Num dia qualquer de uma florida primavera, eu, um menino meio aloirado nasci.
Poderia ter sido um negro, um amarelo e até um esquimó com morada
num iglu. Mas nasci loiro e era uma criança saudável, muito robusta,
significando grandes esperanças para a felicidade de muitos. Filho de
católicos fui batizado com o nome de Antonio em homenagem ao santo de
mesmo nome.
Desde minha tenra idade demonstrava curiosidade pelo desconhecido. Não
aceitava o mistério, nada que fosse encoberto pela natureza. Crente em
Deus queria investigar tudo, desvendar segredos, descobrir coisas...
Aos quatro anos fui matriculado na pré-escola. Ao completar minha sexta
primavera, estava no primeiro grau. Em casa e na escola assimilava tudo com
grande facilidade. Absorvia os ensinamentos com incrível avidez. Estava
predestinado ao sucesso, à realização de grandes feitos.
Em tempo apropriado completei a escolaridade do segundo grau.
Tivera uma infância divertida, feliz. Minha adolescência não
fora diferente, sendo muito amado pelos pais, querido pelos professores e respeitado
pelos amigos que eram muitos. Não era apenas um rapaz alegre, bom filho
e dedicado estudante. Desde muito cedo, revelei minhas tendências humanitárias,
agradando-me em fazer o bem sem olhar a quem.
Aos dezoito anos, estando nos estudos da medicina, conheci Isaura, uma bonita
jovem com quem me identificara muito de vez que tínhamos os mesmos gostos,
a mesma dedicação aos estudos e os mesmos objetivos. Iniciamos
um namoro firme e ambos, além da medicina nos revelamos interessados
em grandes pesquisas visando à descoberta de curas para muitas doenças.
Éramos um belo casal que evoluía em conhecimento e amor à
humanidade. Formamo-nos ainda bem jovens e tínhamos longos anos pela
frente para grandes realizações no campo da medicina e das pesquisas
médicas. Éramos, então, dedicados médicos inconformados
com o sofrimento de nossos pacientes. O ser humano nascera para uma vida saudável
- pensávamos. E porque assim pensávamos, nos aprofundamos nas
pesquisas para a descoberta da cura para os males que se apresentavam incuráveis
até então, cujos males somente se poderia aliviar, tornar as dores
suportáveis, sendo aparentemente impossível erradica-los. E sofríamos
com o sofrimento alheio.
Dediquei-me tanto que felizmente, depois de tanta busca, descobri a cura para
os vários tipos de câncer, podendo-se dizer adeus ao sofrido tratamento
por quimioterapia. Esse mal, felizmente, estava erradicado. Parti então
para outras pesquisas visando a cura de outros males que afligiam a humanidade
e fui tendo sucesso seguido de sucesso. Sentia-me feliz, fazendo muitos outros
felizes...
Isso tudo, é claro, trata-se de mera fantasia, mas poderia ter sido assim
caso minha mãe não me tivesse abortado quando tinha apenas três
meses de morada em seu útero. Caso eu não tivesse sido efêmero
produto de seus alucinados prazeres sexuais de quem ela tivesse urgente necessidade
de se ver livre. Por isso nem mesmo cheguei a nascer sendo impedido dessas possíveis
grandes realizações, porém continuo na espera de que alguém
me queira trazer à luz como produto de um verdadeiro amor. Estarei no
aguardo e quem sabe esperando por você que me lê nesse instante...