A caravana peregrinava há dias, seguindo a determinação
do patriarca ancestral.
- Caminhem sempre em direção ao poente, até acharem o lugar
ao qual vocês pertencem.
Muitos haviam tentado. Gerações e gerações através
do tempo. Nunca o encontraram. Poucos retornavam. E quando o faziam, traziam
relatos desconexos, os olhos sempre opacos, misturados à cor da areia
do deserto. Secos, sem mais lágrimas que chorar. Perdidos de si e do
mundo, guiados apenas por um instinto de sobrevivência.
Esta caravana não era diferente das demais. Melhor dito, era, mas por
um pequeno detalhe, quase despercebido. Lado a lado com os homens, pois eram
sempre eles a cumprir o destino, ia uma menina, pouco mais de doze anos, ainda
não iniciada nas tradições de mulher.
Filha única que era, a mãe morrera no parto, dona de uma força
quase adulta, implorara ao pai que a deixara ir com ele. Não o queria
só, em meio a terras estranhas. Se alcançassem o futuro incerto,
seriam os dois; se mais uma vez falhassem, pereceriam juntos.
A viagem era perigosa. O medo viajava com eles e a morte era alguém de
tocaia prestes a atacá-los. Ameaçava ora sorrateira, encolhida
pelos cantos, ora viajante louca, veloz, de olhos de fogo, arremetendo contra
eles.
Na menina, uma certeza: sonhara com a chegada. Espantava-se, ou seria, encantava-se,
e acreditava na imagem do sonho. As construções argilosas, o vento
soprando incessantemente, a comida farinhenta como a areia do deserto, a mesma
cor, a mesma secura, umedecida pelas lágrimas da solidão. O mundo
lhe era mostrado em miniatura por uma mulher que dizia:
- O deserto não é tudo, é apenas o preâmbulo da fertilidade
organizada pelo homem e da fonte suprema de tudo, preservada, intocada...
- ... manancial que jorra à espera de mim - completou a menina ao acordar
no dia da partida, recitando palavras que lhe soaram como sendo de tempos imemoriais.