Cai pálida e tenebrosa a tarde na Europa do século XVII, os camponeses
cessam sua longa e fardosa jornada de trabalho. Enquanto os pequenos e não
poucos pássaros recolhem-se aos ninhos, alguns ocultos por dentre os
ramos das árvores. Num prado, umas macilentas cabras, cinco ou seis,
estão a pastar. Anoitecia.
Numa vila que já se fazia erma, ventos tiritais sopram, arrastando folhas,
galhos e grãos de areia, como que os convidando a dançar. E duma
habitação tosca, sai alguém; com vestiduras longas; apressado,
enfrentando o vento, até que chega à outra casa e bate na porta.Já
é escuro, e agitava forte o vendaval as roseiras do jardim em frente
à casa, abre-se a porta e uma voz masculina ouve-se:
- Entra! Convida ele, e o recém-chegado entra e a porta fecha-se após
ele.Ao despir-se, o visitante assume a forma feminina escondida pelo excesso
de vestes. Um ser angelical. Seu corpo, com doces e sinuosos contornos, uma
perfeita combinação de mulher e força da natureza envolve-se
nos braços do amante.
Este, homem solitário, clérigo profano, adorador da lascívia,
beija-lhe a boca, pescoço, seios, abdômen...E confundindo-se com
sons noturnos, há o gemer duas almas em doido prazer, embriagadora volúpia
em alta lascívia as lanternas apagam-se, o vento sopra vorazmente e o
coito chega ao máximo da loucura!
Depois o silêncio! Cintilam as moedas na mesa, a criatura libidinosa recolhe-as,
cobre seu corpo em seus excessivos trajes, e quando está a sair, escuta
a voz do amante:
- Virás amanhã? Terei mais dinheiro!
Ela acena positivamente, sai e anda, sumindo por entre as trevas da madrugada.