Vago por calçadas da minha cidade buscando reunir meus fragmentos, desvios
e amores perdidos no tempo.
Tento rever atalhos onde me extraviei, expiar erros e entender meus idos.
Piso meus passos sem me dar conta que sob essas mesmas pisadas, existiram outras
que transportaram esperanças, encontros, encantos e um pedaço
da história que passou por aqui.
Em quantas gotas de pranto, suor e sangue apóio minha busca e meu caminhar
claudicante de poeta remendador de emoções?
Egoísta e consumido pelas angústias que produzo, não atino
que esta calçada e toda sua história é hoje, de uma forma
ou de outra, o chão que me sustenta. Diferente de outros que me foram
tomados em incontáveis vilanias.
Com todos seus buracos e imperfeições, esse chão é
a base onde finco meus sonhos. Ele, distraído de mim, até permite
o atrevimento de um matinho no canto, expondo sua única flor.
Aprumo o passo, reergo os ombros, oculto a lágrima e premio-me com o
primeiro sorriso do dia, ainda que o dia já se despeça.
Consola-me olhar para trás e ver que a grama ainda nasce por onde passo.