A olho nu permeio a amplitude da avenida. Dia de segunda-feira os alvos se multiplicam
em quantidade e opção. Sempre demoro a escolher um, como aquelas
dondocas que se perdem a tarde inteira num supermercado em busca de qualquer
coisa que nem mesmo elas sabem o que é. Vejo através da mira novamente
e percebo os rostos cansados e distraídos dos seres humanos que passam
sob mim. Mal sabem que podem ser mortos a qualquer instante, como num piscar
de olhos. A ignorância é mesmo uma dádiva. Observo seus
semblantes despreocupados, nulos. Sinto uma coceira na garganta. Talvez seja
sede. Emborco o litro de vodca uns segundos, sinto o fogo alcoólico temperar
minhas vísceras. Estou menos denso. Empunho novamente o rifle de precisão,
exponho seu cano elegante à rua movimentada, procurando.
O quarto de hotel onde estou hospedado hoje cheira a desinfetante pinho. Deve
ter sido limpo pouco antes de eu chegar. Na entrada, a recepcionista com cara
de peixe me fitou como se eu fosse um pedófilo. Não é bom
chamar a atenção. Devia ter feito a barba, mas a praga da minha
cunhada tinha que achar de raspar as pernas. Puta. A Wanda sabe que eu a detesto,
e ainda assim a enfia em casa por semanas... Hum... Aquele velho parece um bom
alvo: Anda arqueado; as pessoas o olham com pena e desprezo; deve ter uns oitenta
e tantos anos e muita desgraça pra contar. Digno de compaixão.
Assim mesmo é que eu gosto. Miro em sua testa encovada, suada do dia
quente. Não espero muito. A bala segue seu trajeto determinado, quase
silenciosa, indo aconchegar-se suavemente na fronte esquerda do ancião,
que tomba como se fosse liberado de todo o fardo que carregasse nos ombros.
Dorme. Antes que a multidão horrorizada se acerque do defunto, posso
ver ainda o buraquinho discreto que o projétil deixou. Quase nada. Morte
rápida e indolor.
Desço as escadas lento, dizendo ao tambaqui da recepção
que contabilize as minhas despesas. Ela me encara sem discrição
e soma. Pago em notas miúdas e saio com a maleta em punho, certamente
cheia de fotos de criancinhas nuas.
Mês passado matei um garoto espinhento na 1º de Abril. Coração.
Em cheio. Talvez estivesse pensando, segundos antes, num macete para o jogo
de computador da lan house do bairro. A vida mal vai saber que ele existiu.
As pessoas que o viram ser abatido conhecem de cor a história da bala
perdida. "Hoje aquele menino, amanhã um pai de família, e
por aí vai... O Brasil não tem jeito mesmo!" Reclamação
vazia, indiferente. Simples cópia da reclamação de outra
pessoa, do cara da TV. Ninguém quer saber da pessoa que vai ao lado ao
metrô, que se senta junto e ri no cinema, que dorme no quarto conseguinte,
que cruza rapidamente na rua. Só ambiente. E ambiente se reconstrói;
ao ambiente se adapta. Como não? Hoje em dia é tudo pedaço
de carne, vidro, cimento, dióxido de carbono, madeira e ar. Um prédio
implodiu, uma mocinha foi estuprada... Dia-a-dia. Por isso eu mato gente. Porque
também sou gente e não ligo pros outros. É só um
tipo de esporte, uma distração para o imenso tédio que
me engole diuturnamente.
Escolhi o domingo desta vez porque queria algo novo. Alvos coloridos e pululantes.
No dia mais branco da semana a morte me soa iminente. O domingo transpira morte.
Foi difícil convencer a Wanda e os meninos do pepino na empresa. Nunca
fui de sair num domingo. Sempre brinco de vídeo game com meus filhos,
asso o churrasco e bebo a minha cervejinha vespertina diante da TV. Há
muito tempo que faço isso. Usei de todas as artimanhas pra dar uma volta
na família. Ficaram me olhando do portão, pensos, assim que eu
saí com o carro.
A rotina é como um tolete de bosta na calçada. Só fede
quando cutucamos nele.
Dou um jeito de entrar no casarão abandonado que dá para o parque.
Estendo um lençol no chão entulhado e monto o rifle. Com a prática,
faço em menos de cinco minutos. Na primeira vez, às voltas com
o manual de instruções em inglês, quase varo a noite. Nesse
dia amaldiçoei toda a parafernália tecnológica existente
no planeta. Mas, pensando melhor depois, não fosse ela, como eu teria
um instrumento assim tão sob medida para a minha distração;
e mais ainda, como eu poderia comprá-lo a não ser via internet,
em doze fixas sem juros? Deito sobre o lençol e engatilho a arma. Apoio
meu cotovelo direito no chão e aponto na direção do parque,
através da janela escancarada. Seis da tarde. Horário de pico
do domingo. Muitas famílias. Muitas crianças. Crianças...
