Como ia dizendo no capitulo anterior; Lícinio esqueceu-se do tempo e
das horas.
O perigo de se perder era iminente, não tendo bússola ou sol que
o pode-se guiar.
Nada mesmo nada a não ser o seu instinto, que tantas vezes fica confuso
com o cenário igual da natureza, e assim Lícinio seguiu os rastos
do veado que mais uma vez aparecia e desaparecia, Lícinio na ânsia
de conquistar um troféu para sua casa de Cintra, atirou viu os arbustos
mexer e correu, mas estava a mais de cinquenta metros de distancia, quando
chegou ao sitio onde esperava ver o veado apenas o viu espreitado agora muito
mais longe, mas uma tosse convulsa acometeu os pulmões de Lícinio,
que este sentiu a cabeça à roda e a vista a desaparecer, Lícinio
sentou-se num penedo com a cabeça entre as mãos até sentir
que sentia mais calmo e ver que já não andava tudo à sua
roda.
O dia desaparecia, o tempo tornou-se ainda mais escuro com o nevoeiro que estava
a envolver os sopés da montanha.
O moço levantou-se e principiou a caminhar com o intuito de regressar
ao solar de Vilarinho, mas quanto mais caminhava mais longe ficava do solar
sem se aperceber
Neste momento ouviu ao longe e mais no alto o boiar de uma voz que chamava cantarolando,
dizia, Liro anda p'ra cá,
Rolo, anda também, trazei para
aqui o gado, cá é que se está bem
.Lícinio
seguiu aquela voz e foi deparar com um espraiado encostado mais ao pico da montanha
onde o mato era baixo e muitos animais comiam as ultimas cristas de mato, do
dia.
Mesmo encostado à montanha, via-se como uma porta feita de vergas e de
giestas já ressequidas.
Correndo apareceu Alípio segurando os dois cães corpulentos e
de ar pouco amigo, ostentando uma larga coleira de grandes espinhos, defesa
se forem atacados a defender o rebanho, a criança não aparentava
mais que nove anos; pés embrulhados em peles de cabrito, e uma flauta
de bambu pendurada ao peito; circulando à volta dos animais um outro
cãozinho de cor preta e branca que dava pelo nome de turquesa, este,
em menos de nada, juntou mais de uma centena de ovelhas cabras e cabritinhos.
Então meio apavorado Lícinio disse, creio que estou perdido e
a noite não tarda a cair;
Alípio respondeu, eu não posso conduzir o Senhor agora e o gado
ao povoado hoje, mas o senhor pode ficar esta noite na minha gruta, ao mesmo
tempo em que retirava da sacola que trazia a tiracolo, dois coelhos mortos talvez
por laçadas ou caces pela cadelinha (Turquesa). Alípio retirou
aquela porta feita de vergas e giestas que dissimulava a entrada da gruta cravada
na montanha, e franqueou a entrada a Lícinio, acometido este nesse momento
por um ataque de tosse, que o deixava ofegante.
Lícinio olhava estupefacto, (pasmado) para o recheio que continha aquela
gruta, dependuradas, vergas em estilo de prateleiras, plenas de queijinhos,
que deveriam ser delicia; por todo o lado se poderia ver carne fumada, de coelho
e talvez cabrito ou carneiro; Lícinio indagando o porquê; Alípio
lhes respondeu, parte destas carnes são para alimentar os cães,
outra para meu alimento
estas parte vem de animais atacados pelos lobos,
que eu recolho para os cães, esta aqui é de um animal de perna
partida que se não podia defender. O resto são coelhos obra da
cadelinha turquesa , que não deixa escapar um, se lhe pegar: os queijos
são para eu vender sábado na feira de S. Bento, pois queria comprar
umas botas de trabalho a minha mãe, e uns sapatos de ir à missa;
seus olhitos riram-se de enorme satisfação
neste momento
os olhos de Lícinio esbagoavam acometido pelos sentimentos que embalavam
aquela criança de tão tenra idade e os cuidados que sentia pelos
seus semelhantes e família.
Alípio veio alimentar os cães, recomendando-lhes para guardar
o rebanho dando-lhe mil e um afagos, a cadelinha turquesa encurralou-os num
circo em pequeno espaço todos os animais e Alípio foi tratar dos
coelhos e de fazer um chá de flor de mato para acalmar tosse que acometia
Lícinio.
No solar de Vilarinho os pais estavam em enorme alvoroço pela hora tardia,
e não viam Lícinio chegar, não conheciam ninguém
nem ninguém os conhecia na aldeia, mas os Pais cheios de medo, foram
bater na porta mais chegada ao solar; os aldeões apenas diziam que não
se aventuravam de noite na serra, ao mesmo tempo acalmavam os pais alvoraçados,
dizendo a noite traz bom senso e sabedoria, os galhos de uma árvore serão
a melhor cama, e pela manhã faremos uma batida à serra
.
Ao mesmo tempo Lícinio depois de comer uns queijinhos e um pouco do coelho
preparado pelo pequeno Alípio. tomou um bom chá de flor de mato
e folhas de pelicom da serra, deitando-se nas peles de ovelha que serviam de
cama, assim entrou no país dos deuses do sonho.
Continua...