A Garganta da Serpente
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Cochicho e quadrilha

(Armando Sousa)

CAPÍTULO 1

Nas palavras de minha mãe Cochicho era um rapaz alegre e muito liberal com seus colegas, do que ele tinha, que era muito pouco, ele repartia.

Para não confundir, nome e lugares aqui descritos estes serão mera coincidência, sim a historia foi real mas os lugares serão alterados, e chamados aos lugares por mim conhecidos mas sem realidade neles.

Naquele tempo a guerra dos republicanos e os que se portavam os reinados estava bem brava; quer dum lado quer doutro vinham e pegavam na juventude para combater a seu lado, naquele tempo foram os republicanos que pegaram no Cochicho e mais alguns colegas das freguesias vizinhas mas conhecidos.

Não havia contemplações, ou iam ou eram passados a fogo, como sendo contrários ao partido.

Cochicho tinha se casado meses antes de ser registrado forçosamente pelos republicanos

Ele era homem de seus deveres, adorava a sua amada Amélia, que sendo pobre, vivia desafogadamente com seu trabalho de lavadeira, as barrelas não lhes metiam medo e quanto maiores mais Amélia cantava no lavadouro, sua vós encantava e vizinhança que parava para ouvir suas melodias e cantigas como ao desafio, só que Amélia respondia a suas próprias cantigas, Amélia era um verdadeiro rouxinol que encantou o lindo moço Cochicho.

O Cochicho com o trabalho de tanoeiro corria todas as vizinhanças reparando pipas e tonéis, todos confiavam no seu trabalho e dignidade, era um exemplo de honestidade.

O destino lhe foi adverso, e ao mesmo tempo lhe foi generoso, muito generoso.

Um dia foi enviado com sua guarnição composta com quase todos os seus colegas vizinhos de quem a amizade tinha ainda crescido mais, foram destacados para as vizinhanças de Ruivães e Castelões, freguesias do exterior do conselho de v.n. famalicão, com a intenção de guarnição eliminar os viscondes de Castelões e os Senhores de Vermoim, duas famílias reais mas muito amigas do povo.

Nesse tempo, com a partida do Cochicho para o campo dos republicanos, os mais abastados deixaram de dar trabalho a Amélia que principiou a viver desesperada.

A fome apertava e minha mãe que nesse tempo vivia menos mal lhe matou a fome alguma vezes, segundo minha mãe contava Amélia mulher honesta e respeitadora.

Um dia Amélia quis ir pedir trabalho ao Sr. do Arieiro, um Sr republicano que tinha chegado do Brasil com uma boa fortuna, construindo na sua quinta um palácio que naquele tempo tinha vinte e quatro janelas.

Amélia pensou com a influencia daquela família poderia viver desafogada, alem disso as três filhas da casa do Areeiro mesmo na juventude poderiam ter a convivência duma mulher um pouco mais velha mas experiente.

Bateu á porta veio o Sr. Dominguinho que acabava de chegar com seu carro de duas parelhas, vinha de Ceide duma reunião com os Senhores de Pouve.

Este mandou-a entrar para o rés do chão, e logo procurou encostar Amélia ao estábulo,

Atraída pela campainha vem D. Justina esposa de Dominguinhos, mesmo a tempo de ver Amélia a dar uma joelhada nos testículos, daquele atrevido, que se espezinhava com dores, e maldições.

D. Justina esposa desse velhaco Domingos vendo-o assim e adivinhando o passado, ainda vai pegar num balde do bebedouro dos cavalos e o descarrega cheio de água sobre as partes que ele estava agarrado, dizendo... pega velhaco.

Esta ainda virando-se para o marido diz, durante duas semanas não me apareças mais aos aposentos, de estar, de dormir ou de recreio, o quarto na casa do caseiro será tua morada, eu mesma ali vou te levar tua ração como tu o farás aos cavalos, depois veremos se saberás pedir perdão a Amélia pela tua desonesta e imperdoável ação.

Esperando que Cochicho te perdoe também, o que duvido sem te dar uma boa sova.

Dona Justina abraçou Amélia pedindo perdão pelo sucedido, dizendo, Amélia estou informada o que se está passando contigo, nas aqui serás a minha Irmã mais nova e companheira das minhas três filhas que muito gostarão de tua companhia, todas gostam de te ouvir cantar, e dizem que tua vós vem do céu; quanto ao Domingos tenho certeza que não te incomodará mais, ele é um ratinho medroso, e não vai querer ver mais a ratoeira que lhe apertou as bolinhas; esta deu uma grande gargalhada.

