Isso não é um sorriso. Isso são lágrimas sufocadas
pelos soluços escondidos. Escondidos pela risada, pela ironia.
São lágrimas de tristeza, de desilusão. Desilusão
pela necessidade de crer. Foi escolher algo impossível para crer. Consigo
ler essa ironia em seus olhos. Agora cintilantes pelas lágrimas que não
conseguia mais sufocar. Mas esconder de quem? De seus amigos, de sua família?
Mas por que? Eles não entenderiam? Não. Não entenderiam
o motivo de suas lágrimas. O motivo que apenas ela conhecia. O motivo
que estava dentro dela, sufocado pelas suas lágrimas. Lágrimas
sufocadas pelo motivo do desespero, da derrota, da tristeza, da desilusão.
Algo irônico. Algo pelo qual não esperava quando escolheu esse
objetivo para alcançar. Um objetivo que poderia ter sido como um sonho.
Mas que apenas a fez ver que não pode confiar em ninguém, acreditar
em ninguém, amar ninguém. Todos têm duas faces, e é
impossível saber qual a face verdadeira, a face virada para o coração.
Máscaras que são trocadas a todo minuto, a toda situação.
Pessoas sem opinião, sem conceito, sem moral. Pessoas volúveis,
manipuladas e manipuladoras. Pessoas interesseiras, que não eram quem
ela esperava que fossem. Pessoas que a fizeram ver o mundo de um lado cinza,
escuro, frio.
Mas agora estava decidida. Iria acabar de uma vez com essa situação.
Não conseguia mais ver aquelas máscaras hipócritas. Não.
Não aguentaria tudo aquilo mais uma vez.
Já era noite. Uma noite fria, de lua cheia. Não conseguia ver
estrelas, apenas aquela neblina fria e sem cor.
Mas ela não sentia mais frio. Não sentia mais tristeza, nem remorso,
nem raiva. Não acreditava em mais nada. Acreditava apenas no que queria
acreditar. No que queria ver. No que queria sentir. Mas naquele momento, não
queria pensar nem sentir nada. Queria apenas dormir. Dormir um sono sem sonhos,
sem mascaras, sem disfarces, sem hipocrisia.
Mas ela não conseguia não pensar. Mais do que nunca, pensava nas
pessoas que um dia amou, que um dia foram importantes para ela. Será
que sentiriam sua falta? Mas era tarde. Estava decidida. Já estava tudo
preparado, não podia voltar atrás. Pegou o frasco. Olhou para
o copo d'água. Ainda poderia voltar atrás. Não, não
poderia. Resolveu ir adiante com isso. Tomou metade do conteúdo do frasco.
Ouvira que um comprimido, no máximo dois já faria efeito, mas
por precaução, resolveu tomar mais, assim não teria erro.
Seria suficiente? Descobriria. Bebeu a água, mais amarga do que nunca
naquela noite.
Sentia-se sonolenta. Os minutos custavam a passar agora. Pensava no que as pessoas
diriam. Pensava nas pessoas tentando adivinhar seus motivos. Será que
descobririam? O que quer que fosse, estava dentro dela, e acabara de partir
junto com ela, e com suas lágrimas. Não importava mais. Era tarde.