A Garganta da Serpente
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Com terra

(Arnaldo Massari)

Esta pequena exposição é voltada ao humilde e valoroso trabalhador do campo: o pequeno lavrador e real filho da terra. Também, em igualdade, àqueles que têm a verdadeira necessidade do pleitear para plantar; nunca em dissimulado no prelo do querer.

Sem esquerdas ou direitas, mas na decente intenção e direção de enfrentar literalmente o chão - senão aquele do asfalto ou das praças públicas, mas o de engrossar as mãos na brava luta pelos grãos.

Dos que buscam a verba para a pequenina semente, sem levar à frente barulhentos interesses políticos.

Enfatiza e enaltece o verdadeiro Homem do Campo, na sua árdua faina do trabalho de sol a sol. Aquele que planta o verde e também a família, na eterna vigília da continuação do nome e do preventivo prover à fome. Também, das singelezas e das alegrias muito próprias de um viver em familiar autêntico. Assim sendo, dessa gente, há muita prosa por contar:

- Dito é neto do velho Benedito, que muito lavrou a terra. Em todas as manhãs, antecipado ao alvorecer, vai pro mato roçar com a Sebastiana - sua mulher. Sendo a vida do campo de simplicidade absoluta, restam apenas duas coisas a fazer: trabalhar e roçar. Pois é... Dito, roçando milho, feijão e cana, acabou emprenhando a Sebastiana. Mais uma vez.

No meio da vastidão daquele campo úmido do orvalho, Sebastiana, sempre contente, molhada e sorridente, abria o mato na frente e, Dito plantava a semente.

Dos espinhos tirando a saia, nos caminhos e pela baia, de tanto roçar e plantar, não houve como evitar, das muitas crianças criar.

Por Dito não plantar diferente, sua casa tem tanta gente. Do barro tira o milho e o feijão. Da barriga, outro filho e irmão. Mas sempre teve a grande vontade do roçar com liberdade. Plantando do outro lado, sem precisar do arado. Naquele campo macio e aberto, com pouco mato por perto.

Insistia com muita paciência, e ela dizia: - Que indecência! Entanto, apesar de não achar certo, cada vez ficou mais perto. Um dia, levantou o vestido, chamando o Dito de atrevido.

Sebastiana, mulher forte e valente, simples, mas extremada, não conseguiu segurar a vontade daquela tremenda fincada. Do sempre sonhado berrante, em tudo bem semelhante.

Sentindo o roçar diferente, em estranho ranger de dente, deitou logo no chão, vibrando de tesão. Essa nova experiência mudou radicalmente a sua consciência. Na diferença à-toa e certa, em formidável descoberta.

Não mais se contendo, todas ficaram sabendo. Para a cunhada, a gozada. Também para a comadre, mas nada dizendo ao padre.

Agora, na pequena comunidade, todas estão com vontade. Virando logo a cabeça, para que a barriga não cresça.

E o sol se pôs para o roçar do amanhã...

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