A Garganta da Serpente
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A lama e a bola

(Conrad Rose)

Foi num sábado. Logo de manhã, o céu já estava coberto de nuvens escuras com desenhos horripilantes, e pelo barulho, parecia ter uma baita confusão lá em cima. Depois do almoço, Afonsinho tocou a campainha. Eu pensava que ele já tinha desistido, mas o meu amigo era doente por futebol e jogava muito bem. Abri a porta e encontrei Afonsinho animadíssimo:

- Vamos! Na chuva é mais divertido ainda. - disse ele, com a bola embaixo do braço.

- E raio? - eu perguntei.

- Raio só cai longe.

- A mãe não vai deixar.

- Fuja. Eu fugi.

- Será? - eu pensei por segundos. - Tudo bem, espera aí fora.

Menos de um minuto e a gente já corria pro campo, que era de terra com traves de madeira. O pai do Tião guardava duas redes que nossa turma comprou, com a ajuda dos parentes e dos vizinhos.

Para jogar ali tinha que ter boa mira, porque se errasse o gol, a bola ia parar no mato e quem chutava é que ia buscar. Alguns moleques não chutavam no gol só para não ter que buscar a bola. Eu achava que jogar futebol sem fazer gol não era tão bom, por isso fui bastante vezes no mato, mas também fiz muitos gols e isso que era legal. Afonsinho fazia muitos mais e jogava sempre no meu time.

Assim que a partida começou, a chuva caiu forte. A terra foi virando barro e depois lama. Todos nós ficamos imundos. Era muito legal quando a bola parava em alguma poça. Espirrava água para todos os lados e encharcava o tênis. A bola ia ficando cada vez mais pesada.

Nosso time ganhava por três a um. Daí a mãe do Beto chegou e fez ele ir para casa. No dois ou um eu fui para o gol porque o Beto era nosso goleiro. Ainda dava para ouvir a bronca que o Beto levava e eu já me cobria de lama voando atrás da bola.

Ganhamos por seis a quatro. Depois do jogo, fomos tomar refrigerante e conversar sobre a partida. A lama começou a secar no corpo. Eu tinha riscos pretos embaixo das unhas e minha roupa estava toda molhada. E era hora do drama: chegar em casa.

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