Medo e Obsessão é um filme do diretor Wim Wenders, que nos conta
uma bela história, com muita sensibilidade.
Paul e Lana, tio e sobrinha, se descobrem, ao longo do filme. A carta da mãe
de Lana, falecida, que Paul lê, já ao final do filme, diz que ela
herdou o melhor de todos eles, e é corajosa, mas que ele sabe como isso
pode ser mudado, distorcido, e ela pede a ele, então, que cuide dela
e conserve a sua coragem. Paul é um veterano da guerra do Vietnã,
um boina verde. Sofre dores e pesadelos constantes. Torna-se um
agente, auto-proclamado, na caça aos terroristas, que existem,
antes de tudo, na sua imaginação, após o atentado de 11/09/2001.
Ele vive em sua van/caminhonete, super-equipada, percorrendo as ruas de Los
Angeles, à cata de possíveis suspeitos que ameacem a integridade
da sua pátria.
O padre, que recebe Lana e a conduz até a missão humanitária,
diante do espanto desta diante de tantos desabrigados nas ruas, diz a ela que
Los Angeles é a cidade americana onde há mais pobres. Ela lhe
responde que na Cisjordânia, onde viveu, nunca ouvira falar de pobres
nos EUA. Lana, com 20 anos, há 10 anos trabalha em missões humanitárias;
filha de missionários, viveu na África e no Oriente Médio.
Paul investiga um sem-teto paquistanês, imaginando ser ele um terrorista,
quando este é brutalmente assassinado, próximo da missão
humanitária onde Lana está hospedada, pois é lá
que ele se alimenta. Assim, por caminhos tortuosos, Paul e Lana se aproximam,
e levam o corpo do sem-teto para a pequena cidade onde vive o seu irmão,
um pretexto para que Paul investigue uma possível célula terrorista
naquele local. Lana viaja com ele.
A descoberta final de Paul o faz cair das nuvens. Ele fica bêbado
e é cuidado por Lana, quando tem um pesadelo, em que o seu avião
é derrubado, o que, de fato, acontecera com ele. O irmão de Hassan,
o sem-teto, os recebe cordialmente, e lhes diz que ele não tinha inimigos.
O bórax, que Paul investigava, por ser um produto químico, era
vendido por Hassan, para sobreviver.
Lana diz a Paul que, quando do 11/9, na Cisjordânia, as pessoas comuns,
honestas, comemoravam. Diante do espanto do tio, ela explica que eles
nos odeiam. Wim Wenders fala dessa surpresa que sentem os americanos,
que viajam a outros países e se percebem odiados. Lana também
diz, ao ouvir Paul comentar sobre os três mil civis que morreram no 11/9,
que ela não consegue ouvir as vozes destes. Diante do local do atentado,
em que Paul se diz decepcionado, por ter sido construído apenas um prédio,
Lana pede silêncio e ambos se calam. A sua percepção é
inteiramente diversa da de Paul, por ter vivido muitos anos no exterior, convivendo
com o sofrimento, a dor, a pobreza, a doença, o abandono, a agressão,
a morte, de milhares de refugiados, desabrigados, fugitivos, sem-pátrias,
sem-tetos.
Wim Wenders explica que o sonho americano foi inventado pelos europeus
nos séculos XVIII e XIX, que se reinventaram ao chegarem aos EUA. Foi
mantido no século XX, principalmente, pelos filmes americanos. Hoje,
no século XXI, ninguém mais acredita nele. Ele diz que os americanos
aprisionaram o subconsciente. Ele fala do desamparo, desinformação,
alienação, em que vivem os americanos, em geral, principalmente,
quando se sai das grandes cidades. Ele procurou ser, em seu filme, condescendente
com os americanos, não demonstrando repulsa por estes.
Wim Wenders explica que o filme é de baixo orçamento (custo: 500
mil dólares), em razão do seu próprio roteiro. Foi rodado
em poucos meses, utilizando formato digital, o que proporciona uma grande flexibilidade
ao se rodar o filme. Segundo ele, a atuação dos atores e atrizes,
de tão convincente, dá ao filme características de documentário,
embora seja uma obra de ficção.
(15/01/2009)
Medo e Obsessão
Land of Plenty, Angst and Alienation in America
Direção: Wim Wenders
Duração: 123 minutos
Ano: 2004
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