A Garganta da Serpente
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Fomes

(Anselmo de Sousa Gomes)

Desmantelado de si próprio, ele podia ver todo o verde do quarto num único facho de olhar. O teto, negro, desbotado, consumia cada fluido de seu corpo. Sêmen e sal.
Indisposto, morria detestavelmente a espera das doze. Seu estômago estremecia debaixo dos aromas que as mãos da mulher orquestravam no pedaço gordo e cru de bife, acasalando-o aos temperos.
A cozinha tão próxima de seu limite...
A barbicha loura caía e fedia sobre o colchão. Ele ardia, azedo, cansado de aporrinhar unhas e cabelos.
O odor da carne melava-o. Um gosto que era quase seu, despedaçado naquela agonia.
...

Roxo, arrombou a porta da cozinha e engoliu o pedaço inteiro. Cru.

Onze e dois.

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