Nunca matei uma criança. O mais perto que cheguei foi o adolescente espinhento...
Onde está a vodca? Tomo um gole e me sinto russo. Não sei por
que mas sempre que bebo vodca imagino-me um daqueles russos grandalhões,
peludos, cobertos de lã até o crânio em uma taverna escura
de São Petersburgo. Penso na puta da minha cunhada, alojada em casa comendo
do meu queijo minas. Se ela passeasse pelo parque agora, se surgisse na minha
mira, eu com certeza a mataria... Vaca... Há também cachorros
e velhos de camiseta branca e moletom fazendo cooper. Sigo alguns dos transeuntes
com a arma, como um observador de pássaros. Um moleque toma iogurte com
verdadeira ânsia. Um cão pitbull corre veloz entre as árvores,
perseguindo não sei que canela imaginária. Nada demais. Tomo outro
gole para afastar o ócio. Tremo um pouco. Deve ser a idade. Os quarenta
do homem atual são os sessenta do homem de trinta anos atrás.
Merda de comida industrializada.
Bem, vamos ver... Vamos ver... Que tal a mocinha de macacão? Não...
Talvez... Isso mesmo... O pitbull!
...
Pronto. Acho que o bicho não sentiu mais que um beliscão atrás
da orelha. Tô ficando bom nisso. Acertei um cão em movimento. Peguei
o jeito desse negócio. Bem que eu podia garantir um extra como matador
profissional... Pensando melhor não, ia estragar o propósito de
o meu hobby existir. Diversão é diversão, trabalho é
trabalho.
Agora deram de cercar o cão morto. Como fizeram com o velho sofrido.
"Essas balas perdidas..."
Hoje saí do trabalho com desejo. Quero uma façanha. Percorro as
ruas ansioso, com leve taquicardia, vendo os barzinhos lotados de funcionários
públicos e filhinhos de papai. Uns amigos da empresa me convidaram para
um chope no lugar de sempre. Na minha ânsia, recusei. Hoje estou como
louco, com o corpo todo remoendo e coçando de vontade. É fato:
estou viciado em matar. Meu menino mais velho é viciado em skate; eu,
em matar. E hoje o desejo deu de vir com tudo. Viro a esquina na 02 de Novembro,
onde a profusão de bares se torna latente. De repente, minha garganta
começa a ficar irritada. Procuro a vodca no banco de trás, no
banco da frente, em baixo dos bancos, no porta luvas... Nada. Esqueci minha
bebida em casa. Cacete! A vodca é como um lubrificante. Sem ela minhas
engrenagens não funcionam. Olho os bares, cutuco a carteira, estaciono
atrás de um Golf branco. Entro no recinto abarrotado e, sem mais nem
menos, resolvo sentar. Peço vodca pura, da minha marca. O garçom
traz a dose num copo achatado. Engulo dum só trago e fico olhando em
volta, sentindo suavemente o contato do líquido com as minhas entranhas.
Estou mais calmo.
Toda essa gente bebendo e vociferando é apenas barulho e espaço
preenchido. Ambiente de bar. Um bando de possíveis futuros alvos. Tem
um pau de cana esparramado nos fundos que nem sentiria falta dessa vida. O garotão
do jiu-jítsu cercado de comparsas não alteraria em nada a ordem
das coisas se fosse fulminado na esquina da José Bonifácio com
a Tiradentes. E o garçom que me traz outra vodca? Esse então,
passariam por cima do corpo e nem notariam. Gente é só gente,
mais nada.
Engulo a segunda dose tranquilo e só então me dou conta de
que estou na 02 de Novembro. Um matador bebendo na rua dos finados. Baita anedota
do acaso. Quase dou uma gargalhada diante do pessoal.
O desejo cresce como nunca!
Deixo o lugar e ganho a interestadual. Levo uma garrafa de vodca comigo. Nas
sextas-feiras o movimento é qualquer coisa de razoável. Escalo
um daqueles ex-restaurantes em ruínas, enquanto a noite explode de nuvens.
Se eu estivesse na estrada, provavelmente estaria no clima de ouvir "Beautiful"
do Marilion ou coisa que o valha. A estrada sempre trás um aspecto de
lentidão, de meia velocidade à paisagem e aos pensamentos. Melancolia
dócil. Um dos poucos momentos em que se vale à pena estar vivo.
Os veículos passam por mim indiferentes, mecânicos. Monto o rifle,
carrego-o e me deito sobre o velho cobertor. Deixo a vodca ao lado, companheira.
