Fernando Pessoa era muito vago e impreciso na sua crença em Deus. Acredito
que de certa forma não acreditava Nele, por causa da brincadeira onírica
dos seus versos, das suas prosas metafísicas e da sua poesia. Entre o
acreditar e o não acreditar, o Fernando Pessoa decidiu em abster-se em
colocar uma opinião definitiva e formal sobre o GADU. Já o José
Saramago não, o Saramago sempre foi muito conciso e claro quando declarou
reiteradas vezes em não acreditar Nele.
Dois poetas, ambos portugueses, vivendo em épocas distintas da história
e carregando em si as mesmas preocupações filosóficas acerca
da existência de Deus. Preocupações existenciais que ocupam
os momentos dos homens que lidam com a ferramenta dos seus pensamentos e fazem
das suas idéias instrumentos de definição das coisas, das
causas, das hipóteses, do anima, do ser ou não ser da existência
humana. Falam também sobre a existência divina ao se referirem
a Deus, embora alguns homens professem em não acreditar Nele.
Acredito que é muito complexo acreditar em Deus, uma vez que teremos
que provar sobre a existência Dele. Somente os padres, feiras e beatos
têm em si facilidades para crer que Ele existe... os homens comuns também,
porque sendo comuns, não precisam provar através de estudos de
retórica ou ainda rebuscagens filosóficas o por que da existência
Dele. São como os eleitores de Lula: acreditam piamente. Mas entre o
acreditar em Deus piamente e acreditar no Lula piamente existem diferenças
semânticas a serem expostas.
Uma coisa é acreditar no divino e não ter necessidade de provas
concretas para se acreditar em Deus. Nessas pessoas a FÉ é tudo.
Mas o que é a fé senão uma utopia existencial do Espírito?
Outra coisa é acreditar no homem e não ter a necessidade de uma
crença para provar que ele existe. Porque o homem enquanto vivo, existe.
No entanto é difícil acreditar nos homens após a sua morte...
Porque os homens são mutáveis... A morte não, a morte é
imutável. Porém ninguém sabe se o acreditar em Deus é
um postulado filosófico mutável ou imutável. Alguns acreditam.
Outros não. Outros não acreditam em nada. Acreditar não
é morrer. Acreditar é existir!
Ninguém pode provar que o Fernando Pessoa existiu... no entanto os seus
trabalhos literários são de conhecimento do mundo. Hoje ele só
existe no simples pronunciar do seu nome, nas consultas da internet, no linguajar
covarde dos suicidas ou nas folhas de papéis que dizem dos versos e prosas
que escreveu. Os versos do Fernando Pessoa existem. Ele não!
Deus, por enquanto existe. Enquanto alguns homens existirem, sempre existirá
um Deus. Todas as civilizações, desde as refinadamente cultas
ou as mais bárbaras, todas elas têm o seu deus. A religião
católica aos trancos e barrancos ainda existe apesar dos casos de sodomia
entre alguns padres, ou da sua reconhecida pedofilia. Outro dia eu estava pesando
sozinho que botaram nos lábios de Jesus Cristo uma frase universal e
pedófila: "DEIXAI VIR A MIM AS CRIANCINHAS!"
O José Saramago também existiu e somente os seus romances poéticos
e ateus são a prova de que um dia, em determinado período da história
humana, um ser chamado José Saramago também viveu um dia, embora
durante toda a sua breve existência ele nunca acreditasse em Deus. Mas
acredito que, se Deus existe, Ele nunca deixou de acreditar no José Saramago.
O GADU o fez escritor, poeta, o ensinou a escrever coisas belas e até
o ensinou o cúmulo de não acreditar Nele.
Assim como também fez com o Fernando Pessoa e assim ambos ateus, diferentes
do GADU, tornaram-se eternos iguais a Ele... tornaram-se a sua própria
imagem e semelhança. Apesar de nunca, nunca nas suas vidas, terem acreditado
que Ele existe.
Ou não?
(Salvador - BAHIA - BRAZIL, em 06 de Outubro de 2010)