Ela sempre entrava em casa sem baterias, abria a geladeira e guardava o coração.
Um dos pulmões estava no armário da sala, próximo a uma
caixa de cigarros e uma garrafa de vinho do Porto. Quando chegava triste, abria
o peito, colocava de volta o pulmão e chorava ouvindo Blues - não
gostava de sentir falta de ar.
A impossibilidade de compreensão dos próprios sentimentos não
lhe causava mais desespero - tudo pelo momento de melancolia. No banheiro ela
guardava pílulas de vitaminas para o corpo. Toda vez que comprova novas
pílulas, rasgava trechos de alguns livros de poesias e substituía
o rótulo. Ela desejava fortalecer diariamente o físico e também
o mental.