada. Jorge passou a debochar, a fazer cinismo
com D Juliana que não podia ser mandada embora. Tudo chegou num ponto
inaceitável, que Luisa teve de falar com Juliana que Jorge iria despedi-la,
o que deixou Juliana com muito medo de perder emprego. Então ela volta
a agir como empregada e Luisa tem uma fase menos pesada. Mas Luisa ainda assim
procura Sebastião e lhe relata tudo que vem padecendo. Foi o melhor que
fez. O autor descreve Sebastião cuidando de detalhes para salvar Luisa
das mãos de Juliana. Ele contrata um oficial, através de um amigo
da guarda, e vai para casa de Luisa, onde não teria ninguém ,
pois também arrumou entradas para a peça Fausto onde todos estariam:
Jorge, Luisa, Conselheiro, D. Felicidade e a família real nos camarotes.
Chega na casa e pede as cartas de volta caso não as devolva lhe entregaria
ao policial que estava na sala. Juliana se enfurece tanto que um ataque lhe
joga ao chão sem vida. Sebastião fica estático sem saber
o que fazer. Com muito custo resolve buscar Ernestino. Este frio como era, só
fez Sebastião ajudá-lo a levar o cadáver ao sótão.
Um dia, após alguns de paz com a morte de Juliana, Luisa ainda estava
com a saúde debilitada, estava acamada, chega uma carta, Jorge não
se contém e a abre e lê palavras de um amante. Jorge se desespera,
conversa com Sebastião que nada fala, mesmo sabendo de tudo. Jorge passa
a entender tudo que se passava, entende que Juliana sabia de tudo e chantageava
Luisa.
Jorge tomado pelo desespero tenta falar com Luisa que sabe de tudo, mas não
consegue, vê Luisa indo embora, com crises e mais crises, dois médicos
que trocam informações cientificas, mas que sabem não ter
mais jeito. Luisa morre. Morre pela chantagem de Juliana. Não pelo Adultério,
tema central de toda obra. O personagem principal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: O romance de Eça de Queirós
é uma obra perfeita para delatar todos os pontos frágeis e desnudos
da sociedade burguesa Lisboense. O autor consegue em descrições
fotográficas criar cada personagem de fora para dentro, consegue colocar
tipos realistas, consegue descrever de forma tão minuciosa que parece
nos colocar dentro da história também. Sua tese parece ser contra
o casamento, uma fórmula administrativa, que vive de aparências,
já que o adultério aparece em todas as camadas da sociedade.
A preocupação do autor foi retratar fielmente a época e
o novo movimento literário que se insurgia rupturando com o Romantismo.
O autor faz questão em demonstrar em detalhes, características
evidentes do Realismo. São claras e perfeitas, apesar do escritor brasileiro,
Machado de Assis dizer que a única conclusão que chegou com esse
romance é de que: " Se quisermos ser adúlteros escolhamos
bem os criados". Uma forma cruel e pesada de avaliar uma obra que parece
ter dado muito trabalho ao autor em pesquisa e elaboração de personagens.
A obra mesmo que dizem sem tese, é valiosa pelas descrições,
pela forma nova de retratar o ser humano, com o que ele é, e faz sem
atenuantes. A maneira como Eça descarta o romantismo e traz suas personagens
fiéis ao Realismo é divina. A personagem Juliana é única
que destoa dos outros, afinal é ela que carrega o romance para os capítulos
finais. Machado faz comentários expressivos da obra de Eça, comentários
maravilhosos, mas não consegue se livrar das irradiações
do Romantismo e não consegue ver as belezas e sujeiras de um ser humano
descrito em sua essência real sem pintura alguma. Nada melhor que ver
a realidade. Veja por Luisa ao se descuidar da realidade e se vestir dos folhetins
foi dar de cara com a realidade e se machucou. A vida nos dá o real,
mas nós teimamos em mascará-la, daí tantas decepções.
Eça é perfeito com seu Realismo, aliás como diz Saraiva
" Eça é menos político, menos filósofo, mais
artista". O artista consegue denunciar o real de forma sucinta sem precisar
fantasiar. Todos os personagens são colocados no lugar certo, com as
falas devidas, mostrando as figuras que existem em uma sociedade, dando aos
principais e secundários a real existência de cada um, sem deixar
nenhum cair na indiferença. É maravilhoso o modo como descreve
uma criada revoltada e através dela Eça nos mostra como vive toda
uma parte da humanidade. E recorrendo das descrições, dias destes
ao ver sentados à mesa, almoçando, alguns empregados do próprio
restaurante, em um horário que com certeza não mais havia comida
decente, enxerguei o mundo de Juliana em pleno século XXI. A realidade
de Eça é tão cruciante e nítida que podemos enxergar
os males do Socialismo Científico até os nossos dias. E quantas
pessoas hoje, são como Luisa, Basílio, Acácio, Felicidade,
Leopoldina. E mais ainda, o adultério é o prato do momento, quem
pode me citar um casamento sem adultério, e pior, sem filhos com outros.
