O texto "Cópia e plágio na internet" gerou alguns debates
sobre assuntos relacionados. Uma amiga disse que já confundiu seus textos
com os de outros autores, como se ela tivesse escrito algo que outro autor escrevera
antes, e não sabia se isso tinha a ver com mediunidade.
Existem muitos textos que se assemelham na temática, mesmo que um autor
não tenha intenção de plagiar outro. O filósofo
Platão acreditava no mundo das idéias, onde existiam as idéias
primordiais e eternas que encontramos na natureza. O que conhecemos como realidade
seria uma sombra ou cópia da idéia padrão. Certamente ele
não falava do tipo de cópia e plágio a que nos referimos.
Quem sabe a amiga aflita com a idéia da mediunidade estaria certa se
considerássemos o que Platão chamou de reminiscência
, ou seja, as almas contemplam as Idéias e guardam-nas como lembranças
que podem ser despertadas. Assuntos ligados a esse são mediunidade, idéias
inatas e reencarnação.
Jung, na Psicologia Analítica, falou sobre as idéias universais,
ou os arquétipos que formam nossa psiquê, e ampliou os conceitos
relacionados à alma. As idéias arquetípicas são
adquiridas pela mente quando a alma, antes de vir ao mundo, contempla os arquétipos.
O inconsciente coletivo é formado pelo acesso ao arquétipo e atua
individualmente, por exemplo, nas produções literárias.
Será que textos e temas parecidos são o reflexo intuitivo do que
os autores recordam das imagens primordiais de Platão e Jung? Ou pode-se
aceitar a teoria de Santo Agostinho, para quem as idéias universais surgiam
pela iluminação divina? Há dezenas de teóricos sobre
o Conhecimento e as Idéias com outras sugestões, afinal, os conceitos
de Idéia e Conhecimento mudam de tempos em tempos. Mas todos admitem
que há temas universais que afligem os seres humanos, e esses temas podem
ser expressos nas obras artísticas e literárias. Sendo assim,
essas idéias não têm dono.
Como em toda época, há os que acreditam no conhecimento como bem
da humanidade, como Platão e Jung; e os que acreditam que o trabalho
intelectual é pessoal e o seu direito deve ser garantido ao autor. Quem
pode dizer sobre o autor da Língua Portuguesa? Como saber quem foi o
primeiro ser humano que pronunciou os primeiros fonemas em latim?
Temos visto na história que a divulgação e a partilha de
idéias é proveitosa para todos. Mas não parece tarefa fácil
definir o que é de todos e o que precisa ser protegido.
Propriedade intelectual é o nome moderno que garante ao responsável
por uma idéia o direito de produção. Invenções,
desenhos e obras artísticas são exemplos de propriedades intelectuais.
A noção de autoria estará ligada a de propriedade intelectual.
O direito autoral protege as produções publicadas e também
os softwares . Mas nem a noção de autoria parece estar
devidamente acertada. Quem é dono do software livre? Quem é dono
da Wikipédia , página da internet onde existem informações
registradas em cooperação com milhares de autores?
Livros são disponibilizados na internet e podem ser copiados, assim como
programas, jornais, músicas e outros arquivos gratuitos. Claro que muitos
divulgadores têm objetivos comerciais. Da mesma forma, nem todos os que
copiam têm objetivos éticos.
A Biblioteca Nacional responde na sua página que as idéias não
são protegidas pelo direito autoral. As idéias que estão
na forma de obra intelectual é que são protegidas.
Sabemos que em toda obra, antes de ser expressa, existe uma idéia. Essa
idéia não tem dono, pertence a todos, mas o trabalho feito pelo
autor tem dono, de acordo com as leis atuais da propriedade intelectual. Desde
que as obras estejam registradas, ainda pode-se brigar pela autoria.