A guarnição onde estava incorporado o Cochicho como primeiro Cabo, cercava a casa do Senhor de Vermoim; as trindades bateram as casas dos caseiros foram posto homens de vigia para os reter.

Uma hora depois das trindades estavam todos na sala do piano onde se encontravam mais duas famílias da vizinhança com seus filhos e filhas como se fosse uma seção de namoro.

Depois de tomadas todas as entradas o grupo comandado por um sargento entrou para pegar em todos os valores necessários a uma boa continuação de guerra civil.

Mas a primeira coisa que fez esse sargento foi deitar mãos a uma menina linda mas ainda de tenra idade, talvez 14 anos que se encontrava espreitado pela porta entreaberta.

Este sargento recebeu tamanho murro do lado do ouvido que caiu estendido como morto... os homens entraram pondo tudo de mãos erguidas.

Cochicho entrou e disse o sargento está estendido, a minha pistola falará para quem se atrever em tocar num cabelo duma mulher...

Prendei o sargento, que queria agarrar esta jovem... fazer mal a uma mulher poderia ser a fazer a minha irmã minha esposa ou minha mãe, lembrai-vos para viver de bem comigo o respeito, e o respeitar toda a mulher será indispensável, ou minha pistola vomitará gogo de morte.

Os bens dos Senhores de Vermoim foram todos confiscados incluindo os cereais deixando-lhe apenas cereal necessário para viverem.

Cochicho, estando perto de casa na calada da noite rastejando consegui deixar o acampamento, veio procurar visitar sua esposa, mas a decepção foi enorme a encontrar a casa vazia.

Determinado a cumprir sua missão militar voltou, tendo comunicado com o grosso do exercito estacionado em V.N de Famalicão, entregando o sargento a seus superiores , explicando a razão porque o agrediu, disse, prometo fazer a minha pistola vomitar fogo, se vir alguém abusando duma mulher.



CAPÍTULO 2

Manhã cedo a barraca militar onde dormia o Cochicho foi cercada, este foi preso, e logo no tribunal militar foi condenado por agredir um superior, as causas porque este agrediu o sargento não foram tomadas em conta, nem como atenuante.

O castigo seria grande se os Republicanos vencessem a guerra civil.

Os amigos de Cochicho ficaram indignados, mas nada poderiam fazer, mas sempre que tinham oportunidade atiravam notas e noticias de como os republicanos avançavam, a carta constitucional de 1919 dava poderes à democracia, prevendo-se mortandade e miséria no país, a monarquia iria cair mesmo com o Herdeiro ao trono ainda vivo.

A pobreza era ainda mais castigada pela pressão dos dois lados que não eram mais que hipócritas e todos queriam o poder.

Dona Justina foi avisada numa nota anônima, que se deixa-se de proteger Amélia ou seria punida, mas já dona Justina tinha mandado construir uma casinha pouco mais que um barraco para abrigar Amélia esposa do Cochicho.

Esta casinha foi construída no monte flor mesmo acima da fonte de Ores num outeirinho antes pouco do monte de S. Miguel o Anjo

Neste meio tempo um dos amigos de Cochicho ficou de sentinela à prisão, e logo combinou com os colegas de se tornarem refratários ao fugirem daquela unidade que fomentava a guerra civil; assim se formou a quadrilha de Cochicho sendo os colegas que o escolheram para chefe pela sua astúcia e determinação e respeito pelas mulheres.

Todos estes refugiados fugiam duma lei que ainda não existia, mas que os obrigavam à força do fogo a fazerem atrocidades sem lei.

Na retirada, armados até aos dentes, não se esqueceram dos mais belos exemplares cavalinos que pertenciam há unidade Militar.

A quadrilha foi se instalar na serra de Vermoim a qual descia para a freguesia de Telhado onde alguns dos mais abastados revolucionários tinham seus passos ou palácios, um destes foi juiz na sua condenação militar.

Havia uma diferença destas quadrilhas das outras quadrilhas de ladrões, este roubavam ao ricos e sempre que podiam assistiam a pobreza.