O que era o começo, aqui está totalmente tomado. E certifica-se
que no mundo tudo troca de nomes, mas a humanidade, as pessoas continuam sendo
as mesmas, aquelas que fazem divisão, que criam situações
que separam classes, que criam as mesmas circunstâncias, que fofocam,
que possuem suas opiniões.
Eça faz do adultério uma parte da obra, a outra parte retrata
o comportamento expressivo, maravilhoso de classes. A relação
Juliana e Luisa é tão rica quanto foi a de Luisa com Basílio,
o que muda são os interesses. Basílio queria Luisa como objeto
de satisfação sexual; Juliana queria tudo que Luisa possuía
de material. Luisa queria brincar de ser dama parisiense que trai marido sem
ter problemas. Luisa queria apenas voltar a viver com Jorge como se nada tivesse
acontecido. Basílio nada era para ela, afinal quando a deixou a sete
anos atrás, Luisa tratou logo de esquecê-lo, casando-se com Jorge.
Quando ele retornou, viu apenas em Basílio o espelho da sociedade de
Paris e a oportunidade de viver seus devaneios. Machado acha um absurdo esse
adultério sem paixão. Imagina se Machado conhecesse o termo ficar
de nossa época. Ficaria horrorizado. Mas voltando à obra, o fato
de colocar uma peça que também fala em adultério - Fausto
- foi também uma arte a mais no desenvolvimento da história. Eça
consegue descrever ambientes fora e dentro dos lugares em que se encontram os
personagens.
Dentro do Realismo, todo o enredo e seus personagens são perfeitamente
escolhidos e trabalhados, afinal cumprem dignamente seus papéis:
Basílio com toda sua sutileza de um verdadeiro don juan, que não
se casara pois vivia com amantes e sempre citava Constatine a parisiense que
deveria ter trazido para Brasil, um homem viajado pela Europa e que desprezava
tudo dos outros países, tudo de bom era Paris, não aceitava qualquer
comentário, sempre completava que de Paris era melhor, Eça o descreve
tão bem neste aspecto que há momentos que ele se torna esnobe,
um chato, dá até vontade de mandá-lo de volta para Paris
com seu ego;
Luisa com seus sonhos de quem não tem mais nada para fazer em uma rotina
entediante, como bordar, tocar piano e ler seus folhetins e dar ordens às
criadas; uma esposa que "pensava em escrever para o marido para matar o
tempo, mas estava com preguiça.";
Conselheiro Acácio imponente, com seus títulos honoríficos,
seus textos politizados e sociais, sua amante, uma sigilosa criada;
Leopoldina uma mulher infeliz que não aceita a forma grosseira e não
ciumenta de seu marido, que não se sabe se fora sempre assim, ou se tornou,
após os inúmeros casos de adultério dela, e esta , ficava
triste por sua condição tão falada, sendo que todas as
damas da alta tinham seus amantes e não andavam na boca do povo;
D. Felicidade cinqüenta anos, sentia uma paixão platônica
por Acácio que não se realiza nunca e todo o romance há
uma expectativa que ela consiga, no entanto, em um capítulo em visita
à casa de Acácio, nota-se dois travesseiros em sua cama e assim,
a confirmação de que ele tinha uma misteriosa companhia.
Jorge o marido que nada deixa faltar a esposa, um homem sério e recatado,
mas que em suas viagens, se mostra outro, é um adúltero de várias
mulheres e várias cobiças. O autor tenta fazer de Jorge o exemplo
vivo do adepto do Realismo, mas com poucos referenciais, poderia ter explorado
mais o tema Realismo através dele;
Joana uma segunda criada sempre na ausência dos amos, acena um pano branco
ao marceneiro e logo, vem ele para horas gostosas de entrega.
Juliana a mais diferente de todos as personagens era sempre sozinha, e sempre
seu único desejo estava em ser uma madame e ter seu canto. Descrita com
toda sorte de aparência feia, vivia com dor, vivia trabalhando e sonhando
o impossível: o dia em que seria uma madame. Uma ardilosa arma que mostra
o social, que mostra a injustiça, que mostra uma pessoa com um ódio
e revolta justificados a tal ponto, que não conseguimos sentir aversão
pela personagem, ao contrário, sentimos a grande injustiça e egoísmo
do ser humano. O fato de Eça ter dado tanto valor a uma personagem raquítica
e feia e doente mostra a seriedade com trata o Realismo. Só lamento que
naquela época nenhum criada pôde se deleitar com o que Juliana
faz com a ama, pois não deveriam saber ler;
Ernestino Ledesma um amante do teatro e amigo de Sebastião, que descobre
que Jorge mataria a esposa se ela o traísse;
Julião Zuzarte um cirurgião que só tem nome e nenhum bem,
acha a profissão sem futuro, compara Luisa com Eugénia Grandet
de Balzac quando Sebastião lhe fala dos encontros dela com o primo;
Literatura como arma de combate, de reforma e ação social,
eis o lema dos que abraçam o Realismo em seus romances.