Ainda muito criança, pela mão de minha mãe subi ao monte
S. Miguel o Anjo.
Sentados sobre um penedo donde poderia enxergar, longe muito longe no horizonte.
Então olhava mesmo em minha frente ficava maravilhado ao ver o astro
rei a descer.
Minha mãe deitou o braços sobre mim como se a me afagar com carinho,
dizendo: filho estas a olhar para o sudoeste onde o sol se deita todos os dias,
escondendo-se para além do mar... em dias (clarinhos), forma um enorme
espelho a ondular, com o mover das ondas.
Longe, muito longe, para além dos oceanos, para onde segue o disco solar
ficam outras terras; muito diferentes gentes em hábitos; com diferentes
cores, como mais amarelados que nós, gentes muito vermelhas e também
muito pretas, mas de tez mais um pouco escura que a nossa, são muitos.
Perguntei: mãe, como sabes essas coisas se tu dizes que nunca viste o
mar?
Logo com um sorriso tristonho me disse; teu Pai que deve estar no céu,
se não for mentira o que eu ouço. Teu pai lia muito... tudo que
podia ler, então ficávamos tardinhas sentados na soleira da porta,
e ele me contava, das riquezas espalhadas pelo mundo, donde veio tanto dinheiro
para construir grandes ( igreijos) o porquê seu irmão, teu tio,
imigrou para o Brasil, indo a procura de moças e riqueza.
Filho vez? Deste lado que o sol sobe, a fica Portugal, daquele lado dali...
(indicando o norte) dali vem as pestes e as guerras, daqueles lados nem bom
tempo nem bom vento.
Eu ficava a cismar...
Depois; ela continuava...ao terminar esta faixa de terreno, que dizem ser as
praias da Lusitânia...e mesmo no fim, fica as costas de África,
onde por lá ficaram, nossos príncipes; seu sangue ficou amassado
nas areias daquele lado, e com eles a flor da juventude Portuguesa.
Portugal não resistiu as investidas de guerra espanholas, e assim nossos
antepassados sem juventude e sem forças estiveram debaixo do jugo Espanhol
60 anos onde perderam muitas terras pelos Portugueses descobertas, descobrimentos
assim pensava o mundo Europeu.
Mas deixa que te segrede uma coisa... teu pai dizia que um tal poeta Luís
de Camões, foi que incitou o rei a essa guerra na África, dizendo,
são infiéis, precisas de exterminá-los.
Três navios saíram do porto cheios de carne para abastecer o exército,
ficando apenas as tripas para se alimentar, a população da Cidade
e arredores, o que lhe vale ainda hoje o nome de tripeiros.
Filho eu nunca sai daqui, nunca vi o mar, mas dizem que e enorme mesmo sem fim.
Os marinheiros que iam em caravelas encontram muita gente diferente, muitas
alvores, mas os pássaros e que são lindos, já fui ver o
viveiro do Marques Araújo, coisa rica.
Dizem que vieram de África e do Brasil.
Dizia teu pai, em frente do mar, se encontram pequenos pedaços de terra,
mas muito mais longe se encontra o mar coalhado, mas muito mais longe se pode
ver o sol a meia noite.
Nunca me esqueceu os ditos de minha mãe, e pensava no que ela dizia,
naquela terra não canta galinha nem gado.
Eu sonhava em ver a verdade de que minha mãe falava. Tive oportunidade
de imigrar para França e lá fui eu procurando mais pão.
Quando tinha pão queria satisfazer minha curiosidade, sem imaginar a
distância, mas pensava em ficar mais perto do sol da meia noite.
Sempre o quis ir ver brilhar, mas quando era fugaz tinha seis filhos para cuidar,
agora que o poderia o fazer, minha companheira de cinquenta anos, está
sem forças; não me pode acompanhar, então eu não
a deixarei só no caminho.
Assim o Sol da meia noite continua a ser um sonho na minha vida.