O dia nasce, é um sábado, um sábado daqueles. As nuvens
pairam pequenas e singulares enquanto os raios do sol se fazem em brumas brilhantes.
Hoje é sábado, dia esperado, ainda véspera do melhor dia,
mas esperado.
As mocinhas preparam suas almas para o amanhã que começa hoje.
Os cabelos são lavados e re-lavados. Ficam nas toucas quentes, às
vezes não. Quem tem dinheiro vai ao salão de beleza. As unhas
dos pés e das mãos tomam cor. As roupas novas ou as do ultimo
aniversário são testadas (o espelho nessas horas é o melhor
amigo).
As almas solteiras sonham com esperança pungente à noite do próximo
dia.
As meninas se encontram na pracinha naquelas horas ultimas da tarde. Não
veem o por do sol que lhes indica o fim do belo sábado. Veem
não. Estão ensimesmadas ou distraídas entre as vozes e
ideias e notícias do próximo dia. Algumas lembram as doces
palavras do rapaz e a promessa do encontro na noite do dia que vem. Outras trocam
confidências entre si: uma vai encontrar-se novamente com o seu novo namorado;
outra foi indagada sobre sua presença na noite do dia que vem (ela até
disse para o jovem, que não sabe se vai sair, mas está ansiosa
para encontrá-lo). Entre elas, há aquela que ainda está na fase
da espera que apareça alguém a lhe flertar ou na fase das curtas
trocas de olhares, mesmo assim, todas sonham a noite que vem.
A noite surge. A lua promete ser ainda mais bela no outro dia. Hoje ela está
se escondendo entre as nuvens, mostrando de forma suave seu leve amarelo. Mais
que em outras noites, ela torna-se ouvinte, cúmplice das balbucias de
amor e dos sonhares enamorados. Enfim, a cidade dorme.
O sol brilha agressivo. As nuvens decidiram não aparecer. Vê-se
o céu na plena presença do azul. É o dia.
As horas se alongam intermináveis dentro das vontades de um astro que
teima em movimentar-se lentamente, quase inerte. Sua cor dourada parece saborear-se
da angustiante espera pela noite que demora. De certo que o dia tem que acabar,
e acaba.
A noite surge acompanhada de uma imensa lua-cheia e inacreditavelmente brilhante
como se ela quisesse fazer-se de sol e tornar a noite um outro dia. Ah! A felicidade
deve ser plena para quem a esperava, tal se aguarda a advinda do amor, da paixão,
talvez da vida.
Os corpos se entrelaçam em cálidas trocas de carícias e
beijos surgem por toda a praça. O rapaz apareceu; a moça que não
sabia se ia, foi. As trocas de olhares deram lugar aos toques. E alguém
espera um outro alguém, que ainda não conhece, mas sabe que virar
enfim. Mas algo de melancólico povoa os olhares das meninas e dos rapazes.
Algo que não é o querer ser amado e não ter a quem lhe
amar, algo que não é a falta de carinho, não é o
estar na solitude, não é algo assim. Vê-se que a alegria
do encontro com o dia tão esperado, dá lugar para as profundas
saudades do sábado: as conversas animadas no salão de beleza;
as fofocas ao por do sol; a inquietação juntamente com as amigas
para saber a roupa a usar, a bagunça no quarto de dormir. A conversa
dos rapazes após a pelada para saber qual a garota que vai ser conquistada,
e por quem...
A lua ver-se aturdida, envolta por sentimentos inexplicáveis dos humanos,
ver-se sem entender esse louco coração que palpita no peito, ver-se
a sentir nos suspiros vivos na noite um só sentimento: a angustiante
espera pelo sábado que vem.