Manhã de sábado. Dia sem sol nem chuva. Semifinais do campeonato
de futebol da escola. Todo mundo lá: pais, mães, parentes, vizinhos,
visitas e olheiros à procura de novos talentos.
Felipe havia jogado a primeira partida e seu time ganhou, classificando-se
para a grande final. Todo suado e ainda ofegante, sentou para observar o segundo
jogo, no qual o time de Rafael seu melhor amigo empatava em zero
a zero.
Sim, eles jogavam em equipes diferentes porque foram separados de turma na
metade do ano, tamanha a conversa. E como os treinamentos aconteciam durante
as aulas de educação física, cada um formou o seu time:
Flamengo Futebol Clube e Clube de Futebol do Flamengo.
Enfim, o jogo corria e nada de gol, indo assim até o apito final do
professor e árbitro. Felipe, que até então se encontrava
relaxadão de cansaço e eufórico pelo triunfo, sentiu um
aperto no peito ao ver que a decisão seria nos pênaltis. E outro
aperto maior quando o goleiro do amigo defendeu uma cobrança. Todos os
outros marcaram e chegou a vez de Rafael, para decidir.
Felipe inquietou-se. Se o amigo fizesse o gol, no próximo sábado
teria Flamengo contra Flamengo. Não que tivesse medo, mas seria muito
melhor se não houvesse a necessidade de enfrentar a equipe do companheiro.
Nem por isso se atreveu a torcer contra ele. Simplesmente deixou acontecer.
Rafael ajeitou a redonda, tomou desmedida distância e, ao soprar do apito,
desandou a correr. Bico! A bola subiu, bateu no travessão... e entrou(!),
escorrendo rede abaixo. O herói saiu em disparada, braços pro
alto, berrando para comemorar. Nisso, bateu os olhos em Felipe na arquibancada.
Este, sorriu desajeitado e estendeu o polegar ao amigo, que leu nos lábios
dele:
- Legal.
Rafael retribuiu de idêntica forma, antes de sumir debaixo dos outros
atletas que pularam sobre ele, afoitos e exultantes com o desfecho da partida.
O montinho da vitória.
Havia no ar a sensação de ganhar e perder, imprópria ao
sentimento que nutriam entre si. Era como se estivessem apaixonados pela mesma
garota. Alguém, certamente, sobraria. Teriam uma semana estranha.
A seguir Felipe sossegou, confortado na certeza de que o Flamengo já
havia se sagrado campeão.