A Garganta da Serpente
Os habitantes perfis e biografias dos autores

Cynthia Oliveira

Escrevo desde que comecei a entender que 'palavra' é coisa de gente. E, por isso, quando me perguntaram pela primeira vez o que eu queria ser, eu disse: médica pra agradar minha mãe e jornalista, porque eu gosto de ler e escrever; isso foi aos doze anos. De lá pra cá, muitos anos se passaram, e não me formei em medicina, continuo amando a leitura e a escrita, e me orgulho de ser jornalista, ainda que não exerça a profissão na qual consegui me formar com um sacrifício imenso. Só que descobri algo além; que as poesias (ou poemas ou sopros de alma) que eu fazia aos doze, treze, trinta, quarenta anos; que as peças que eu comecei a escrever há quase dez anos (e que não deram em muita coisa, ainda); que os contos nos quais me aventuro há menos de um ano; que as crônicas com as quais convivo há incontável tempo; que tudo isso SOU EU. Se hoje me perguntassem o que eu quero ser quando crescer, não teria dúvidas: quero ser escritora, pois não saberia mensurar a minha vida sem a escrita; não saberia sorrir ou chorar ou gritar ou SER sem usar as palavras; e por isso o faço. ISSO é o sopro de vida de que mais preciso para acordar de manhã. Claro que tenho outros objetos de ação e de adoração; tenho filhas, minha vida; tem os que amo; mas de 'palavras' é recheado o meu mundo ideal; é a parte de mim que não desiste, apesar de todos os inúmeros terremotos. Não sei se gostarão do que escrevo; não sei se um dia agradarei como escritora, mas sei que preciso acreditar que posso mudar meu mundo com o uso das palavras. Meus textos são filhos que faço diariamente; e desejo poder passar essa emoção ao que produzo às minhas filhas; para que elas busquem uma profissão que lhes dê prazer, para que elas façam arte no que quer que escolham como meio de vida. Para esse prazer de escrever direciono minha alma que, repleta de letras, se entrega aos erros e acertos da minha tentativa de existir à minha maneira.

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