Lembro de uma vez no tempo
em que ainda era uma criança que havia perto do lugar onde brincava um grande e
alto muro todo branco que se estendia por toda uma calçada da
rua.
Com
aquela já enorme curiosidade que tinha em minha infância queria saber o que
tinha por trás daquele muro, mas ele era tão alto que sempre desistia da
ideia.
Num
belo dia resolvi matar de vez minha curiosidade e subi no banco de minha
bicicleta para alcançar o alto daquele muro só que nem assim era capaz de
conseguir subir até seu topo, mesmo diante dessa dificuldade pensei em não
desistir facilmente do meu objetivo e resolvi me arriscar, saltei do banco da
bicicleta com os braços esticados para agarrar na extremidade mais alta do muro
e deu certo, poderia ter escorregado e caído ao chão, ter quebrado o braço ou
qualquer outro osso, mas naquela época adorava me arriscar nessas aventuras
acrobáticas e na maioria das vezes elas davam certo.
Mas
todo o meu esforço não me valeu de nada, quando meus olhos pela primeira vez
puderam fitar o outro lado daquele muro fiquei deveras decepcionado, estava tudo
abandonado e não havia nada de interessante ali, era apenas um grande jardim
abandonado com o mato crescendo em volta dos canteiros, as flores estavam secas
e mortas os arbustos murchos e tinha uma pequena arvore no centro quase sem
folhas mais ainda viva e no fundo havia ainda uma casa igualmente abandonada e
deserta.
Fiquei ali no alto daquele
muro apenas por um minuto, pois já estava preocupado em como iria descer dali,
por sorte alguns amigos passavam por perto naquele momento e me ajudaram a
descer em segurança.
Mesmo tendo sido na época
uma aventura decepcionante jamais me esqueci daquele jardim abandonado que
naquele tempo não significava muito pra mim, com a imagem guardada na memória
hoje aquele mesmo jardim ganhou um outro sentido.
Com
os anos passados a vida emprestou ao meu coração um pouco de poesia e aquela
imagem guardada ganhou uma nova dimensão no meu pensamento e imaginei uma
história que explicasse o motivo da existência daquele jardim
vazio.
Um
dia aquele jardim tinha sido belo, verde e florido e enfeitava o quintal de uma
casa que abrigava uma família feliz, ao mesmo tempo que um homem era o pai da
família era também jardineiro daquele imenso jardim.
E
assim foi durante muito tempo, as flores e o colorido daquele jardim refletiam o
que era aquela família, o pai e jardineiro viveu seus melhores dias naquele
espaço, dedicou muita alma para tornar aquela família e aquele jardim as
melhores partes de si.
O
tempo passou, os filhos cresceram e deixaram a casa vazia para viverem suas
próprias vidas em outro lugar e o pai ficou sozinho com a mãe e desta feita já
estava mais velho e mesmo assim cuidava com todo carinho de seu jardim que
cuidava dele de volta.
Mas
um dia sua mulher morreu subitamente e ele ficou viúvo, perdeu um pedaço de si e
nunca mais foi o mesmo, ela foi cremada e suas cinzas foram jogadas no jardim e
fertilizam até hoje a árvore no centro do jardim que ainda teimosa permanecia
viva.
O
homem viveu até os seus últimos dias naquela casa e ficou conhecido naquela
época como o jardineiro que regava as plantas e molhava a terra com suas
próprias lágrimas.
Seu
ultimo desejo teria sido ter suas cinzas jogadas igualmente no jardim e assim
foi feito, misteriosamente algum tempo depois o jardim que estava quase morto
voltou a florir e um tempo depois a casa foi vendida para uma nova família e
para um novo pai de família e jardineiro.