Thais Dornelles

Falar de mim, na verdade, é o que faço nas minhas poesias. Entretanto, é algo espontâneo. A caneta ou as letrinhas do teclado começam a se unir e, pronto, ali estou eu; inteira, intensa, assustada, atravessada "às vezes", mas um eu que só se manifesta quando escrevo e me entrego. Vinte e um anos de idade, estudante de direito e mãe de uma menina linda, de quatro anos. O "resto" eu deixo que descubram. O que posso adiantar é que não é preciso mais do que duas longas conversas, até o amanhecer do dia, ao meu lado, para conhecer a parte exposta do meu coração. Escrevo desde os meus dez anos. Eram poemas mesmo. Rimadinhos, bonitinhos, que expressavam a dor pura de uma criança ao falar da vida, do amor. Meu caderno sempre foi um fiel companheiro; uma espécie de fuga do mundo real. Tenho ainda esses poemas que são intocáveis, pois já não os compreendo. Não sou uma leitora ativa, nem sei se um dia terminei de ler um romance, talvez porque sempre fui intrometida e desejei criar os finais das histórias. Sempre fui encantada pela poesia. Não vivo sem! Se me perguntam sobre meu dia, naturalmente respondo: hoje estou "a la Quintana", achando todos burros e feios e pensando por que essas pessoas não morrem nunca? (...) e assim varia a minha resposta, como todos os meus momentos. Às vezes, "a la Clarice" e não triste, apenas cansada. Creio que se a poesia não fizesse parte da minha vida eu seria mais incompreendida do que já sou, principalmente por mim mesma. É nas letras unidas que me vejo - sem espaço para máscaras; ali sou eu. Cada rabisco que escrevo sou eu. Encontrarão revolta, paixão, sonhos, amor, liberdade, exagero, tesão, mágoa, medo e todos esses sentimentos que formam o que sou - o que escrevo. Isso oscila a cada momento, então, não caibo numa biografia única porque amanhã posso ter outra visão sobre mim. São vários ângulos que partem de apenas dois olhos, assim como as mãos de Drummond, que tinham todo o sentimento do mundo.