Quantas vezes pegavam nos seriais em excesso dos lavradores, o sino tocava a rebate e os seriais no adro para a pobreza se servir com a quantidade estipulada, ou o castigo chegava

As joias eras distribuídas por gente sem casa, estas entregues ao verdadeiro dono em troca dum pedacinho de terreno para fazer uma casinha. Com o pagamento de foros por ano no preço duma galinha e uma dúzia de ovos.

Os grandes Senhores compilam com essas ordens com medo da justiça da quadrilha, e por ultimo medo da população que crescia em aldeias, e já não eram mais criados desses grandes senhores, minha mãe tinha dois teares de madeira onde tecia mantas passadeiras

E o mais fino linho, ate que principiou a nascer a industria mecanizada, com a mesma mentalidade de exploração.

Uma noite chuvosa onde o vento tornava em rajadas e assobiava, as folhas dos eucaliptos batiam, tornando-a mais tenebrosa, os passos do senhor de Telhado um dos principais revolucionários tiveram a visita da quadrilha do Cochicho, estes depois de plantar sentinelas nos pontos mais estratégicos.

Constava-se que este senhor usava os espojes da guerra civil a seu favor e dos seus colegas de campanha.

Havia festa rija, o terreiro estava cheio de coches, e os cocheiros dormiam, excepto dois que faziam urgias com duas criadas, mas estes foram bons de dominar e encerrados num dos estábulos, que ali teriam lugar para as coisas mais bizarras.

Os outros, para lá levados também poderiam presenciar a festa ou participar nela...

Os criados de cozinha foram encurralados na dispensa da cozinha, e a sala estava repleta de pares uns que dançavam de copo na mão, outras já sentado nos joelhos deles, elas com os largos vestidos encobrindo o cenário, noite de orgia principiavas no passo senhorial; Homens foram desarmados de suas espadas de grandeza senhorial.......... a recolhas das joias iniciaram-se; mulheres apenas poderiam guardar os brincos, e os homens o relógio, Cochicho advertiu, todas as mulheres serão respeitadas, mas não podem encobrir nada, se o fizerem serão despojadas, quartos e armários foram abertos, as riquezas eram enormes que foram carregadas em carros dos cocheiros... o dinheiro era enormes quantias, que tinham sido recolhidas em campanhas de guerra.

Cochicho levantou o lenço que cobria a sua face dizendo no meu próximo para o Senhor de Telhado, no meu próximo reencontro contigo terás de recorrer a tuas armas pois quero te matar com armas iguais e aprenderes a respeitar a lei.

Apenas uma senhora procurou esconder no seio o mais belo colar que tinha sido recolhido a uma princesa do trono Portuguesa, que seguidamente fugiu para o exílio.

Esta, por uma estucada certeira ficou com o vestido no chão e o colar recolhido por um dos homens de Cochicho.

Os homens foram-lhe retirada a roupa e metidos quarto do segredo e bem fechados, as mulheres num outro quarto apenas com uma janela gradeada, com a promessa se o alarme fosse lançado antes do nascer do dia, a próxima seria morte.

A fama da quadrilha do Cochicho corria montes e vales, estes eram os heróis do povo que os chamava justiceiros e a pobreza sempre respeitada, eram sim malfeitores, tirando aos ricos e dando aos pobres.

Entretanto Amélia refugiada também nas montanhas de Vermoim, do seu amor e casamento com o Cochicho tinha lhes nascido uma filha. O que determinou a partida para fora de Portugal

Nos dias próximos a esta tomada de fortunas, estes cavalgaram para a vizinha Espanha, e já ali na Galiza no porto de Vigo, como grandes gentil homens fugidos da guerra civil Portuguesa fretando um barco que os levou ao Brasil, ali passando por nobres Portugueses, soube-se depois que toda a quadrilha se dedicou a cultivar as terras brasileiras, e arredores de suas fazendas nasceram grandes aldeias de gente livre e trabalhadora.

Amélia morreu ao dar á luz o seu segundo filho, Cochicho ficou eu embaraços com a criança que sobreviveu, pedindo então a sua criada mestiça se casaria com ele para salvar a criança e dar-lhe uma mãe.

Soube-se depois que a filha nascida nas montanhas de Vermoim tornou-se numa poeta escritora, escrevendo para a família suas memórias, Cochicho terminou seus dias em terras Bandeirantes

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