A Garganta da Serpente
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Devorção do Zifirino

(Adelmario Sampaio)

Bão, nóis vai cantá, despois nóis insprica. A moda se chama-se, "Devorção do Zifirino", e é ansim:

conde cheguei na picada
fazeno meu cigarrin
turrô a onça maiada
um urro pertin ansin

mainei iscondê impossive
a bicha oiano pa mim
cadê as arma num tem
tava memo nos meu fim

foi antão qui alembrei
dos voto que fiz co padin
oiei po céu e rezei
padim alemba de mim

conde virei pa oiá
a bicha tava parada
eu pricurei que qui hái
a bicha dixe né nada

socê induvida do causo
proque num sabe qué fé
proque o padin me potrege
nas andança dos meu pé

Os causo do Zifirino ca onça, foi memo conticido. Eu insprico que qui foi caconteceu, proque foi mei deferente da moda qui nóis canta: Nóis tinha um pratão quera memo um ome munto rico, qui tinha memo munta fazenda, munta gadama insparramada presses Brasios do meu Deuso. Intonce o ome cos povo té chamava Zé do Gado, tanto quele tinha das cabaça dos trem, incontratô nóis, pa levá u'a cumitiva de gadama pros Mato Grosso afora. Nóis memo, já aconhicia a fazendama dos pantanal, e eu memo já havera de tê ido u'as treis ô quatro veis nes'tempe. Ma o Zifirino memo, era um pião dos novo, sens periênça, e quiria proque quiria i ma nóis, e nóis na malandrage qui só, já fumo aprivinino o mulecote, caquele mundão num era coisa pa frangote, qui nóis tava canso de infrentá as onça cara a cara, e queu memo já inté tinha cortado u'a nos canivete...

Conde nóis contava a istora, o raspais zoiava nóis cos zói mei ispantado, e retrucia nas cadera, ma cuma nóis tava memo aprovocano ele, foi quele quiria proque quiria, proque num achava de memo qui nóis tava falano as verdade.

Bão foi intonce qui pareceu essa viage mema po pantanal. E cuma nóis já tava de andá nos nosso cunhicido, nóis ja sabia qui lá tinha onça memo, proque o seu Zé do Gado, num dexava ispantá as bicha e nem matá procauso dum tale Imbrama, e pa mansá as daninha, já criava u'a manada de cateto, e otros porco dos mato. Quera memo pas bicha cumê de vontade, e num atentá nem memo os animaos, nem memo as geste.

E foi qui nóis ficô sabeno quessa dita onça, era memo das mai mansa no quintal, e qui só memo andava de bucho chei, e qui tava memo costumada andá properto dos rancho. Mas nóis num contô nadinha pro besta do Zifirino. Nóis tava tudo mundo incombinhado de passá um sustama no pião qui se proseava memo de ome valente, ma nóis sabia qui borrava de medo.

Bão, daí cê sabe que eu ma o cumpade Bulico num era gente dos tanto qui nóis era memo debochado, e o cumpade munto mais ainda, proque ele num presta té hoje, de tanto qui gosta dos mar feito, e nóis tava andano nos camim e o cumpade preguntava preu lá de longe quera po minino iscuitá e sustá:

- Em cumpade, será qui lá inda havera de tê munta onça?

- Só se fô das pantanera, cumpade!... - já arrespostei, memo cunhicido dos debocho do cumpade.

- Vixe Maria!... Cruz Credo cumpade, dis quessa pantanera é munto braba memo!...

-Ô se é!... Cê cunheça as pantanera, cumpade?

- Cumpade, pa falá vredade, só memo cunheço de vista, proque já vi u'a daninha dessa conde um dia cumeu um marruá.

- Cumpade do céu!... Intonce a bicha deu de conta de cumê um marruá?

- Só no armoço. Proque nas hora das merenda, a bicha já tava memo precurano um rapaizim, ô u'a coisa ansim ma leve pa tirá gosto de subrimesa.

De veis in quano, nóis passava os rabo dos zói pa vê so Zifirino tava memo teressado nas istora. Conde nóis via os zói regalano pa nossa banda, nóis ficava ma tusiasmado, e progrodia as prosa. Dava inté dó de vê os zói do minino, ma nóis ficava bem do sero memo, quera prele ficá memo sustado. Intonce nóis prossiguia cas prosa, e os otro ficava tudo pareceno tenção ne nóis e no minino.

- Ma em cumpade. Dis qui tem tamem u'as pintada, qui come tamem qui só lima kf?... - Era a prosa das onça progrodino.

- Cê tá rifirino é as maiada?

- É...

- Bão cumpade, essa bicha é qué memo das pirigosa, proque chega memo té nos quintal dos rancho, e conde vê gente, esse gente num iscapa nem cum reza de treço.

- Cumpade do céu!... Intão a bicha é tirrive memo!...

- E oia qui é mais do qui tirrive!... É memo mistirrive. Mistirrive, não cumpade!... Zistirrive!...

Conde o cumpade proseô essas prosa dirfice, eu quais num memo aguentei de tanto qui quiria rí, ma o cumpade feis um geito preu ma guentá, e eu memo já tava quereno num ri, quera pa ri munto mais despois.

Bão daí, pa risumi a istora, nóis chegô, e sentô praça nos campamento, e já todo mundo ficô de visado quera memo pa fazê as nicissidade mei longe dos rancho quera pa nóis num tê qui pisá nos barro de seu ninguém, conde nóis tivesse pro vorta dos rancho.

Ma num é de vê que a coisa deu memo certim, proque o Zifirino foi fazê as cagança dele pros lado das picada, e condefé, u'a onça turrô bem de perto memo dele, qui o danado té cagô nas carça. Se bão qui ele proseô, qué proque num deu tempe de passá nem u'a foia nos foifóis, e é prisso quele vei mei fedeno dos mato, inda cas carça na mão.

Foi antão qui nóis feis essa moda qué das mió dos catira qui nóis canta. Só qui nóis tirô u'as parte, qué pa podê cantá té onde tivè muié, e ma gente de famia.

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