A Garganta da Serpente
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Caçada do destino
(segunda parte)

(Armando Sousa)

Como ia dizendo no capitulo anterior; Lícinio esqueceu-se do tempo e das horas.

O perigo de se perder era iminente, não tendo bússola ou sol que o pode-se guiar.

Nada mesmo nada a não ser o seu instinto, que tantas vezes fica confuso com o cenário igual da natureza, e assim Lícinio seguiu os rastos do veado que mais uma vez aparecia e desaparecia, Lícinio na ânsia de conquistar um troféu para sua casa de Cintra, atirou viu os arbustos mexer e correu, mas estava a mais de cinquenta metros de distancia, quando chegou ao sitio onde esperava ver o veado apenas o viu espreitado agora muito mais longe, mas uma tosse convulsa acometeu os pulmões de Lícinio, que este sentiu a cabeça à roda e a vista a desaparecer, Lícinio sentou-se num penedo com a cabeça entre as mãos até sentir que sentia mais calmo e ver que já não andava tudo à sua roda.

O dia desaparecia, o tempo tornou-se ainda mais escuro com o nevoeiro que estava a envolver os sopés da montanha.

O moço levantou-se e principiou a caminhar com o intuito de regressar ao solar de Vilarinho, mas quanto mais caminhava mais longe ficava do solar sem se aperceber…

Neste momento ouviu ao longe e mais no alto o boiar de uma voz que chamava cantarolando, dizia, Liro anda p'ra cá,… Rolo, anda também, trazei para aqui o gado, cá é que se está bem …….Lícinio seguiu aquela voz e foi deparar com um espraiado encostado mais ao pico da montanha onde o mato era baixo e muitos animais comiam as ultimas cristas de mato, do dia.

Mesmo encostado à montanha, via-se como uma porta feita de vergas e de giestas já ressequidas.

Correndo apareceu Alípio segurando os dois cães corpulentos e de ar pouco amigo, ostentando uma larga coleira de grandes espinhos, defesa se forem atacados a defender o rebanho, a criança não aparentava mais que nove anos; pés embrulhados em peles de cabrito, e uma flauta de bambu pendurada ao peito; circulando à volta dos animais um outro cãozinho de cor preta e branca que dava pelo nome de turquesa, este, em menos de nada, juntou mais de uma centena de ovelhas cabras e cabritinhos.

Então meio apavorado Lícinio disse, creio que estou perdido e a noite não tarda a cair;

Alípio respondeu, eu não posso conduzir o Senhor agora e o gado ao povoado hoje, mas o senhor pode ficar esta noite na minha gruta, ao mesmo tempo em que retirava da sacola que trazia a tiracolo, dois coelhos mortos talvez por laçadas ou caces pela cadelinha (Turquesa). Alípio retirou aquela porta feita de vergas e giestas que dissimulava a entrada da gruta cravada na montanha, e franqueou a entrada a Lícinio, acometido este nesse momento por um ataque de tosse, que o deixava ofegante.

Lícinio olhava estupefacto, (pasmado) para o recheio que continha aquela gruta, dependuradas, vergas em estilo de prateleiras, plenas de queijinhos, que deveriam ser delicia; por todo o lado se poderia ver carne fumada, de coelho e talvez cabrito ou carneiro; Lícinio indagando o porquê; Alípio lhes respondeu, parte destas carnes são para alimentar os cães, outra para meu alimento… estas parte vem de animais atacados pelos lobos, que eu recolho para os cães, esta aqui é de um animal de perna partida que se não podia defender. O resto são coelhos obra da cadelinha turquesa , que não deixa escapar um, se lhe pegar: os queijos são para eu vender sábado na feira de S. Bento, pois queria comprar umas botas de trabalho a minha mãe, e uns sapatos de ir à missa; seus olhitos riram-se de enorme satisfação…neste momento os olhos de Lícinio esbagoavam acometido pelos sentimentos que embalavam aquela criança de tão tenra idade e os cuidados que sentia pelos seus semelhantes e família.

Alípio veio alimentar os cães, recomendando-lhes para guardar o rebanho dando-lhe mil e um afagos, a cadelinha turquesa encurralou-os num circo em pequeno espaço todos os animais e Alípio foi tratar dos coelhos e de fazer um chá de flor de mato para acalmar tosse que acometia Lícinio.

No solar de Vilarinho os pais estavam em enorme alvoroço pela hora tardia, e não viam Lícinio chegar, não conheciam ninguém nem ninguém os conhecia na aldeia, mas os Pais cheios de medo, foram bater na porta mais chegada ao solar; os aldeões apenas diziam que não se aventuravam de noite na serra, ao mesmo tempo acalmavam os pais alvoraçados, dizendo a noite traz bom senso e sabedoria, os galhos de uma árvore serão a melhor cama, e pela manhã faremos uma batida à serra…. Ao mesmo tempo Lícinio depois de comer uns queijinhos e um pouco do coelho preparado pelo pequeno Alípio. tomou um bom chá de flor de mato e folhas de pelicom da serra, deitando-se nas peles de ovelha que serviam de cama, assim entrou no país dos deuses do sonho.



Continua...

menu
Lista dos 2201 contos em ordem alfabética por:
Prenome do autor:
Título do conto:

Últimos contos inseridos:
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente
http://www.gargantadaserpente.com.br