Num fosse essa vida de veis e mais veis, esbarrá na percisão,
eu num tava nos lado dos qui escuita coitado... O pai qui falô um dia
qui quem num escuita consei, escuita coitado...
Ma num teve consei qui me conseiasse, proque eu nem sabia que a desgraça
se avizinhava cumo u'a peste bem pestenta memo, dessa qui nóis nem nomeia
falá.
Foi essa peste, qui a percisão empurra nós, que feis eu tê
que vendê o Caprichoso. O bicho era dos mió. E eu tinha memo o
danado, cumo um da famia. O seu dotô me dá u'a licença,
ma eu tem qui contá que o danado cuma qui intindia os proseio da gente.
Eu alevantava bem cedim, e ele tava lá caquele zói tristin de
Caprichoso memo. Intão eu falava, "bom dia Caprichoso", e num
é de vê co danado arespondia?!... Falava "muuuun".
Té falei pa minha veia, "esse boi só farta falá".
Nem contei prela quele já tava memo nos insaio, qué pra num tê
gente qui adesconfia dos proseado de nóis. Inda mais eu qui num tem boca
pra falá u'a desdita. Aqui dessa boca só sai memo é as
coisa mais boa e apriciada da verdade verdadera memo.
Pois bom, eu tô no meu canto prantano e coieno na midida o pussive, e
cumprino cas obrigação de todo dia, no poco vendê, no poco
comprá, e vai que a muié morre. E aí é qui tá
esse mistero qui nós num pod'intendê. Se nasce num percisa participá,
se morre percisa?
O seu dotô já sabe ca minha veia morreu. U'a morte dessa
bem descansada e inté bunita, se tem morte ansim.
Nesse dia num foi ela cacordô eu. Pensei quela quiria sespreguiçá
um poco, e alevantei ansim mei no silenço, e fui tirá o leite.
Vortei cum barde, e nun tinha café. Ma cumo sô um ome caridoso,
deixei a veia no sussego da perguiça, eu memo fiz o dito. Se bem
quistranhei a batida, ma nem fui apreciá. Tomei o café, e a muié
nada. Cheguei na porta, tava queta. Ma dotô, eu liguei, ma num liguei
proque quem tem as peste das muié, sabe qui a bicha é ansim memo,
cheia de veneta pra tudo qui é banda, e num tem memo espricação.
Arresorvi tirá mais um leite, e inda gritei, "muié, o café
tá pronto". E ela num respostô, ma num desconfiei. Peei a
Mimosa, e mainei cá muié ia gostá da caneca do leite da
vaca. Muié tem esse negoço de dizê co leite dessa é
mio qui daquela, e essas coisa qui só muié memo.
Conde eu intrei no quarto, foi que notei que a coisa num tava nos conforme.
Cá caneca na mão, cheia do leite da vaca, eu falei, "oia
o leite da Mimosa, veia!" Ela num respostô. Incostei nela,
tava fria. "Muié!", ela nada. Mortinha qui nem um tendéu.
Cabei de rumá as coisa. Peguei o Tronchim, e fui tomá providênça.
Num participei ninguém proque se num percisa quano nasce, num percisa
quano morre. Ontonce, puis a veia na carroça, e joguei ela na
vala do esbarrancado, e tive o coidado de jogá u'as pá de terra
pros urubú num juntá, e memo proque gente fede mais que cachorro
conde morre. Disque é procausa do isprito, ma eu nunca vi essas coisa
de isprito não. Mas só sei que gente difunto fede memo.
Só uns dia despois, foi que a fia chegô, e preguntô cadê
a mãe. E eu quece meu jeito de nem querê sustá ninguém,
arrespondi no sussego quela tava nu'a viaje. A fia arregalô uns ói,
e intendeu qua muié tinha se escafedido...
Daí foi queu tive de vendê o Caprichoso, pra pagá um devogado
pra dá espricação das coisa queu memo tô canso de
sabê falá...