A Garganta da Serpente
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Noite Macabra - um conto de rock and roll

(Carlos Pompeu)

Até parecia uma montanha. Imagina um cara com mais de dois metros de altura e uns cento e vinte quilos. É uma cara forte e com uma cara de mau. Alguém assustador. Por isso ele prestava serviço de segurança.Trabalhava na noite. Era segurança de balada. As mais agitadas sempre o contratavam. Afinal, a simples visão do seu perfil intimidava qualquer um. Enfim, era um profissional muito bem conceituado no mercado. Entretanto, ele gostava de trabalhar em inferninhos. Gostava de prestar os seus serviços quando ocorriam shows de rock and roll.

Naquela noite ele estava no Limbo, uma casa noturna que era uma espécie de boate underground clandestina.Lotação máxima. Pelo fato de não ser legalizada funcionava em datas agendadas com antecedência. Por exemplo, estas datas coincidiam com a noite de lua cheia. Isto facilitava na hora de fechar o negócio. Assim, no dia que a Limbo abria as portas não trabalhava em lugar algum.

Ainda mais naquela noite. Haveria o show do Noite Macabra, uma banda que tinha como vocalista Mike Phone. Ele era tão gótico que parecia mais um vampiro. Eles tinham fãs que o acompanhavam onde quer que tocassem. Caronte, o grandalhão, gostava desta banda. Enfim, ele é que decidia quem entraria no Limbo. Lá dentro a festa bombava. O bar vendia bem. A música se espalhava pelo ambiente no som mais alto. Predominava o escuro sobre a claridade que surgia com as luzes que piscavam. Tudo parecia ficar em Câmera lenta.

Na pista de dança Veruska Veneno se destacava. Talves por sua aparência. Talvez por sua dança.Enfim, chamava atenção por sua exuberância. Também era conhecida como a cabritinha do inferno. Isto porque em suas costas sobre o ombro direito havia um bode preto tatuado. Um cara que ficou com ela espalhou a notícia.

Ela resolveu respirar um pouco. O ambiente era esfumaçado o que aumentava a sensação de calor. Foi até o balcão. Automaticamente foi atendida. O barman era um cara bigodudo que mais parecia um hell´s angels deu uma olhadinha como se fosse um sinal. Ninguém notou nada. Parecia um código. Isto porque ela logo entendeu do que se tratava. Então, bebericou seu drink e atendeu seu celular que começou a vibrar. Talvez não fosse obra do acaso, mas a ligação estava sendo feita do mesmo balcão, a menos de um metro de onde estava.

Eles estavam ao lado de Veruska. Eram três. Uma noite ainda mais divertida. Esta era a intenção que povoava suas mentes estimuladas pelo consumo de álcool. Um deles morava com a avó que estava viajando para o interior. Era a senha. Um deles veio com a ideia que todos acolheram. Logo, entrarm em acordo. Decidiram contratar umas garotas para que fizessem streap tease.

Segundo as informações colhidas ali mesmo naquele inferninho, havia um cachê. Um valor a ser pago em moeda corrente pela apresentação. Isto já era muito estimulantes. Pelo menos para aqueles três bêbados. Caso houvesse um interesse de uma maior aproximação, algo como aprofundar a relação estabelecida era possível renegociar os valores. Isto implicaria em um momento a sós e com pouca ou nenhuma roupa.

Eles, então, caíram na risada. Havia excitação no sorriso de cada um deles. Eram todos canalhas e aquilo sugeria uma diversão adequada. Algo tão banal que era inocente. Entretanto, um deles, pensava um pouco diferente. Ele não concordava muito com seus parceiros de balada.que às vezes se passavam como sendo seus amigos. Por isso embarcava na onda. Afinal, tinha que fazer parte do time.

Inclusive, os brothers estavam no Limbo por sua indicação. Ele curtia o Noite Macabra. Tentava se vestir como o vocalista da banda. Quando vestia aquelas roupas pretas sentia-se como um membro da banda de Mike Phone. Tinha até um codinome que ele mesmo criou. Garoto da Meia Noite.

Enfim, mas os três estavam tão envolvidos com a ilusão de que iriam se divertir bastante, que teriam uma dose a mais de um pouquinho de felicidade que não perceberam que Veruska atendeu seu celular justamente quando fizeram a ligação. Ela fez charme, apesar do barulho, e logo perguntou pelo endereço. Ela sacou que se tratava de um bando de otários e que não falavam coisa com coisa. Mas isto não seria problema. Bastava seguí-los.