Encaixo meu olho direito na mira, aproximando consideravelmente os detalhes
dos passantes de mim. A primeira coisa que focalizo é um quarentão
sem camisa que trafega num Palio verde musgo. Vai acompanhado de uma mulher
aparentemente mais velha que ele. Pela cara dela, deve estar enfastiada e com
sono. Uns cem metros atrás guia uma mulher de meia idade muito bem vestida,
parecida com a esposa do meu irmão caçula. Vai sozinha. Ultrapassa-a
uma Pajero preta repleta de meninotes despenteados e faladores. Descem tipos
assim ao litoral todo final de semana, desde que inventaram o passeio à
praia. Poderia matar um deles. Chego a roçar o dedo no gatilho mas depois
acho melhor não. Uma noite como essa merece algo maior, mais contundente.
Tomo um gole enorme. Minhas pernas arrepiam. Deve ser o efeito do álcool.
Debruço-me completamente sobre o lençol, rolo umas três
vezes, sinto o ar da noite, ouço os motores distantes, arranjo os colhões,
tiro os sapatos, bocejo, arroto vestígio de vodca. Olho pra baixo. Um
cara está com o carro parado do outro lado da pista, vasculhando alguma
coisa no porta malas. Vejo-o através da mira e noto que arruma umas bolsas
cinzentas. Abre uma delas e remexe no que parece ser um maço de papéis.
A velha burocracia acumulada, com certeza. Mas pra quê tanto papel? Movo
o rifle até o alcance de sua perna e atiro. Acabo de ter uma ideia.
Atiro e vejo o cara dar uma desequilibrada e cair sentado no capim ralo. Pressiona
com força o ferimento e olha ao redor, aterrorizado. Miro no braço
que pressiona e disparo novamente. No alvo! Os carros seguem passando, cegos
àquilo. O homem dá uma cambalhota para trás e afunda numa
moita de capim. Quase posso ouvir seus gritos. Agora começa a tentar
uma fuga desajeitada, arrastando-se para o interior do mato. Ainda posso vê-lo
da metade para baixo. Enfio um projétil em sua nádega esquerda,
ele dá uma volta sobre si mesmo, enlouquecido. Ergue a cabeça
um pouco, buscando qualquer saída desesperada. Não está
mais em si. É só instinto de sobrevivência. Perfuro sua
caixa craniana à altura da calvície e acabo com o espetáculo.
Estou estafado. Sinto minhas mãos formigarem. Aperto-as contra o tórax,
afoito. Por um instante, voltei a ser criança. Engulo quase todo o conteúdo
da garrafa e a arremesso longe, espatifando-a contra uma laje incompleta, lá
embaixo. Sento-me no cobertor. Desmonto o rifle de precisão. Feito isso,
lembro de olhar para o lugar onde o corpo está: continua o mesmo de minutos
atrás. O carro estacionado, o defunto coberto de sangue e carrapicho,
o movimento da interestadual como deve ser. Olho para mim e noto que estou exausto.
Não tenho mais idade para certas emoções. Melhor ir pra
casa antes que a janta esfrie.
Ganho a interestadual e sou enfim um dos carros passando, vivo por capricho,
linha tênue. Cheguei a um ponto da minha distração em que
pode se acabar o seu encanto. Mas ainda é cedo demais. Cedo demais. Não
há porque parar. Não vejo motivos para isso.
Procuro pensar no peixe grelhado que me espera, deixo a vodca gerenciar as minhas
decisões e aprecio o resto dessa liberdade noturna como quem fuma um
cigarro muito saboroso.
A mais de duas semanas que não mato ninguém. Estou numa daquelas
folgas tediosas que costumam se abater sobre qualquer entretenimento, quando
muito usado. Sinto-me um menino que está enjoando do carrinho de sempre.
Saio do trabalho e vou direto pra casa, ou quando não degusto uma cerveja
insossa com os colegas, desanimado, metido com meus botões. A Wanda a
muito que anda com a pulga atrás da orelha, me olhando como se eu estivesse
escondendo alguma coisa dela. Deve pensar que eu arranjei outra. Nem implico
mais com a pentelha da cunhada...
Mas o que é isso? Custei tanto a encontrar uma coisa que me ressuscitasse
depois dos quarenta. E quando encontro, tenho que me enfastiar tão rápido?
Ah, não mesmo!
Faltei ao trabalho nesta quinta-feira. Depois conto qualquer mentira pro chefe.
Preferi sair numa manhã de semana. O ar parece novo. É um dia
como qualquer outro, de trabalho, mas o simples gesto de modificar a rotina
põe como que um disfarce na sua cara.
Pego o carro quase eufórico (controlado por causa da minha mulher), deixo
os meninos na escola e avanço pela cidade, livre como um cão que
passou a semana inteira acorrentado. Na curva da Washington Luiz quase bato
num motoboy. Entro pela 15 de novembro, passo pela Praça da Luz, pelo
Tribunal de justiça, pela Faculdade de Filosofia, pelo Mercado Municipal.
