Não quero dizer seu nome, mas digo que era uma menina espertíssima.
E encantava a todos com suas brincadeiras absurdas. Adorava enganar os amigos
e colegas que não eram poucos.
E entre todas as suas brincadeiras favoritas, estavam falsos encontros, falsos
presentes, falsos recados, e até falsas festas.
Uma vez telefonou para todos os colegas que havia uma festa surpresa em casa
de uma das amigas. A surpresa ficou para quem acreditou e foi lá, para
descobrir que a família estava viajando.
Tudo isso, fazia a menina rir de dar dor na barriga.
Um outro dia, quando todos já estavam desconfiados de suas brincadeiras,
ela chegou à escola com um enorme e lindo sorvete. Dizia que tinha ganhado
do sorveteiro da esquina. Como todos duvidassem, mostrou um monte de vales-sorvete,
e ofereceu para os colegas. Eles caíram na tentação. Pegaram
cada um o seu, e saíram correndo para a sorveteria, para voltarem um
instante depois, frustrados, e mais desapontados, porque a menina peralta, ria
descontroladamente. Ria tanto, que um instante depois, contagiou a todos, que
acabaram rindo também.
Os vales tinham sido feitos por ela mesma, no computador de casa.
Poucos dias antes do seu aniversário, a nossa amiguinha foi avisada pela
sua mãe que ganharia uma festa. Eufórica, começou a convidar
os amigos. Como havia combinado com a mãe, todos teriam que vir com uma
fantasia qualquer, com o tema de rei, rainha, ou qualquer coisa desse gênero.
Seria mesmo uma festa muito divertida.
Tudo foi preparado com antecedência, e no dia, desde cedo, a menina ansiava
pelo momento de receber os amigos.
As horas do dia se arrastaram, até que finalmente, pouco antes do horário
marcado, ela estava diante do espelho, contemplando admirada a sua fantasia.
Vestia um lindo vestido de rainha, tinha sapatos dourados nos pés, e
uma coroa brilhante na cabeça.
Sorriu para o espelho, antegozando o enorme sucesso que faria. Na sua fantasia
de menina, sentia-se de fato uma rainha, e brincou de dar ordem aos súditos,
assentada ao seu trono...
Já no salão de festas, contemplou o ambiente do seu reinado. Via
os castelos de morangos, as carruagens de chocolates, as joias de caramelos,
os tapetes, as portas, as pontes de doces... Tudo muito bem preparado.
''Reina rainha!" disse para si mesma.
Faltava pouco. Era estranho, que não tivesse chegado ninguém,
porque sempre uma ou outra criança apressada, chega mais cedo às
festas. Não queria pensar nisso. Daria tudo certo. Seria uma festa perfeita,
e ficaria com certeza, como ficou, para a história de sua vida.
O tempo passava, e não chegava ninguém.
A mãe vendo o nervosismo da filha passou perto e disse.
- Acalme-se rainha! Daqui a pouquinho, todos estarão por aqui!..
O tempo passou, e não chegou ninguém. Triste, a menina começou
a ouvir os personagens que enfeitavam os bolos:
- Pena que não veio ninguém, - disse o reizinho do bolo.
- Ninguém acreditou que ela dizia a verdade dessa vez - disse rindo o
bobo da corte.
Todos os personagens de doce começaram a rir, e a nossa rainha tapou
os ouvidos para não ouvir.
E começou a chorar. Dessa vez não riu da brincadeira.
E dizia para si mesma: "Nunca mais eu minto! Nem de brincadeira!