Não gostava de esperar, mas acabava ficando sempre pronta antes da
hora.
Passou o batom, perfumou-se, escovou mais uma vez os cabelos.
Faltava ainda uma boa meia hora antes da hora combinada com ele.
Sentou-se, apanhou um livro, acendeu um cigarro. A espera a inquietava. Não gostava de esperar.
Esperara a vida inteira. "Esse homem tem ideia de há quanto
tempo eu o espero chegar?", ela pensava, enquanto soprava pra cima a fumaça
do cigarro.
E não falava de meia hora, de 15 minutos de um eventual atraso. Pela
memória passaram os rostos dos outros homens, de todos os outros que
tivera. Pensou em prazeres fugazes, na felicidade momentânea, na insegurança do
depois.
Tinham sido sua escola, esses homens. Passara por eles para aprender o que precisava
saber quando ele chegasse. Mas porque esperara com tanta convicção
de que ele viria? Porque nunca duvidara? Porque a felicidade pressente-se. Sente-se
na boca do estômago e no fundo do peito e da alma, a felicidade sabe-se.
Pensou nele, em seus olhos castanhos de cílios compridos, e em como o
cheiro dele ficava grudado na pele dela, mesmo horas depois que se separavam.
Foi assim que teve certeza de que era ele, pela forma como ele impregnava-se
nela e manchava todo seu corpo com suas cores e sua presença.
Pensou no beijo dos outros, beijos de fogo, com calor de paixão. O dele,
não.
Descia por sua garganta com gosto de água fresca em dia quente. Refrescava
e redimia, aquele beijo, e ela se sentia assim: todo dia limpa e batizada.
Saiu do devaneio quando o toque da campainha soou. Apagou o cigarro e correu
pra fora. Não precisava mais esperar, era ele que chegava.