Um belo dia de sol... o amanhecer, rotineiro, está lá quase no
mesmo horário. Um leve som de ondas se chocando ao fundo. Melodia aos
ouvidos, se tiveres a sensibilidade de escutar... teus olhos se abrem lentamente
conforme a luminosidade quase obscura passa através das cortinas da janela
para dentro de teu quarto!
Sim, ela está do teu lado. Uma visão deslumbrante. A serenidade
impera. Um beijo de leve na testa, e quase um ronronado... nossa, como é
perfeito esse som de chamego! Amor, sim, sublime amor. Colocas uma roupa leve,
abres a porta do quarto, em silêncio, passando por um rápido corredor
escuro, até o banheiro. A água fria passa a percorrer agora o
rosto, os olhos e o pescoço, prenunciando um despertar mais forçado.
Algumas gotas correm pelo corpo, através das várias imperfeições
epiteliais... uma sensação de prazer e energia percorre!
Alguns minutos ganhos na não-utilização tecnológica!
Por que um simples apertar de botão, quando a glória está
no preparar de um café? Saboroso, de puro paladar, e não insosso
como água barrenta misturada a açúcar feito em um tempo
que se torna impossível pra acreditar na perfeição homogênea
da mistura.
O aroma, aquela fumaça branca percorrendo a caneca também branca
com um brasão Azul e Dourado. Símbolo da família, as saudades
de todos vem ao coração e à lembrança!
Destravas os trincos... afinal, o mundo é imperfeito ainda. O som oceânico
cada vez mais forte... mais retumbante... mais grave... tambores surdos atrelados
a ritmo natural. Deslizas a porta da varanda... um vento gélido parecia
estar aguardando apenas esse momento para vir em tua direção.
Mas ao invés de esconder, abraças com todo o desejo que te presenteia
o descanso...
Ah, sensação de invulnerabilidade!
A visão. Agradeces a Deus por tê-la agora. A conjunção
de cores, azuis, amarelas, vermelhas e róseas... O Sol, ainda fraco,
levantando-se lentamente, buscando forças a cada segundo passante, enviando
literalmente sua energia para o nosso bel prazer sem ao menos cobrar nada, apenas
talvez nossa admiração e respeito. O céu, cercando-o, como
torcida aguardando o momento de desfecho. E o mar, abaixo, refletindo sua onipotência
celeste, adicionando à aurora passada o poder do brilho fulgurante.
Lá, não ao longe, o elegante voar sobre as águas da gaivota
e o lento vogar do pescador, soldado matutino a buscar seu sacrifício
diário. O resto do mundo gira, sem parar, e acompanhar o movimento é
o que lhes resta. Sentas em poltrona importante e imponente, a realizar o melhor
ângulo para arquivar na mente o tempo destacado. Visão, Audição,
Olfato, Paladar e Toque em harmonia. A vista, o som das ondas, o aroma do café
e da maresia, o sabor doce-amargo do mesmo, e o frio temporário dando
margem a luz sensual!
O que mais poderia ser mais perfeito do que esse instante?
Um beijo repentino, um abraço caloroso por trás e um "Bom
dia, Amor, que lindo o dia está hoje, não?" quase murmurado
ao pé do ouvido...
Pronto, Deus, deixai-me nesse espaço curto de tempo quando morrer, pois
este é meu Paraíso!
(31-12-2005)