A Garganta da Serpente
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A casa

(Agonis)

Por volta da meia-noite eu saí pra andar, dar uma volta... muitas coisas acontecem de madrugada... muita gente que segue a deixa de seguir, muita gente com Deus no coração sendo morta a violentada, muita gente por aí que acorda sem história pra contar... este era meu objetivo, ver se naquele dia era minha vez, ver até que ponto meu pavor agiria, ate que ponto eu sentiria medo e, ao contrário do que minha mente dizia, se voltaria são para casa.

Até este dia eu diria que sofria de uma tendência à síndrome do pânico. Sim, muitas vezes sentia que do silêncio, de uma hora para outra, alguém saltaria, alguém me faria pagar.. pagar o quê? Não há respostas, é a mente que diz: "Você tem de pagar" ou, simplesmente, "Hoje você não escapa". Sim, pode ser engraçado, você pode rir, mas pra gente que tá andando na rua a ate a garota mais simpática toma-se sua inimiga número 1, é difícil, é pesado, é denso, é como o momento em que se descobre que o avião vai cair e não tem jeito, daquele momento ate a hora da explosão, nada se pode fazer, você sabe, tem a certeza exata de que se acabou a acaba mesmo antes do "bum!".

Triste? Eu diria que agonizante, de uma agonia lúcida e mordaz, pontiaguda, uma agonia sem cor. E assim, nesta agonia, neste pavor, eu andava pelas ruas, com medo. Qualquer um poderia me pegar a me tornar nada. E pior que isso era o medo de sentir medo; o medo de sentir este medo por si só já o provoca. É o momento em que o suicida pensa em voltar quando seu corpo já está entre o chão e a janela. Quem nunca vivenciou nunca saberá nem compreenderá...

Foi assim que resolvi sair de casa naquela noite, eu tinha que provar para mim mesmo que tudo era paranoia, que tudo estava na minha cabeça, que eu sobreviveria. Mantive-me seguro até um dado momento, porém quando me vi no meio da rua, deserta, escura, iluminada por postes sombrios, começou a acontecer. Meu corpo, por dentro, tremia, a princípio pouco. Eu podia voltar, não estava longe de casa. Resolvi continuar, tinha que provar para mim mesmo que tudo não passava de estúpida paranoia, que eu era corajoso.

Ouvi passos, quis correr a poderia. Meu desejo era correr. Os passos estavam atrás de mim, frios, venenosos, me fitavam. Apressei-me a continuei sem olhar para trás, dois guardas vinham em minha direção, me acalmei. Mas se fosse apenas disfarce? Se eles não fossem guardas, mas sim assaltantes disfarçados? E se fossem guardas, mas guardas desonestos? Meu medo escancarava-se, eu já não podia voltar para casa, haviam passos atrás de mim.

Os guardas perceberam minha aflição, deram boa noite a continuaram. Eu sabia que de uma hora para outra se virariam, queriam me pegar de surpresa, atirariam em mim! Se juntariam, agora, com os passos... Corri. Corri o máximo que pude, corri longamente a não percebi que quanto mais corria mais me distanciava de casa. Eu não teria coragem suficiente para voltar. Quando parei de correr, percebi que nada havia me acontecido. Mas se não tivesse corrido? Já estaria morto, com certeza.

Não acabou por aí. Tinha a nítida impressão de que por trás dos postes sairia alguém. Um bando de moleques, que voltava ou is para alguma festa, estava próximo. Se eles estivessem bêbados seria o meu fim. Eles gargalhavam, riam alto a chutavam latinhas, eu morri de medo, olhei para trás e não via ninguém a na frente estavam eles, rindo de sua próxima vítima, que provavelmente era eu.

Fingi que mancava, assim eles poderiam ter pena de mim. E tiveram, porque nada me aconteceu. Eu estava vencendo? Eu estava vencendo o medo? Não sabia. Mas ele estava ali, grudado em mim, implorando para ficar, rastejando em meu coração aflito. Comecei a tremer por fora, agora. Meus olhos estavam em estado de alerta. A qualquer momento seria meu fim. Eu já estava longe de casa a não voltaria ate que o dia amanhecesse. Não iria ter forças para voltar. Eu não estava vencendo porcaria nenhuma. A pessoa que não sabe nadar não pode cometer a burrice de se jogar ao mar! Eu estava perdido, alguma coisa iria acontecer...

Me encostei no muro de uma casa a fiquei parado, não sei por quanto tempo, olhando de um lado para o outro, apreensivo, esperando a hora que se desse o fim. Me sentei para que fosse mais difícil que me vissem. Suei o quanto me era possível. Queria fechar os olhos, mas eles continuavam atentos a qualquer barulho que eu ouvisse estourava em mim um temor, um pavor mais violento.

Estava em pânico. Várias vezes achei que fosse desmaiar. Ouvi um barulho a vi que dois homens caminhavam pela rua. Sai correndo em direção contrária à deles. Não olhei para trás nenhuma vez. Apenas corri a meus próprios passos ecoavam fazendo com que eu achasse que eles estavam correndo atrás de mim. Tinha de voltar pra casa. Eu estava sem relógio a não sabia que horas eram. Não podia voltar, não tinha coragem. Talvez se eu descansasse mais um pouco a em seguida corresse o máximo possível para chegar em casa!

Foi o que fiz. Voltei o mais rápido com uma pedra na mão. Com a pedra eu tinha mais coragem, mais poder. Poderia ao menos me defender, mas só tinha uma a não podia desperdiçá-la. Vi os mesmos dois homens a segurei a pedra com mais firmeza, iria jogá-la. Mas se eles não fossem maus e depois, sem a pedra, eu encontrasse outros no caminho? Estava mais perto a já me arrependia de não ter jogado. Agora era meu fim... Mas não foi. Talvez eles fossem mesmo gente boa.

Pelo menos ainda tinha a pedra. O silêncio era mortal, descontando o meu próprio barulho. Dos postes sairia alguém, na próxima esquina estarão me esperando. Se fossem muitos uma pedra só não bastaria. Meu pavor era enorme, vinha transbordante, vulcanicamente transbordante. Corri ao máximo. Não parei um segundo.

Cheguei em casa são a salvo. Eram quatro da madrugada. Estava aliviado a prometi nunca mais fazer aquilo novamente. Deixei a pedra em cima da mesa a fiz um café. Apaguei todas as luzes a ao dormir ouvi alguém mexendo na porta. Era algum ladrão, pensei. Levantei-me cuidadosamente, peguei a pedra na mão a depois resolvi que com a faca seria melhor.. Vi discretamente pela janela da sala que era apenas uma pessoa. Tinha um revólver na mão, seus olhos pareciam possuídos, assustadores. Fiquei com a pedra a com a faca esperando que ele entrasse.

Quando, por fim, arrombou a porta, joguei a pedra em sua mão, ele largou o revolver imediatamente, e, como sempre fiz, esfaqueei seu corpo ate que morresse.

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