Eles saíram e o garoto da meia noite sentiu que estava sendo observado. Olhou para trás e notou que Caronte o encarava. Ele não entendeu e seguiu adiante. Também não notou que Veruska cochichou algo para o grandalhão . Apesar do tamanho, Caronte, era um tanto efeminado e gostava de trabalhar no Limbo por causa de momentos como este em que poderia viabilizar uma possibilidade de encontrar alguém.

Estacionaram o carro na frente da casa da vovó e entraram. Logo em seguida a campainha tocou. Era Veruska e mais duas amigas. Elas vestiam poucas peças de roupas e tinham um aspecto provocante. Foram para a imensa sala. Veruska pediu que apagassem as luzes. Na penumbra elas fizeram uma espécie de dança onde seus corpos se movimentavam sensualmente.

Os caras ficaram enfeitiçados. Vidrados. Talvez estivessem de pau duro. Estavam loucos e bêbados e queriam luxúria. A noite prometia. Um deles deve ter pensado algo assim. As meninas se contorciam e se insinuavam. Caras e bocas . De repente Veruska ficou sozinha. As outras duas entraram casa adentro. Isto porque ao chegarem o neto da dona da casa como bom anfitrião mostrou todos os aposentos. Supostamente elas se dirigiram para os quartos. Eles ficaram mais loucos ainda. Um deles sumiu também. Deve ter ido procurar uma das beldades.

Em seguida o outro amigo também desapareceu da sala. Enquanto isto Veruska de costas rebolava provocando fortes emoções. Aí em um piscar de olhos o garoto da meia noite se viu sozinho na imensa sala de estar da casa da vovó de seu brother. Ele disparou a rir à toa. Algo bom parecia que iria acontecer. O sorriso escancarado ficou mais parecido com o riso da Mona Lisa após uns dez, talvez quinze minutos. O silêncio passou a reinar. Achou estranho. Além disso, tudo estava escuro. A ficha ainda não havia caído. Até então. Olhou de um lado e de outro. Tudo escuro. Tudo quieto. Foi quando ouviu um grito.

O grito parecia ser de uma mulher e não tinha nada a ver com prazer. Era como aqueles de filme de terror. Assim mesmo ficou na dúvida. Como assim? O que significava isso? Um segundo grito quebrou o silêncio mais uma vez. Desta mais aterrorizante e agudo. Algo que, definitivamente, chamava atenção. Aquilo afastou de sua cabeça qualquer pensamento relacionado com uma fantasia sexual mal resolvida. Temeu pelo pior. Nada a ver com alegria ou diversão. Agora tinha a noção do perigo. Ou ao menos uma sugestão de que o trem havia saído dos trilhos. Tinha que tomar uma atitude. Foi em direção daquele som estridente que abalou sua percepção das coisas. A medida que dava passos adiante ficava mais aflito.

Entrou em um dos quartos e para seu espanto observou que seus brothers estavam desnudos e ensanguentados. A cor vermelha se destacava e predominava no seu campo de visão. Ficou pasmo. Sem ação. Mas esta havia sido apenas a primeira impressão. Então, notou Veruska, a cabritinha do inferno. Não havia como negar que fosse gostosa. Apesar da lingerie sensual, ou algo do gênero, não ficou nenhum pouco excitado. Estava assustado com aquela situação.

O motivo daquela sensação era o sangue que escorria dos cantos dos lábios da cabritinha. Ao fundo estavam as amigas que se contorciam e rebolavam em uma euforia que não era correspondida pelo sentimento que atravessou seu coração. Por causa da penumbra não teve como avistar sangue nas garotas. Mas sabia que estavam lambuzadas com o sangue dos seus amigos.

Veruska veio em sua direção. O medo invadiu seu íntimo. Já estava suando frio. O coração pareci que saltaria pela boca. Teve medo de morrer. Ficou paralizado. Seus olhos tiveram a intuição de que seria atacado em quaestão de segundos. Empurrou a cabeça para trás. Sentiu a mão dela encostando em seu peito. Só restava gritar para que salvassem sua vida.

A porta do quarto havia sido fechada. Não lembrava disto, mas naquele instante foi arrombada. Caronte arrebentou a porta com um único chute. Veruska interrompeu seu ataque e desviou o foco de sua atenção para o grandalhão. Na sequência uma sobra surgiu por trás do brutamontes. Uma figura sinistra. Ela se afastou do garoto da meia noite. 'Você fez um bom trabalho". Esta frase foi sussurrada em seus ouvido. Era Mike Phone, o vocalista do Noite Macabra. Ele, então, se aproximou do jovem em estado de choque e disse: venha conosco!

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