Mas a cidade é outra. As ideias começam a fluir: limpas,
frescas, leves.
Sou de novo o homem que fui semanas atrás.
Quase dando um pulo dentro do carro, escolho uma casa comercial da avenida Jânio
Quadros. Embaixo funciona uma loja de roupas íntimas; nos altos a fachada
envelhecida, de pintura descascada, denota um tipo de depósito pouco
utilizado. Estaciono o carro numa ruela lateral, suave. Cato a minha maleta
e noto que existe uma escada externa no prédio dos fundos, que vai até
o andar de cima. Apesar do dia comercial, esta ruazinha está vazia. Serve
apenas de estacionamento a alguns carros do pessoal que trabalha por ali. O
prédio dos fundos está caindo aos pedaços. Subo as escadas
e entro pela porta escangalhada. Estou numa saleta abarrotada de entulho. Tiro
a camisa e o relógio de pulso. Subo numa pequena pilha de tijolos velhos
e destelho uma parte do teto, onde devo caber. Penso que estou velho pra estas
coisas, mas hoje uma palavra que não existe em mim é desânimo.
Jogo a maleta pra cima do telhado, agarro numa das vigas de sustentação
e, estalando todos os ossos possíveis consigo alcançar o cimo.
O sol frio me reencontra arfante e empolgado. Pego a maleta e dentro de alguns
passos chego ao telhado da casa comercial.
Belo início de aventura. James Bond do funcionalismo público.
Meus braços doem como se dois cavalos indo em direção oposta
os tivessem esticado. Deito sobre o cobertor e respiro uns minutos. Deixo o
coração relaxar. Penso coisas brancas, monossílabos. Um
urubu sobrevoa-me majestoso. Talvez me enxergue de sua altura, indiferente como
procede à condição animal. Se fosse uma pessoa também
não ligaria. Vê-se de tudo nesta cidade... Estou melhor. Acho que
não vou tremer com o rifle em punhos. Monto o meu amigo mais rápido
que de costume, posiciono-me de bruços, encaixo a mira no olho direito.
Busco a avenida...
...minhas mãos tremem. Não dá pra controlar. Deve ter sido
o esforço pra chegar até aqui. Cãibra nas pernas... olhos
lacrimejando... dor...
Quarenta e seis anos. Casei aos trinta e três. Idade de Cristo. Eu não
tenho nada a ver com Cristo. Sou um homem moderno. Infeliz e fechado... ai...
esmurro as pernas, mas o antebraço está em brasa. O rifle pendeu
pro lado faz tempo... cacete...
...meio-dia mais ou menos. Um peso enorme se abate sobre mim. Peso acumulado,
é o que parece. Como se um guindaste despejasse uma carga de aço
bem em cima das minhas costas. Começo a querer chorar. Merda! Choro não.
Agora não. Choro sempre desaba com tudo...
...onde é que eu tava quando isso aconteceu? Nada demais. Preparava-me
pra matar. Tranquilo como todo dia. O que que houve? Pessoas passando normalmente,
conversando, vivendo. Nada demais. Onde foi que caí neste descontrole
filho da puta? Quando perdi a mira?
...começo a pensar que isso pode ser um tipo de ataque cardíaco,
ou coisa que o valha...
... está passando... volto a sentir minhas articulações,
estabilizo a respiração. Crise passageira. Seguida de uma enorme
vontade de fazer alguma coisa nova, como quando deixamos uma pessoa que só
nos aporrinhava e encaramos a possibilidade do mundo em nossa frente. Incrível!
O meu rifle parece obsoleto. Eu pareço obsoleto. Tudo em volta precisa
de uma faxina.
Desço por onde entrei e logo estou no carro, suando frio, mas uns vinte
anos mais jovem. Tenho milhões de ideias novas.
Domingo. Saio com a família. Os meninos estão eufóricos.
Minha mulher abusou na comida. Está feliz. Voltamos a fazer amor. A cunhadinha
vai no banco de trás, retocando a maquilagem como de costume. Não
implico com ela faz uns cinco dias. Estou dando uma colher de chá pra
pentelha. Vamos todos ao parque de esportes radicais. Descobri um novo Éden:
rapel. Gostosíssimo sentir aquela vertigem das grandes alturas, a proximidade
com a morte. A morte. Os meninos adoram a cama elástica e a Wanda está
sendo convencida aos poucos a me acompanhar. Estou leiloando o rifle pela internet.
Já apareceram nove lances. Vou sentir um pouco de saudades do meu antigo
companheiro. Mas isso são águas passadas. Matar gente foi uma
fase. O lance agora é rapel. Quero aproximar-me da morte, eu, que a vi
nos outros. Senti-la comigo, amor dado; agora cultivado e feito meu.
Tornei-me um egoísta por inteiro.
Vamos à escalada! Afinal de contas, nunca se sabe por onde andam essas
balas perdidas...