Depois de nove meses de ver minha esposa sofrer, nasceu uma esperança
de a sentir melhorar... sei que a nossa idade a velhice será eterna,
mas sempre procuramos na mãe natureza um pouquinho de compaixão
para nossas dores físicas e emocionais.
Verdade, para mim procurei alivio emocional, quase um motivo de rejeitar de
culpas, e o fazer todo o possível para voltar a ver outra vez o sorriso
que me guiou tantos anos, e foi a forca de meu viver.
Acreditando o que vinha lendo, a respeito do valor que existe nas águas
e massagens das termas de Monchique, quis o destino levar-me e a minha esposa
a essas termas formadas na concha da montanha do mesmo nome, e que já
Camilo Castelo Branco por lá tinha andado com sua mais real personagem,
do Amor de Perdição, Teresa de Albuquerque.
Depois de uma viagem longa, e enlatado num dos aviões da airtrasatt,
sem maneira de movimento, cheguei a Faro cansadíssimo... enlatei a bagagem
num carro novo, Volkswagen Golf, que me esperava e segui para meu destino na
Praia da Rocha.
Ao outro dia depois de uma noite de descanso, seguimos ao encontro das termas
Monchique... por sorte houve consulta com uma especialista Sra. Dra. de 80 anos,
que enquadrou minha esposa entre tantos clientes existentes, o tratamento distribuído
pelas vagas que existiam, deixou-me sem planos, mas com a esperança que
minha esposa iria melhorar com as massagens de jacto quente e as mãos
hábeis que amoleciam os pontos duros dum corpo envelhecido pela dor...
assim, religiosamente obedecia a todos os horários com esperança.
Eram horas que tinha de esperar pela esposa, horas passadas a ver e admirar
a beleza da natureza dos arredores e tirando fotos dos lugares.
Um dia vi um senhor sentado olhando atentivamente para uma mocinha que brincava
despreocupada, alegre, mas com ares de pessoa com deficiências.
Uma das enfermeiras se aproximou desse homem, lhe dizendo baixinho, temos de
levar sua esposa para o hospital para determinar o motivo de alguns caroços.
O corpo do homem tremeu, as pernas quase dobraram os olhos cresceram e silenciosamente
as bagadas caíram rosto abaixo... limpou os cantos da boca.
Talvez salgados pelas lágrimas que escorriam, pegou na mocinha pela mão
e a aconchegou a seu peito, os três entraram dentro do complexo do consultório.
Fiquei esperando e a cogitar, peguei numa revista e principiei a ler, uma meia
hora depois chegava uma ambulância...levantei-me e fui a recepcionista
perguntando o que se passa... apenas respondeu: uma senhora que veio de Andorra
para fazer tratamento, mas creio que o mal requer mais que as termas.
Entretanto minha esposa terminou o tratamento do dia, eram 12:30 resolvemos
comer o almoço ao ar livre entre o sol sombra e flores e ouvir a gente
da terra com suas lendas, o ouvir muito que amam o lugar, que o miradouro mesmo
ao lado se pode ver o espelho do mar, e a frescura da flor de laranjeira vinda
dos pomares que circundam por todo o lado.
Ali naquele alto, onde a natureza nos sorria, o cheiro dos eucaliptos, da resina
os estalos das pinhas que se abriam e cheiro dos pinhões que caiam fazia-nos
voltar em pensamento a nossos tempos de menino... fechei os olhos e por segundos
encontrei-me abraçado por minha mãe, as lágrimas rolaram
ao verificar a realidade que não passou despercebida a minha esposa,
que disse verdade primeiro o tratamento, mas vai me deixar sem tempo de ir visitar
minhas irmãs e meus sobrinho, tenho Portugal e a família no coração,
mas creio que eles longe da vista longe do coração, apenas teu
sobrinho nos vem visitar... assim agora era ela que chorava pensando da família,
estávamos em Portugal, mas ainda tão longe.
A páscoa se aproximava, as saudades cresciam e a impossibilidade era
visível, sexta-feira para visitar Lisboa, sábado para uma volta
pelo Algarve, domingo fazer as malas e segunda de regresso.
Então a ordem seria de aproveitar o sol e o mar, os belos pratos de marisco,
e o conviver com os pensamentos das sereias, criadas perto no local onde o mar
tem mais segredos, de tantas noivas viúvas, e mães sem filhos,
a água salgada com lágrimas e suor de milhares de marinheiros
engolidos pelo mar encapelado, quando a esperança era de ouvir cantar
as sereias.
Naquele dia de ar morno e sol reconfortante regressamos mais sedo do tratamento
em Monchique e fomos para (prainha) comer marisco e arroz de marisco regado
com dois copos do nosso verde, no restaurante oceano, junto a praia.
Nesse dia, sentado junto a um penedo da lenda dos três irmãos;
senti meu pensamento como em comunhão telepática com minhas sereias...
Hára, Mida, e Tifá, e a presença de seu pai o Rei Acula
e a rainha Aqualia.
De senti que meus olhos viam o impossível, lá longe um penedo
surgia acima das águas e com ele o rei Acula e a rainha Aqualia, junto
ao penedo as mais belas sereias que o oceano já viu, creio que sonhava,
mas senti Tifa se levantar e meus ouvidos encerem-se com o som para mim bem
conhecido,
O encanto na voz de um arcanjo, que num sopro tremendo puxou minha cabeça
contra o penedo, dizendo; sonha e depois escreveras.
Nesse momento, vi o mesmo homem das termas de Monchique e a mocinha deficiente
mas risonha, a menina que descia aos pulos as escadas do inferno junto à
alta falésia e correndo para o mar.
O pai ao ver a mocinha correndo na areia para o mar , deitou mãos a sua
cabeça e gritouuuuuuuuuu Emiliaaaaaaaaaaaaaa... e vai de saltar a falésia
cerca de 70 metros... já no ar a sereiinha ruiva Tifá com a rapidez
de um arcanjo agarrou o Alfredo pai da mocinha. E já o rei Acula e a
Rainha Aqualia montados em dois golfinhos puxando uma carroça contraída
com algas de todas as cores, enfeitada com bugios e beijinhos de muito brilho,
as sereias e os pais pegaram na menina e no pai sem acordo desaparecendo nas
profundezas do mar mesmo em frente dos penedos da prainha, onde conta a lenda
que ali se afogaram os três irmãos pescadores, os três penedos
resistem ao tempo relembrando a sua perda.
Tifa a sereia ruiva gritou para mim, mas só eu podia ouvir.... o próximo
sonho escreverás o próximo capítulo...e o fim deste conto....
Acordei aos gritos de minha esposa, dizendo, Armando anda que o arroz de marisco
está pronto....